O rico mendigo
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Não sei como vos conte a coisa. A
história passou-se em sonho, creio eu. Sonhei uma noite destas que tinha
encontrado na rua um senhor cheio de brilhantes, cheio de roupas, bengala de
castão de ouro, botinas das mais finas, que me estendeu a mão:
— Uma esmola, pelo amor de Deus!
Admirei-me de tal fato,
espantei-me e lhe dei a esmola. Ia seguir o meu caminho, quando o mendigo bem-vestido
me chamou e disse-me:
— Venha cá, por favor.
Voltei e ele me convidou a ir a
uma confeitaria. Houve da minha parte novo espanto. Como é que o homem me pedia
uma esmola, a mim, de recursos reduzidos, cheio de “encrencas” na vida, e,
minutos após, convidava-me a beber em uma confeitaria? Fui ao bar mais próximo
e ele, sem mais delongas, explicou-se:
— Deve o senhor admirar-se de que
eu, bem-vestido, com joias, com bengala de luxo, com um Patek no bolso, lhe
tivesse pedido uma esmola. Eu lhe explico.
Fez uma pausa, sorvemos alguns
goles de cerveja e continuou:
— Sou rico e digo isto a todo o
mundo. Moro em uma grande casa, tenho lindos e caros móveis, tenho alfaias,
tenho carros, tenho numerosa criadagem, tenho um banheiro que é uma verdadeira
terma romana e custeio tudo isto sem o menor esforço; mas peço esmolas.
— Por quê?
— Porque quero ganhar mais e
mais. Peço até aos meus irmãos mais pobres, mesmo àqueles que vivem com
dificuldades. Quero sempre ter mais, ganhar mais, para proclamar a todos a
minha riqueza; e as esmolas me servem para as despesas miúdas. Às vezes até,
elas me proporcionam especulações felizes.
— Mas quem é o senhor?
— Não sabe? Eu sou o Café.
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