Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Viajam de bonde silenciosamente.
Devia ser quase uma hora, pois o veículo já se enchia do público especial dos
domingos.
Eram meninas do povo envolvidas
nos seus vestidos empoados com suas fitinhas cor-de-rosa ao cabelo e o leque
indispensável; eram as baratas casemiras claras dos ternos, ; eram as velhas
mães, prematuramente envelhecidas com a maternidade frequente, a acompanhar a
escadinha dos filhos, ao lado dos maiores, ainda moços, que fumavam os mais
compactos charutos do mercado — era dessa gente que se enchia o bonde e se via
pelas calçadas em direção aos jardins, aos teatros em matiné, aos arrabaldes e às praias.
Era enfim o povo, o povo
variegado da minha terra. As napolitanas baixas com seus vestidos de roda e
suas africanas, as portuguesas coradas e fortes, caboclas, mulatas e pretas —
era tudo sim preto, às vezes todos exemplares em bando, às vezes separados, que
a viagem de bonde me deu a ver.
E muito me fez meditar o seu
semblante alegre, a sua força prolífica, atestada pela cauda de filhos que
arrastavam, a sua despreocupação nas anemias que havia, em nada significando a
preocupação de seu verdadeiro estado — e tudo isso muito me obrigou a pensar
sobre o destino daquela gente.
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