Poetas Menores
Extraído do Livro "História da Literatura Brasileira", publicado no ano de 1916. Pesquisa, transcrição e atualização ortográfica: Iba Mendes (2018)
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Tais são estes poetas, os
principais da geração que, estreando pelos anos de 1850, viveu literariamente
até o fim da seguinte década e ainda além. Afora estes, poetaram, por esse
tempo, com ou sem livros publicados, Francisco Otaviano de Almeida Rosa
(1825-1889), José Bonifácio de Andrada e Silva (1827-1886), Aureliano José
Lessa (1828-1861), Bernardo Joaquim da Silva Guimarães (1827-1884), José
Alexandre Teixeira de Melo (1833-1907), José Joaquim Cândido de Macedo Júnior
(1842-1860) e outros de menor merecimento e reputação.
Francisco Otaviano e José
Bonifácio, chamado o Moço, para distingui-lo do seu tio do mesmo nome, o
patriarca da Independência, foram dois brilhantes poetas amadores, dois
insignes diletantes da poesia, e também, dois brilhantes espíritos, porventura dois
talentos de primeira ordem. Mas a sua vocação, se a vocação não é "senão a
incapacidade de falharmos às inclinações naturais do nosso espírito", não
eram as letras ou ao menos as letras praticadas com a assiduidade de uma
profissão. Com encantador e não vulgar estro poético, ambos, apenas esporádica
e ocasionalmente, poetaram. Esse dom, o exerceram antes como uma prenda de
sociedade, mais uma distinção a juntar às muitas que possuíam como políticos,
jornalistas, parlamentares, juristas, do que por necessidade do seu
temperamento literário. José Bonifácio, cuja obra poética esparsa contém
algumas obras-primas (O redivivo, Um pé,
Primus inter pares, A margem da corrente), publicou apenas, ainda em antes
que começasse esta geração, com a qual principalmente cantou, um pequeno
folheto de versos Rosas e goivos, em
1848. Francisco Otaviano versificou copiosa e elegantemente em jornais,
revistas e álbuns mulheris, fez primorosas traduções de Byron, deixou
admiráveis versos proverbiais, mas ao cabo nenhum volume por onde possamos
cabalmente apreciá-lo. Nem um, nem outro tiveram na nossa poesia a importância
a que os seus talentos lhes dariam direito incontestável e até os obrigavam;
ambos, porém, exerceram nela, ao menos no círculo dos poetas que puderam
conhecê-los e a sua dispersa produção, inegável influência. São antes dois
grandes nomes literários, algo lendários, que dois escritos notáveis.
Está exatamente nas mesmas
condições Pedro Luís Pereira de Souza (1839-1884). Também ele foi um poeta
brilhante, o precursor da inspiração política e social e do que depois se
chamou condoreirismo, na nossa poesia, político de relevo, jornalista,
conversador agradabilíssimo, segundo quantos o trataram, e homem do mundo de
rara sedução. Deixou meia dúzia de poemas, os melhores no tom épico (Os voluntários da morte, Terribilis Dea)
que todo o Brasil conheceu, recitou e admirou. Mas a sua obra dispersa de mero
diletante, se lhe criou um nome meio lendário como o de José Bonifácio e
Francisco Otaviano, não basta a assegurar-lhe um posto de primeira ordem na
nossa poesia.
Sem lhes ter a fama, valem acaso
mais para a história da nossa literatura Teixeira de Melo, Aureliano Lessa e
principalmente Bernardo Guimarães. Teixeira de Melo, cujas Sombras e sonhos precederam as Primaveras de Casimiro de Abreu, e
que era um quase conterrâneo do poeta da alma triste, era também, como ele, de
seu natural melancólico. A sua tristeza nativa e o seu estro sofreram a
influência de Gonçalves Dias, mas por sua vez o seu lirismo não deixou de
influir no de Casimiro de Abreu, em que se encontram imagens e expressões de
poemas das Sombras e sonhos, e que epigrafou com versos destes poemas as suas Primaveras. Mas Teixeira de Melo, com desenganados
queixumes métricos da vida, cedo abandonou a poesia e burocraticamente, fazendo
bibliografia e erudição, viveu septuagenário. Como poeta, além de ser um
legítimo e estimável representante da poética da sua geração, foi um dos mais
corretos versificadores dela, devendo-lhe a arte do verso aqui as melhorias de
um alexandrino mais perfeito do que antes dele se fizera e de nas estrofes de
quatro versos rimá-los sempre alternadamente, o que antes só excepcionalmente
se fazia.
Aureliano Lessa, ligeiramente
mais objetivo que Álvares de Azevedo, e de um sentimento menos profundo que
qualquer dos poetas desta geração, nem assim lhe escapa aos estigmas
característicos. Ao contrário, pertence-lhe por todas as feições da sua poesia,
sem que tenha nenhuma que particularmente o distinga. Destes poetas secundários
desta progênie, o maior, pela sua mais distinta fisionomia, pela cópia da sua
produção e ainda pelos quilates destas, é, sem dúvida, Bernardo Guimarães.
Este, aliás, pertence-lhe antes cronológica que literariamente, antes por ser
do mesmo tempo, ter vivido a vida de alguns deles, poetado conjuntamente com
eles, do que por paridade de sentimento ou estro com eles. Não há nos seus
poemas – e a sua produção foi uma das mais copiosas do tempo – nem o excessivo
subjetivismo, nem o mórbido sentimentalismo, nem a tristeza e dolência dos seus
companheiros de geração, e menos ainda a sua ardente voluptuosidade. É mesmo o
único deles que não é triste ou que sabe disfarçar a tristeza e mágoa, que às
vezes declara galhofando dos seus mesmos pesares ou expondo-os mais a sorrir
que a chorar, como preferiam fazer aqueles. É em todo o nosso romantismo o
único poeta alegre, o que versejou de coisas alegres e com inspiração e
intenção jovial. E versejou geralmente bem, se não com mais arte, com arte
diferente da dos seus companheiros e mais variada inspiração. É ele quem
reintegra o descritivo na poesia desta geração, que dela o tinha quase abolido.
O seu temperamento poético, principalmente considerado em relação à época em
que poetou (1858-1864), é mais clássico ou antes mais arcádico, que romântico;
não há ao menos nas suas manifestações as exuberâncias e menos os excessos de
emoção do Romantismo. Mas também não há o melhor da sua sensibilidade. Bernardo
Guimarães teve em seu tempo, e não sei se continuará a ter, mais nome como
romancista que como poeta. Não me parece de todo acertado este modo de ver.
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