O gato e o passarinho
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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A encantadora Palmirinha Camargo
havia concluído o seu curso de datilografia na Escola Remington, quando, uma
tarde, participou, contente, a Dona Brasília:
— Sabe, mamãe, arranjei um
emprego excelente. O ordenado é de trezentos mil réis!
A bondosa senhora deixou a
costura, endireitou os óculos, e, chamando a filha para perto de si, ordenou:
— Senta aí. E onde é esse
emprego?
A moça, risonha e inocente,
explicou:
— É no escritório do Dr.
Alexandre.
— E quem é esse Dr. Alexandre? É
aquele que esteve, outro dia, no baile da Violeta?
Palmirinha confirmou, ingênua, e
Dona Brasília, tomando-lhe as, mãos, retorquiu, sensata:
— Queres que te fale com
franqueza, minha filha? Esse emprego não te convém.
A menina fixou com os seus
grandes olhos claros e puros a doçura do rosto materno, e a boa senhora
continuou:
— Tu és uma jovem inexperiente, um
anjo que não conhece os espinhos do mundo. O Dr. Alexandre é um moço esperto,
um homem habituado a lidar com as fraquezas alheias. Se se tratasse de um
escritório grande, de uma casa em que trabalhassem outras moças ou outros
advogados, eu não teria receio; mas, assim, com ele e tu, sozinhos, no
escritório, o meu coração não poderia ficar descansado.
— Oh, mamãe! — estranhou a moça,
corando. — A senhora não tem confiança em mim?
Dona Brasília compreendeu a
ofensa que fizera àquele pedaço do seu coração, e, para não insistir, atalhou:
— Tenho, minha filha, tenho toda
a confiança em ti.
E concordou, beijando-a nos
olhos:
— Está bem, vai. Amanhã, podes ir
para o teu novo emprego.
A moça pulou, contente, beijando
sofregamente a testa, a cabeça, a face, a boca e os olhos maternos, e, à noite,
ia recolher-se, quando D. Brasília chamou:
— Palmira?
— Senhora! — acudiu a, mocinha.
Bondosa e grave, a digna senhora
pediu:
— Traze daí a gaiola do teu
canário.
A moça foi à copa, e voltou com a
gaiola, onde um canarito dormia, sossegado, muito encolhido, muito amarelo.
D. Brasília abriu a portinhola
daquele carcerezinho de ouro, e, indo à cozinha, voltou com o gato na mão.
— Para que é isso, mamãe? —
indagou a moça, espantada.
Para meter na gaiola, com o
canário.
— Oh, mamãe! — gemeu a mocinha,
horrorizada.
— Que mal faz? — indagou D.
Brasília, sorrindo significativamente para a filha. Tu não tens confiança no
teu canário?
Palmirinha compreendeu o alcance
da lição, e atirou-se nos braços maternos, prometendo, entre soluços:
— Eu não irei, minha mãezinha;
deixe estar, eu não irei!
E não foi. No dia seguinte,
contrariando as esperanças do gato, o canário amanheceu feliz e simples,
cantando na sua gaiola...
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