Autor: Lord Byron (New Stead Abbey, 30 de outubro de 1808)
Tradutor: Sebastião Sette (São João del-Rei, 24 de dezembro de 1918)
Tradutor: Sebastião Sette (São João del-Rei, 24 de dezembro de 1918)
Transcrição e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2018)
Inscrição no túmulo
de um cão
O orgulhoso mortal tornando à fria terra,
Ainda mesmo sem glória além da alta linhagem
O artista esculpe a dor sobre a campa que o encerra,
Grava o nome do morto em pomposa ramagem.
Erguido o mausoléu, ostenta-se em letreiro
O que o extinto não fez, mas devia ter feito.
Mas o mísero cão, — constante companheiro,
Que festeja, defende, e é tão leal em seu preito
Ao amigo e senhor, e a ninguém mais, — o honrado
Cão que combate só pelo amor do seu dono,
Morre entregue ao olvido e na terra é lançado;
Tudo quando valeu se esvai no eterno sono.
Negam-lhe o próprio céu para a alma desta vida...
E tu queres perdão, mesquinho inseto humano!
Do céu para ti só reclamas a guarida,
Tu que és de uma hora só locatário indefeso
Sob o manto ou de escravo ou de torpe tirano.
Quem te conhece bem, condena- te ao desprezo,
Massa animada e ruim de argila degradada!
Tua amizade é embuste; o teu amor, luxúria;
Hipócrita o sorriso; e a palavra é cilada!
Dos outros animais és a vergonha, a injúria
És vil por natureza e só de nome és nobre!
— Visitantes passai por este monumento,
Podeis seguir além; ele os restos não cobre
Do morto que buscais na altura do lamento;
Para honrar a um amigo eu ergui esta lousa.
Na vida eu tive um só — É o co que aqui repousa.
Revista Fon-Fon, 1 de março de 1919.
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