11/21/2017

O Pinto Borrachudo (Conto), de Adolfo Coelho


O Pinto Borrachudo
  
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)

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Era uma vez um pinto borrachudo que andava a esgravatar num monte de terra e achou lá uma bolsa de moedas e disse:

— Vou levar esta bolsa ao rei.

Pôs-se a caminho com a bolsa no bico; mas, como tivesse de atravessar um rio e não pudesse, disse:

— Ó rio, arreda-te para eu passar!

Mas o rio continuou a correr e ele bebeu a água toda.

Foi mais para diante e viu uma raposa no caminho e disse-lhe:

— Deixa-me passar!

Como a raposa não se moveu, comeu-a.

Foi andando e encontrou um pinheiro e disse-lhe:

— Arruma-te para eu passar.

Como ele não se arrumasse, engoliu-o.

Mais adiante encontrou um lobo e comeu-o; depois encontrou uma coruja e fez-lhe o mesmo. Chegado ao palácio do rei, disse que lhe queria falar e entregou-lhe a bolsa das moedas e o rei ordenou logo que o metessem na capoeira das galinhas e que o tratassem muito bem. O borrachudo, logo que ali se viu, começou a cantar:

— Qui qui ri qui!
Minha bolsa de moedas
Quero para aqui!

E como visse que lha não levavam, lançou a raposa que tinha engolido, e ela comeu as galinhas todas.

Foram dar parte ao rei do sucedido e ele ordenou que metessem o borrachudo dentro da cantoneira. Cumpriram-se as ordens, mas o borrachudo continuou sempre a cantar:

— Qui qui ri qui!
Minha bolsa de moedas
Quero para aqui!

Depois, como não lhe levassem o dinheiro, lançou o pinheiro e os copos da cantoneira foram todos quebrados.

Então o rei ordenou que metessem o borrachudo na cavalariça, e ele sempre cantando:

— Qui qui ri qui!
Minha bolsa de moedas
Quero para aqui!

Lançou fora o lobo e o lobo comeu os cavalos. O rei mandou então que o metessem no pote do azeite, mas ele lançou lá a coruja e ela bebeu o azeite.

Então o rei, não sabendo já o que havia de fazer, mandou que aquecessem o forno e que metessem lá o borrachudo; mas ele, mesmo dentro do forno, começou a gritar:

— Qui qui ri qui!
Minha bolsa de moedas
Quero para aqui!

E foi lançando a água do rio que tinha bebido; e já o palácio do rei estava a afundar-se, quando o rei ordenou que fossem levar a bolsa de moedas ao borrachudo e o mandassem embora, antes que ele lançasse o rio todo.

E lá se foi embora outra vez o borrachudo com a bolsa de moedas no bico.

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