Transcrição e atualização ortográfica: Iba Mendes (2018).
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Irineu Evangelista de Sousa, filho legítimo de João Evangelista de Sousa e de sua mulher D. Mariana de Sousa e Silva, nasceu a 28 de dezembro de 1813 na freguesia do Arroio Grande, distrito de Jaguarão, província de São Pedro do Rio Grande do Sul. No ano de 1822 veio para a corte concluir sua educação, estreando a sua carreira comercial ao ano de 1825 como caixeiro do negociante de fazendas Antônio José Pereira de Almeida.
Apesar de sua tenra idade, tanta aptidão mostrou para o comércio e por tal forma se houve no desempenho de seus deveres, que retirando-se o Sr. Almeida à vida privada quatro anos depois, não se esqueceu de recomendar o seu jovem caixeiro a um amigo que estava no caso de aproveitar os seus serviços. Em 1829, pois, entrou Irineu Evangelista de Sousa para a muito acreditada casa comercial de Ricardo Carruthers, o qual, reconhecendo logo as felizes disposições de que era dotado, comprazeu-se em auxiliá-lo a desenvolvê-las, encarregando-o pouco depois da direção da sua casa de comércio à qual o associou no dia 1º de janeiro de 1836, e deixando-o à testa dos seus negócios quando no ano seguinte se retirou para a Europa.
Desde essa época a casa de Carruthers e Cia., da qual Irineu Evangelista de Sousa era sócio-gerente, tornou-se uma das principais desta corte pelo elevado crédito que lhe granjeara a sua hábil direção. Para dar maior desenvolvimento ainda a suas operações comerciais, empreendeu Irineu Evangelista de Sousa em 1840 uma viagem à Europa, estabelecendo durante sua estada ali uma casa em Manchester sob a firma de Carruthers, de Castro e Cia.
Regressando ao Rio de Janeiro em 1841, casou-se a 11 de abril desse mesmo ano com sua sobrinha D. Maria Joaquina de Sousa, que, conjuntamente com toda a sua família, fora buscar ao Rio Grande em 1835. Querendo concorrer por sua parte para o progresso comercial da província onde nascera, estabeleceu no ano de 1845 uma casa no Rio Grande sob a firma de Carruthers Sousa e Cia. A atividade do seu espírito, porém, não se satisfez com tão pouco. No ano de 1846 fez a aquisição do belo estabelecimento de fundição e estaleiro da Ponta da Areia, elevando-o logo gradualmente da decadência em que se achava ao estado próspero e florescente que poucos anos depois o tornaram o primeiro estabelecimento desse gênero na América meridional. Nesse mesmo ano, tendo sido pelo corpo comercial do Rio de Janeiro eleito presidente da Comissão da Praça do Comércio, teve mercê do hábito de Cristo.
Em 1847, achando-se na cidade do Rio Grande, organizou ali a companhia rio-grandense de reboques a vapor, para facilitar o serviço da barra da província. Por decreto de 24 de janeiro de 1850, foi agraciado com o oficialato da Ordem da Rosa, na qual foi elevado a comendador em 15 de maio de 1851 em remuneração dos serviços prestados na confecção dos regulamentos para a execução do Código Comercial. Nesse ano fundou em Nova Iorque uma casa comercial sob a firma de Carruthers Dixon e Cia., e revertendo nessa época ao país os avultados cabedais empregados no tráfico do escravocrata, em virtude da cessação desse ilícito comércio, iniciou Irineu Evangelista de Sousa o espírito de associação entre nós organizando nesse mesmo ano de 1851 o Banco do Brasil que tão assinalados serviços prestou a esta praça e que três anos depois, pela sua fusão com o Banco Comercial, serviu de núcleo à instituição de crédito que hoje funciona com o mesmo título e para cuja fundação poderosamente concorreu Irineu Evangelista de Sousa.
Logo em seguida foram por ele criadas: a de navegação e comércio do Amazonas e a de diques flutuantes. Em 30 de abril de 1851, por ocasião da inauguração da primeira via férrea no Brasil, levada a efeito pelo seu gênio empreendedor, foi agraciado com o título de barão de Mauá. Em julho desse ano transferiu a propriedade do estabelecimento da Ponta da Areia a uma companhia que organizou e da qual é o principal acionista e administrador. Ainda nesse ano fundou nesta praça, com uma casa filial em Londres, a sociedade bancária em comandita sob a firma de Mauá Mac Gregor e Cia., que a despeito da injusta e desabrida guerra que por muito tempo sofreu, tem prosperado em bem dos interessados e da praça do Rio de Janeiro, que nela encontra sempre um poderoso auxiliar.
Em julho de 1856, estabeleceu uma casa bancária em Montevidéu sob a firma de Mauá e Cia., que muitos bons serviços já tem prestado ao comércio da República Oriental, a cujo governo por várias vezes e em épocas bem críticas acudira o nosso distinto patrício com empréstimos de seus capitais, promovendo ainda por esta forma os interesses do Império. Além destas empresas por ele mesmo criadas, o barão de Mauá tem concorrido com seus esforços, sua vasta inteligência e sua fortuna para a realização de todas quantas empresas de algum vulto existem no país.
Entre os concessionários da projetada estrada de ferro de São Paulo, figura ainda o nome do barão de Mauá, que pretende levar a efeito mais esse importante melhoramento por meio de capitais levantados em sua máxima parte fora do país. Nas últimas eleições para deputado, o círculo do Rio Grande resolveu unanimemente, em sinal do apreço em que tem o seu distinto comprovinciano, dar-lhe um lugar na Câmara temporária, na qual já tivera assento como suplente desde o ano de 1855. Ali por várias vezes se tem feito ouvir o nobre barão, sempre que se trata de questões comerciais, pugnando pelos direitos da classe a que pertence e sustentando diferentes medidas tendentes a beneficiar a indústria do país.
O barão de Mauá é membro honorário do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, tesoureiro do Hospício de Pedro II e sócio de muitas outras instituições de beneficência. Seu talento não vulgar e seus serviços, a amenidade do seu trato e sua nunca desmentida probidade tornam-no um dos caracteres mais distintos de que o Brasil com razão se pode ufanar.
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Fonte:
S.A. Sisson: Galeria dos Brasileiros Ilustres (1861). Iba Mendes Editor Digital, 2014.
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Fonte:
S.A. Sisson: Galeria dos Brasileiros Ilustres (1861). Iba Mendes Editor Digital, 2014.
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