12/16/2017

A formiga e a neve (Conto), de Sílvio Romero


A formiga e a neve
(Contos populares do Brasil – Sergipe)

Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)

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Uma vez uma formiga foi ao campo e ficou presa num pouco de neve. Então ela disse à neve: “Ó neve, tu és tão valente que o meu pé prendes?” A neve respondeu: “Eu sou valente, mas o sol me derrete.” Ela foi ao sol e disse: “Ó sol, tu és tão valente que derretes a neve, a neve que meu pé prende?” O sol respondeu: “Eu sou valente, mas a nuvem me esconde.” Ela foi à nuvem e disse: “Ó nuvem, tu és tão valente que escondes o sol, o sol que derrete a neve, a neve que meu pé prende?” A nuvem respondeu: “Eu sou valente, mas o vento me desmancha.” Ela foi ao vento: “Ó vento, tu és tão valente que desmanchas a nuvem, a nuvem que cobre o sol, o sol que derrete a neve, a neve que meu pé prende?” — “Sou valente, mas a parede me faz parar.” Vai à parede: “Ó parede, tu és tão valente que paras o vento, o vento que desmancha a nuvem, a nuvem que esconde o sol, o sol que derrete a neve, a neve que meu pé prende?” — “Sou valente mas o rato me fura.” Foi ao rato: “Ó rato, tu és tão valente que furas a parede, a parede que para o vento, o vento que desmancha a nuvem, a nuvem que esconde o sol, o sol que derrete a neve, a neve que meu pé prende?” — “Sou valente, mas o gato me come.” Vai ao gato: “Ó gato, tu és tão valente que comes o rato, o rato que fura a parede, a parede que para o vento, o vento que desmancha a nuvem, a nuvem que esconde o sol, o sol que derrete a neve, a neve que meu pé prende?” — “Sou valente, mas o cachorro me bate.” Vai ao cachorro: “Tu és tão valente que bates no gato, que come o rato, que fura a parede, que para o vento, que desmancha a nuvem, que esconde o sol, que derrete a neve que meu pé prende?” — “Sou valente, mas a onça me devora.” Vai à onça: “Tu és tão valente que devoras o cachorro, que bate no gato, que come o rato, que fura a parede, que para o vento, que desmancha a nuvem, que esconde o sol, que derrete a neve que meu pé prende?” — “Eu sou valente, mas o homem me mata.” Vai ao homem: “Ó homem, tu és tão valente que matas a onça, que devora o cachorro, que bate no gato, que come o rato, que fura a parede, que para o vento, que desmancha a nuvem, que esconde o sol, que derrete a neve que meu pé prende?” — “Eu sou valente, mas Deus me acaba.” Foi a Deus: “Ó Deus, tu és tão valente que acabas o homem, que mata a onça, que devora o cachorro, que bate no gato, que come o rato, que fura a parede, que para o vento, que desmancha a nuvem, que esconde o sol, que derrete a neve que meu pé prende?” Deus respondeu: “Formiga, vai furtar.” Por isso é que a formiga vive sempre ativa e furtando.

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