
Resposta difícil
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
---
Rosto em fogo, cabelos em
desalinho, Dr. Atanásio, que acaba de entrar da rua, passeia nervosamente de um
lado para outro no seu gabinete de trabalho, agitando nas mãos crispadas uma
carta que acabara de receber no escritório, e que fora, para ele, uma punhalada
no coração. À sua frente, no canapé de couro escuro, tauxiado de prata polida,
a jovem D. Eleonora esconde a face lavada de lágrimas nas duas conchas das mãos
cor de neve, soluçando de vergonha e de susto no horror daquela situação.
— E dizer-se que eu confiava em
ti, tua honra, no teu amor, e que estava em São Paulo tranquilo, sereno, na
certeza de que procedias, aqui, com seriedade, com dignidade, com a correção
que me havias jurado, de joelhos, diante de Deus!... — geme, quase chorando, o
pobre esposo desesperado.
Madame procura, como um náufrago
na tormenta, uma frase com que inicie a desculpa impossível, mas o marido
atalha, agitado, com os olhos em chama, forçando-a a esconder, de novo, a
cabeça entre as mãos:
— Que vergonha, meu Deus! que
vergonha, agora, para mim!... Nunca mais, na minha vida, poderei levantar o
rosto diante desta sociedade, que conhece, que sabe, que testemunhou,
impassível, o teu crime, a lama que atiraste sobre o meu nome!...
Enfiando os dedos na cabeleira
grisalha, passadas largas, o notável advogado mede, cada vez mais nervoso, a
extensão do gabinete, cujos tapetes lhe abafam os passos, quando, de repente,
para, e reclama, cerrando os punhos:
— Confessa-me, afinal: quando foi
que aquele miserável, abusando da tua fraqueza, e aproveitando a minha
ausência, penetrou nesta casa?
Adivinhando nessa pergunta um
caminho para a reconciliação, D. Eleonora levanta o lindo rosto ensopado de
lágrimas, e, fixando os grandes olhos úmidos nos olhos ardentes do marido,
indaga, apenas, pronta para uma explicação:
— Qual?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...