A morte do feiticeiro
Pesquisa e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2018)
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Foi
como que um sinal.
Os
negros todos achegaram-se a Joaquim Cambinda; uns davam-lhe punhadas, outros
escarravam-lhe, outros atiravam-lhe areia nos olhos.
—
Peste do diabo! coisa ruim!
—
Feiticeiro do inferno!
—
Enforque-se já este demônio!
— O
melhor é queimar!
— Que
se que se queime! que se queime!
E
numa confusão horrorosa foram arrastando o desgraçado.
Ao
pé do paiol estava um montão de sapé seco e junto dele uma mesa velha de carro,
com uma roda só, desconjuntada, meio podre.
Em
um momento, amarraram o mísero sobre essa mesa apesar da resistência Iouca que
ele então procurou fazer a pontapés, a coices, a dentadas.
Trouxeram
sapé, aos feixes, encheram com ele o vão que ficava por baixo da mesa.
—
Querosene! gritou uma voz, tragam querosene.
Um
moleque correu ao engenho e de lá voltou com uma Iata quase cheia.
Um
preto tomou-lha, subiu à mesa do carro, começou a despejar petróleo sobre
Joaquim Cambinda: o líquido corria em fio farto, claro, transparente, com reflexos
azulados, resaltava do peito piloso do negro, da sua calva lustrosa, embebia-se-lhe
nas roupas imundas, misturado, confundido no suor que manava em camarinha.
Os
olhos do miserável revolviam-se sangrentos; seus dentes rangiam, ele bufava.
—
Fósforos! fósforos! quem tem fósforos? perguntou o preto, depois que esvaziou a
lata e que fez desaparecer Joaquim Cambinda sob um montão de sapé.
—
Eu! acudiu a negra que dera princípio ao motim, e estendeu-lhe uma caixa de fósforos.
O
preto saltou abaixo, tomou-a, abaixou-se, riscou um fósforo, protegeu-lhe a
chama com a mão em forma de concha, encostou-a ao sapé, junto do chão.
Ergueu-se
uma fumarada espessa, azul claro por cima, cor de ferrugem por baixo; a chama
cintilou em cumpridas línguas gulosas, lambeu, rodeou a mesa do carro, chegou
ao sapé de cima e ao corpo do negro. As roupas deste embebidas em petróleo, fizeram
uma como explosão, inflamaram-se repentinamente. Ele soltou um mugido rouco, sufocado,
retorceu-se frenético...
Tudo
desapareceu num turbilhão crepitante de fogo e de fumo.
As
faúlas voavam longe, o vento carregava a distâncias enormes as moinhas carbonizadas.
Sentia-se
um cheiro nauseabundo, de acre, chamusco, de gorduras fritas, de carnes sapecadas.
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