A raposa e a onça
(Versão da lenda antecedente, colhida entre os índios por Couto de Magalhães)
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
---
O sol secou todos os rios, e ficou só um poço com água. A onça então disse: “Agora sim; pilho a raposa, porque vou fazer-lhe espera no poço da água.” A Raposa, quando veio, olhou adiante e enxergou a onça; não pôde beber água, e foi-se embora, pensando como poderia beber.
Vinha uma mulher pelo caminho com um pote de mel a cabeça.
A Raposa deitou-se no caminho e fingiu-se morta; a mulher arredou-a e passou.
A Raposa correu pelo cerrado, saiu-lhe adiante ao caminho, e fingiu-se morta. A mulher arredou-a e passou adiante.
A Raposa correu pelo cerrado, e mais adiante fingiu-se morta. A mulher chegou e disse:
— Se eu tivesse apanhado as outras já eram três.
Arriou o pote de mel no chão, pôs a raposa dentro do paneiro, deixou-o aí, e voltou para trazer as outras raposas.
Então a raposa lambuzou-se no mel, deitou-se por cima das folhas verdes, chegou ao poço, e assim bebeu água.
Quando a raposa entrou na água e bebeu, as folhas se soltaram; a onça conheceu-a, mas quando quis saltar-lhe a raposa fugiu.
A raposa estava outra vez com muita sede, bateu num pé de aroeira, lambuzou-se bem na sua resina, espojou-se entre folhas secas, e foi para o poço.
A onça perguntou:
— Quem és?
— Sou o bicho folha-seca. A onça disse:
— Entra na água, sai, e depois bebe.
A raposa entrou, não lhe caíram as folhas, porque a resina não se derreteu dentro d’água; saiu e depois bebeu, e assim fez sempre até chegar o tempo da chuva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...