O peso da ciência
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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De todos os meus professores — e
eu os tive muitos — só dois deixaram sob minha alma uma impressão indelével. A
minha professora primária. Uma moça clara, de olhos azuis, de quem emprestei
alguma timidez e o meu professor de história universal. Os dois juntos, nas
minhas impressões da meninice, se completam, entretanto as suas duas figuras
vivas são disparatadas. Era meu professor de história um preto, um negro,
diga-se, alto, magro, picado de bexigas. Tinha de tal forma a pele negra, que o
apuro de sua roupa branca e o asseio de seu corpo, mais realçavam a cor
lustrosa. De mais, uma dor contida dá-lhe ao semblante um não sei quê de doido
que instintivamente me levou a simpatizar com ele. Às vezes com um grande sol
alto, quente e olímpico, o meu professor chegava ao meio-dia embrulhado num
capote. Quase sempre explicava a razão disso. Saía de manhã cedo, não se queria
resfriar para dar aula longe, eu amava-as, e não tendo tempo de voltar à casa,
carregava aquele forte capote. Sempre, antes de começar a lição citava um caso,
embrulhava com reminiscência sua, e acabava pessimisticamente como remarques à República, ao Brasil, às
suas coisas e aos seus homens. Perdido um quarto de hora com isso, meu saudoso
professor encetava a lição. Foi pela quarta ou quinta lição que eu me prendi a
ele. Tratava-se da divisão de raça.
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