O reconhecimento
(Contos argelinos)
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
A organização política do
Al-Patak não é assim tão absoluta como se pode supor. Em tese, o sultão tem
todos os poderes, mas devido à tradição, à liberalidade de alguns soberanos, o
reino possui tribunais e juízes independentes, que decidem soberanamente sobre
os assuntos que lhes são afetos.
Além disto, Al-Patak possui uma
espécie de parlamento — o Divã — que representa ao rei sobre as necessidades
dos povos.
Cada província, conforme a
população, dá um certo número de representantes, que o são durante alguns anos,
uns durante mais anos e outros menos.
Logo que Abu-al-Dhudut usurpou o
trono, tratou de reformar essa espécie de conselho de Estado.
Não há quem não queira fazer
parte dele, não só pelos vencimentos que percebem os seus membros, como também
pelos presentes que recebem, graças à influência que possuem, podendo obter dos
soberanos tudo o que desejam.
O príncipe irmão de Abu-al-Dhudut
foi logo eleito membro do Divã e feito chefe dele.
Sendo homem esperto e sagaz,
conhecendo perfeitamente os desejos de todos os habitantes de Al-Patak de
pertencerem ao famoso conselho, tratou de regular a entrada nele, ao jeito mais
propício aos seus interesses.
Com este, negociava isto; com
aquele, barganhava aquilo.
Ia fazendo o seu negócio, quando
se tratou do reconhecimento de Sidi Pen-ben-forte. Tinha sido esse ulemá juiz
durante muito tempo, de forma que conhecia o irmão do sultão, quando advogava.
O seu direito à entrada no Divã
era inconcusso, mas o príncipe queria dez mil piastras para tornar efetivo o
seu direito.
Pen-ben-forte não esteve pelos
autos e lembrou a Sua Alteza o fato de ter ele obtido, revelando uma sentença dele,
Sidi, dinheiro ao mercador — sentença mais tarde reformada.
Pen-ben-forte tinha disso
documentos e prometeu publicá-los, se não entrasse no Divã.
Não é preciso contar mais; basta
dizer que o antigo juiz entrou e foi reconhecido membro do Conselho.
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