Projeto de lei
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Um belo dia, na Câmara dos
Deputados de certo país, um dos seus augustos e digníssimos representantes,
ergueu-se e pediu a palavra:
Meus senhores. A pátria está em
perigo; o Tesouro está exausto; os recursos da nação estão esgotados. Urge que
tomemos providências, a fim de evitar a bancarrota. O que mais pesa no nosso
orçamento são os funcionários públicos. É preciso acabar com essa chaga que
corrói o organismo do país. Eles podem muito bem ir plantar batatas. Se ainda
não fiz o mesmo, como aquele general romano chamado Cincinato, é porque não
arranjei algumas centenas de contos, para comprar uma fazenda rendosa, onde eu
pegasse a uma enxada e fosse agricultor.
Mas não há funcionário público
por aí que não o possa fazer.
É-lhes fácil obter isso, como me
é difícil, porquanto eu tenho relações com os banqueiros e eles não têm.
Devemos tirar da agricultura a base da nossa vida; é o que eu sempre aconselho
aos outros, a todos, principalmente àqueles que me pedem empregos.
Dizem que árdua é a vida, mas
isso é quando se trata de pequenos agricultores, para os quais não peço auxílio
algum. Sou pelos grandes latifúndios, pelas vastas propriedades, que podem
sustentar grandes famílias na opulência.
Sendo assim, tenho a honra de
apresentar à consideração dos meus pares o seguinte projeto de lei:
Art. 1º — É o governo autorizado
a emprestar aos bancos acreditados até à quantia de 200 mil contos, para
auxiliar os cultivadores de tâmaras.
Art. 2º — Revogam-se as
disposições em contrário.
O deputado sentou-se e foi muito
cumprimentado.
O projeto passou, o dinheiro foi
emprestado aos bancos, que, no prazo marcado, pagaram ao Estado em títulos do
próprio Estado, comprados na praça com abatimento de vinte por cento.
Ainda hoje, o deputado se gaba de
ter protegido o cultivo das tâmaras no país, que ele estima e venera.
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