11/10/2017

Represália (Conto), de Humberto de Campos


Represália

Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)

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Informado da maldade com que a Baronesa de São Bonifácio punira, na véspera, na chácara dos Peixoto Leroux, a tríplice viuvez da sua sobrinha, Madame Lilita Wilson, o almirante Ribas, tão famoso pela sua malícia irreverente, resolveu tomar uma desforra da linda titular, punindo-a pela perfídia com que se referira à sua encantadora amiguinha de outrora. E o lugar escolhido para a vindita foi a segunda mesa à direita, na Lalet, onde se acharam, frente a frente, ontem, à tarde, entre o desembargador Ataulfo e Me. Carvalho Gondra, a maravilhosa Anfitrite do norte e o velho tritão dos grossos mares do sul.

A palestra decorria brilhante e amável, quando o almirante, encontrando uma oportunidade feliz, observou, rindo, à Baronesa:

— É verdade; achei admirável aquela comparação da Lilita com os rios que mudam frequentemente de leito!

— Quem lhe contou isso? — estranhou a Baronesa, espantada, recuando o busto soberbo.

— O desembargador Abelardo, que a ouviu dos seus lábios.

— Indiscreto... — sussurrou a fidalga, num muxoxo, retomando a xícara.

O almirante precisava, porém, de uma vingança mais positiva, mais clara, mais ferina, e, sem deixar que a presa fugisse, mudando de assunto, volveu, impiedoso:

— A Baronesa sabe, porém, quando é que os rios mudam de leito?

A fidalga encarou-o, franzindo a testa magnífica, e ele, aproveitando o diálogo em que se distraiam os dois companheiros de mesa, fulminou-a, terrível, descendo os olhos pelo vestido significativamente frouxo:

— É quando engrossam... Compreendeu?

E, vendo-a empalidecer, alto, e risonho:

— Vossa excelência está se sentindo mal?

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