O macaco e o aluá
(Contos populares do Brasil – Sergipe)
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Um macaco, querendo uma vez fazer um aluá, mas não tendo dinheiro, foi à casa do amigo galo e pediu-lhe para este vender-lhe meia mão de milho, que ele o pagaria em tal dia e a tal hora. Obtendo a compra do milho, despediu-se e foi à casa da amiga raposa e pediu-lhe para esta vender-lhe a mesma quantidade de milho, marcando para pagamento do mesmo, o dia em que tinha também de pagar ao galo, sendo porém meia hora depois da marcada para este.
Da casa da raposa dirigiu-se o macaco para a morada do amigo cachorro, onde fez a mesma compra de milho, marcando para pagamento o mesmo dia designado para o galo e a raposa, porém meia hora depois.
Ainda não se achando satisfeito, foi à casa da onça, a qual por sua vez também vendeu-lhe o milho fiado, tendo o macaco dito antes de sair que ela fosse buscar o dinheiro no mesmo dia em que marcou para o galo, a raposa e o cachorro, porém meia hora depois.
Daí saiu o macaco muito satisfeito e foi para casa onde fez uma grande quantidade de aluá, guardando-o em um pote. Fez também de uns jiraus uma cama muito alta e deitou-se nela, amarrando a cabeça com um pano, fingindo estar doente.
No dia do pagamento bateu-lhe o galo na porta e, quando entrou, encontrou o macaco gemendo muito e dizendo que estava muito doente. Logo que o amigo galo descansou, mandou o macaco um menino servi-lo de aluá, do qual muito gostou o amigo galo.
Nisto bateu na porta a amiga raposa. O galo ficou muito assustado e com medo, então disse-lhe o macaco: “Não tem nada, compadre, esconda-se aí debaixo da cama.” O galo escondeu-se, e entrou a raposa, dizendo-lhe o macaco que estava muito doente e gemendo muito. Descansando a raposa, ofereceu-lhe o macaco o aluá de que ela se serviu, perguntando-lhe depois que tal o achava. Ela respondeu que estava muito bom, ao que disse o macaco: “Assim o achou o compadre galo.” Aí diz a raposa: “Oh! E este homem andou por aqui?” Respondeu-lhe o macaco: “Não, há muito que ele já foi”, e apontava para debaixo da cama mostrando o galo. Trava-se uma grande luta da raposa com o galo, sendo este comido por ela. Quando o macaco viu o barulho dos dois, gritava: “Ai, minha gente, não me acabem de matar.”
Nisto bateu na porta o amigo cachorro. Repetiu-se a mesma coisa, acabando ele por comer a raposa. Nesta ocasião entrou a amiga onça, que também serviu-se do aluá, e que depois, sabendo que o cachorro estava debaixo da cama, avançou para ele e o devorou. Acabada esta cena, foi a onça ajustar contas com o macaco, o qual negou-se a pagar-lhe, alegando que ela já lhe tinha comido o aluá, e que além disto estava mais com três animais na barriga.
A onça ficou muito furiosa e quis avançar para o macaco, mas este deu um pulo e trepou-se numa árvore. Ela, vendo que não o pegava, foi embora jurando vingar-se, e para isso preveniu todas as onças e reuniu-as perto de uma fonte, dizendo que não deixassem o macaco ir ali beber água. Este já estava morto de sede e, não podendo ir à fonte beber água, atirou-se sobre uma cabaça que um carreiro trazia em um carro, mas que em vez d’água vinha cheia de mel.
O macaco não desanimou; lambuzou-se todo de mel, foi adiante onde tinha muitas folhas secas e esfregou-se nestas. Ficando completamente transformado, dirigiu-se para a fonte, passando por todas as onças que o saudaram deste modo: “Adeus, amiga folhagem!”, ao que ele não respondeu. Chegando à fonte bebeu água a fartar-se e depois sacudiu todas as folhas que tinha no corpo e passou na carreira pelas onças gritando: “Piticau, piticau!...”
A onça, ainda mais furiosa com esta astúcia do macaco, abriu um grande buraco no lugar por onde ele sempre costumava passar, entrou para o tal buraco e mandou as outras cobri-la de terra, deixando apenas os olhos e os grandes dentes de fora. O macaco, que desconfiou da história, muniu-se de uma grande pedra e atirou com ela em cima dos dentes da onça, dizendo: “Nunca vi chão ter dentes”.
A onça morreu e o macaco continuou a fazer suas artes e estripulias.
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