O velho códice
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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O que os leitores vão ler é a
história de um desses amores sombrios, trágicos, quase medievais, cheirando
ainda a barbacã e a castelo ameiado; e de que, por uma singular recapitulação
histórica, na idade moderna, a América do Sul foi teatro ou que deu fim. Não é
desses nossos amores de hoje, convencionais e pautados; é o desprender de um
forte impulso d’alma irresistível e imenso.
Um velho códice manuscrito em
italiano dos meados do século XVIII conta-o; e, pelo apuro de sua forma e pela
luz que traz a um enigma da história da nossa pátria, merecia que o
transladássemos poupando-o o mais possível da irreverência de lhe dar uma forma
moderna que o desvigore sobremodo.
Consoante conselhos de altas
autoridades filológicas e literárias, ao português de Gusmão e Pitta, com
certeza coevos do autor dele, devíamos ir buscar o equivalente de sua fogosa
linguagem italiana; entretanto, não nos sobrando erudição para empresa de tal
monta, abandonamos o propósito.
Guardando no tom geral da versão
o falar moderno — embora imperfeito para exprimir paixões de dois séculos atrás
—, aqui e ali, procuramos numa frase, num boleio, ou numa exclamação daquelas
eras, tingir de leve a narração de um matiz arcaico.
O original é absolutamente
anônimo.
Nenhum sinal, indício, escudo
heráldico ou mote denuncia o autor.
Não obstante, uma emenda, traços
imperceptíveis fazem-nos crer que a mão que o traçou é de jesuíta.
Um “nós” riscado e precedendo “os
jesuítas” entre vírgulas, e a maneira familiar de que o códice fala das coisas
da ordem, levaram-nos a uma tal suposição.
Os leitores julguem.
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