O jabuti e a raposa
(Contos populares do Brasil – Sergipe. - Versão da lenda antecedente colhida entre os índios por Couto de Magalhães)
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Conta-se que o jabuti tinha uma frauta. Um dia ele estava tocando sua frauta, a raposa foi escutar e lhe disse: “Empresta-me esta frauta.” — “Eu não”, respondeu o jabuti; “para tu fugires com minha frauta...” A raposa disse: “Então toca para eu ouvir a tua frauta.” O jabuti tocou assim:
Finm fin, fin!
Culo fon, fin!
A raposa disse: “Como és tão formoso com a tua frauta, jabuti. Empresta-me um bocadinho.” O jabuti respondeu: “Pega lá! Agora não vá fugir com a minha frauta; se fugires, atiro-te com esta cera em cima.” A raposa tomou a frauta do jabuti, tocou e se pôs a dançar e achou muito bonito; depois largou-se na carreira com a frauta. O jabuti quis correr atrás; mas não pôde e voltou para o mesmo lugar onde estava, e disse: “Deixa-te estar, raposa! Não te dou muito tempo que eu não te apanhe.” O jabuti foi pelo mato afora, chegou perto do rio, cortou madeira para fazer uma ponte para passar; chegou à outra banda, trepou, cortou da árvore do mel, tirou o mel do pau, voltou para trás, chegou no caminho da raposa, encostou a cabeça no chão, pegou no pau de mel e untou com ele o traseiro. Daí a pouco a raposa chegou ali e olhou para aquela água, que parecia tão lustrosa e tão bonita. A raposa disse: “Ih!... que será isto?” Meteu o dedo, lambeu, e disse: “Ih... i... i...! Isto é mel.” Outra raposa observou: “Qual mel? Nada, aquilo é o traseiro do jabuti.”
A outra respondeu: — Quê! O traseiro do jabuti! Como é que isso é mel!...
Com a muita sede com que estava meteu a língua nele. O jabuti apertou o traseiro, e a raposa gritou:
— Deixa a minha língua, jabuti!
A outra disse: — É o que eu te disse. É o traseiro do jabuti; tu disseste: “Como é que isso é mel, então?”
O jabuti disse então: — Hã-hã! Foi o que eu disse a você, ou não? Cedo te apanhei. Dizem que tu, raposa, és muito esperta! Que é de minha frauta?
A raposa respondeu: “Não está aqui, não, jabuti!”
O jabuti respondeu: “Tu bem que a tens aí, dá-me já, senão te aperto mais.” A raposa não teve remédio senão restituir a frauta.
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