Antônio Feliciano de Castilho – Aspectos biográficos
Texto publicado originalmente na revista "Lusitânia", em edição de 1929. Transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2018)
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Antônio
Feliciano de Castilho, primeiro Visconde de Castilho, está incluído no número
dos maiores poetas e prosadores de Portugal.
Foi um dos
grandes batalhadores, ao lado de Herculano e Garrett, para a reforma da
literatura portuguesa, por eles despertada do marasmo arcádico e
pseudoclássicos para a vida intensa e ardente do romantismo, e para o estudo do
povo e da sua história.
Castilho
ficara quase completamente cego desde a infância, mas o seu espírito soube,
apesar disso, adquirir forte cultura clássica e as suas belas faculdades de
poeta manifestaram-se com rara precocidade. As
Cartas de Eco a Narciso, A Noite do
Castelo, Os Ciúmes de Bardo, Amor e Melancolia, Escavações poéticas e O Outono são as mais célebres obras
poéticas originais, mas os seus maiores títulos de glória são, talvez, as suas
admiráveis traduções, em verso, de Anacreonte
(Lírica), de Virgílio (Geórgicas), de Ovídio (Fastos, Metamorfoses, Arte de Amar) e de
Molière (O Misantropo, O Avarento,
Tartufo, O Médico à Força e O Doente
da Cisma).
Escritos
numa linguagem puríssima, os seus trabalhos conservam-se como modelos de
elegância, de classicismo e de sentimento romântico contra as tendências
nefastas que se acentuam, dia a dia, para a destruição da língua portuguesa.
A infância
merecia-lhe o mais desvelado carinho e, pensando sempre como lhe poderia ser
útil, escreveu o Método Repentino,
que teve o seu nome e que veio a produzir uma funda revolução na maneira de
ensinar as crianças. Algumas gerações entoaram com entusiasmo esse Hino do Trabalho, que soava como uma
espécie de canto de guerra contra a ignorância e a preguiça, e era de ver como
dezenas de vozes infantis, vibrantes de entusiasmo, trêmulas de comoção,
atordoavam os ares com o "Trabalhai, meus irmãos, que o trabalho...” e iam pelas ruas acordar na alma do poeta,
com os seus cantares juvenis, uma alegria intensa e uma suprema consolação.
Liberal
convicto, não pouco sofreu pela propaganda das suas ideias políticas, mas,
escravo do ideal que escolhera, de tudo lhe fez sacrifício, não lhe regateando
nem a sua fortuna pessoal, que não era pequena, nem o seu talento, que era
enorme.
Revista “Lusitânia”, 16 de outubro de 1929.
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