Uma anedota
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Na legislatura passada, quando
chegavam ao auge as proezas e violências do Dudu e o seu amigo Pinheiro, foi um
dia anunciado que o Sr. I. Machado falaria. Os populares se moveram e, apesar
das ameaças dos cacetes e navalhas dos secretas e capangas, encheram as
galerias. O parlamentar tomou a palavra e, em breve, desandou uma formidável
catilinária em ambos.
Disse dos dois o que Mafoma não
dissera do toucinho.
O senhor Pinheiro Machado — pronunciou o orador em certo ponto do seu
discurso — está habituado a governar alimárias e pensa que o somos também.
Nero, aquela crueldade, feito imperador de Roma, também se picava do bom
cocheiro. A aproximação é eloquente... Não se compreende, senhor presidente,
que este povo brasileiro se deixe assim governar como uma parelha de caminhão;
que consinta que os mais baixos temperamentos de sua raça subam ao poder e deem
expansão às suas inclinações de magarefe, de almocreve e senhor de senzala.
Apesar dos capangas e dos
cacetes, os populares das galerias desandaram em palmas entusiásticas.
O orador continuou:
Senhor presidente, temos visto dominando povos a espada que vai à
guerra, a astúcia que domou as feras ao tempo que o homem era fraco diante da
força delas, a coragem, a inteligência, o saber, a beleza; mas nunca se viu
dominando, esmagando, comprimindo um povo, o laço do domador de potros
associado ao pontaço do sangrador dos matadouros. Era preciso que...
Houve palmas nas galerias, e o presidente
da Câmara, conforme tinha ameaçado anteriormente, mandou que os polícias
evacuassem as arquibancadas.
O orador continuou e terminou o
seu interessante discurso tão somente para os seus pares, para os gordos
funcionários da Câmara, sem esquecer no meio destes os serventes e contínuos.
Desceu da tribuna e foi muito
cumprimentado. Um dos deputados disse-lhe ao ouvido:
— Irineu, estiveste feroz com o
Pinheiro. Não é do trato... Ele fica zangado...
— Ora! Dirás a ele que não se
apoquente... Estamos nas vésperas da reeleição... É para uso externo.
— Assim mesmo, ele se aborrece.
— Qual! Eu já lhe tinha mandado
dizer que hoje ia dobrar a parada... Ele já está prevenido.
Separaram-se e ainda vieram até à
janela ver como os populares levavam pancada dos capangas, da polícia, a mais
não poder.
Houve quem dissesse:
— Este povo é muito burro...
— Por quê? Porque leva pancada?
— Não; porque acredita no Irineu.
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