O ideal
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Assim que Irene soube que a sua
amiga Inês se havia casado, imaginou logo que o tivesse feito com um grande
poeta, uma jovem notabilidade.
Irene estava em Paris há muitos
anos e raramente se correspondia com sua amiga, de forma que não podia fazer um
juízo certo de quem fosse o marido de Inês.
Entretanto, sabia aquela das
ideias de casamento de sua antiga colega. No colégio em que ambas cursaram,
quando tratavam desse assunto palpitante para o coração das
moças — o casamento —, era hábito de Inês dizer à amiga:
— Eu me hei de casar com um
grande poeta. Ao que a amiga respondia:
— Esta gente não serve para
marido; são estroinas, volúveis...
— Qual! Nem todos... E mesmo que
assim seja, eu quero que o meu nome corra mundo junto ao nome do meu marido...
Moça feita, Inês sempre se
interessou por essas coisas de letras e seguia todos os poetas que surgiam, com
vagar, ardor e uma ingênua admiração.
Conferência deste ou daquele não
era anunciada que lá não estivesse; aos salões da literatura elegante e
decorativa, estava sempre presente.
Muitos esperaram dela uma
literata e houve um ironista que a crismou mesmo de próxima futura poetisa
ou... romancista.
Tudo isto fez ver à sua amiga
Irene que ela se houvesse casado com um jovem poeta de grande talento.
Aconteceu que o marido desta
última, com medo dos azares da guerra, deixasse a sua residência em Paris e
viesse para o Rio.
Logo que as duas se avistaram,
Irene imediatamente perguntou pressurosa:
— Já vi que o teu marido é um
grande poeta.
— Não; é campeão do football.
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