O Caso do Romualdo
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Um dia, de manhã, D. Maria Soares, que estava
em casa, descansando de um baile para ir a outro, foi procurada por D. Carlota,
companheira antiga de colégio, e sócia agora da vida elegante. Considerou isso
um benefício do acaso, ou antes um favor do céu, com o fim único de lhe matar
as horas aborrecidas. E merecia esse favor, pois de madrugada, ao voltar do
baile, não deixou de cumprir as rezas do costume, e, logo à noite, antes de ir
para o outro, não deixará de persignar-se. D. Carlota entrou. Ao pé uma da
outra pareciam irmãs; a dona da casa era, talvez, um pouco mais alta, e tinha
os olhos de outra cor; eram castanhos, os de D. Carlota pretos. Outra
diferença: esta era casada, D. Maria Soares, viúva: — ambas possuíam alguma
coisa, e não chegavam a trinta anos; parece que a viúva contava apenas vinte e
nove, posto confessasse vinte e sete, e a casada andava nos vinte e oito.
Agora, como é que uma viúva de tal idade, bonita e abastada, não contraía
segundas núpcias é o que toda a gente ignorou sempre. Não se pode supor que
fosse fidelidade ao morto, pois é sabido que ela não o amava muito nem pouco;
foi um casamento de arranjo. Talvez não se pode crer que lhe faltassem
pretendentes; tinha-os às dúzias.
— Você chegou muito a propósito, disse a
viúva a Carlota; vamos falar de ontem... Mas que é isso? que cara é essa?
Na verdade, a cara de Carlota trazia impressa
uma tempestade interior; os olhos faiscavam, e as narinas moviam-se deixando
passar uma respiração violenta e colérica. A viúva insistiu na pergunta, mas a
outra não lhe disse nada; atirou-se a um sofá, e só no fim de uns dez segundos,
proferiu algumas palavras que explicaram a agitação. Tratava-se de um arrufo,
não briga com o marido, por causa de um homem. Ciúmes? Não, não, nada de
ciúmes. Era um homem, com que ela antipatizava profundamente, e que ele queria
fazer amigo da casa. Nada menos, nada mais, e antes assim. Mas por que é que
ele queria relacioná-lo com a mulher?
Custa dizê-lo: ambição política. Vieira quer
ser deputado por um distrito do Ceará, e Romualdo tem ali influência, e trata
de fazer vingar a candidatura do amigo. Então este, não só quer metê-lo em casa
— e já ali o levou duas vezes — como tem o plano de lhe dar um jantar solene,
em despedida, porque o Romualdo embarca para o Norte dentro de uma semana. Aí
está todo o motivo do dissentimento.
— Mas, Carlota, dizia ele à mulher, repara
que é a minha carreira. Romualdo é trunfo no distrito. E depois não sei que
embirração é essa, não entendo...
Carlota não dizia nada; torcia a ponta de uma
franja. — O que é que achas nele?
— Acho-o antipático, aborrecido...
— Nunca trocaram mais de oito palavras, se
tanto, e já o achas aborrecido!
— Tanto pior. Se ele é aborrecido calado,
imagina o que será falando. E depois...
— Bem, mas não podes sacrificar-me alguma
coisa? Que diabo é uma ou duas horas de constrangimento, em benefício meu? E
mesmo teu, porque, eu na Câmara, tu ficas sendo mulher de deputado, e pode ser...
quem sabe? Pode ser até que de ministro, um dia. Desta massa é que eles se fazem.
Vieira gastou uns dez minutos em sacudir
diante da mulher as pompas de um grande cargo, uma pasta, ordenanças, fardão
ministerial, correios do paço, e as audiências, e os pretendentes, e as
cerimônias... Carlota não se abalava. Afinal, exasperada, fez ao marido uma
revelação.
— Ouviu bem? O tal seu amigo persegue-me com
os olhos de mosca morta, e das oito palavras que me disse, três, pelo menos,
foram atrevidas.
Vieira ficou alguns instantes sem dizer nada;
depois começou a mexer com a corrente do relógio, afinal acendeu um charuto.
Estes três gestos correspondiam a três momentos do espírito. O primeiro foi de
pasmo e raiva. Vieira amava a mulher, e, por outro lado, cria que os intuitos
do Romualdo eram puramente políticos. A descoberta de que a proteção da
candidatura tinha uma paga, e paga adiantada, foi para ele um assombro. Veio
depois o segundo momento, que foi o da ambição, a cadeira na Câmara, a
reputação parlamentar, a influência, um ministério... Tudo isso atenuou a
primeira impressão. Então ele perguntou a si mesmo, se, estando certo da
mulher, não era já uma grande habilidade política explorar o favor do amigo, e
deixá-lo ir-se de cabeça baixa. Em rigor, a pretensão do Romualdo não seria
única; Carlota teria outros namorados in
petto. Não se havia de brigar com o mundo inteiro. Aqui entrou o terceiro
momento, o da resolução. Vieira determinou-se a aproveitar o favor político do
outro, e assim o declarou à mulher, mas começou por dissuadi-la.
— Pode ser que você se engane. As moças
bonitas estão expostas a serem olhadas muita vez por admiração, e se cuidarem
que já isso é amor, então nem podem mais aparecer. Carlota sorriu com desdém.
— As palavras? disse o marido. Não podiam ser
palavras de cumprimento? Podiam, decerto...
E, depois de um instante, como lhe visse
persistir o ar desdenhoso:
— Juro que se tivesse a certeza do que me
dizes, castigava-o... Mas, por outro lado, é justamente a vingança melhor;
faço-o trabalhar, e... justamente! Querem saber uma coisa? A vida é uma
combinação de interesses... O que eu quero é fazer-te ministra de Estado, e...
Carlota deixou-o falar, à toa. Como ele
insistisse, ela prorrompeu e disse-lhe coisas duras. Estava sinceramente
irritada. Gostava muito do marido, não era loureira, e nada podia agravá-la mais
do que o acordo que o marido procurava entre a conveniência política e os
sentimentos dela. Ele, afinal, saiu zangado; ela vestiu-se e foi para a casa da
amiga.
Hão de perguntar-me como se explica que,
tendo mediado algumas horas, entre a briga e a chegada à casa da amiga, Carlota
ainda estava no grau agudo da exasperação. Respondo que em alguma coisa há de
uma moça ser faceira, e pode ser que a nossa Carlota gostasse de ostentar os
seus sentimentos de amor ao marido e de honra conjugal, como outras mostram de
preferência os olhos e o método de mexer com eles. Digo que pode ser; não
afianço nada.
Ouvida a história, D. Maria Soares concordou
em parte com a amiga, em parte com o marido, posto que, realmente, só
concordasse consigo mesma, e acreditasse piamente que o maior desastre que
podia suceder a uma criatura humana, depois de uma noite de baile, era
entrar-lhe em casa uma questão daquelas.
Carlota tratou de provar que tinha razão em
tudo, e não parcialmente; e a viúva diante da ameaça de maior desastre, foi
admitindo que sim, que afinal quem tinha toda a razão era ela, mas que o melhor
de tudo era deixar andar o marido.
— É o melhor, Carlota; você não está certa de
si? Pois então deixe-o andar... Vamos nós à Rua do Ouvidor? ou vamos mais
perto, um passeiozinho...
Era um meio de acabar com o assunto; Carlota
aceitou, D. Maria foi vestir-se, e daí a pouco saíram ambas. Vieram à Rua do
Ouvidor, onde não foi difícil esquecer o assunto, e tudo acabou ou ficou
adiado. Contribuiu para isso o baile da véspera; a viúva alcançou finalmente
que falassem das impressões trazidas, falaram por muito tempo, esquecidas do
resto, e para não voltar logo para a casa, foram comprar alguma coisa a uma
loja. Que coisa? Nunca se soube claramente o que foi; há razões para crer que
foi um metro de fita, outros dizem que dois, alguns opinam por uma dúzia de
lenços. O único ponto liquidado é que estiveram na loja até quatro horas.
Ao voltar para casa, perto da Rua Gonçalves Dias,
Carlota disse precipitadamente à amiga:
— Lá está ele!
— Quem?
— O Romualdo.
— Onde está?
— É aquele de barbas grandes, que está
coçando o queixo com a bengala, explicou a moça olhando para outra parte.
D. Maria Soares relanceou os olhos pelo grupo,
disfarçadamente, e viu o Romualdo. Não ocultou a impressão; confessou que era,
na verdade, um sujeito antipático; podia ser trunfo em política; em amor, devia
ser carta branca. Mas, além de antipático, tinha um certo ar de matuto, que não
convidava a amá-lo. Elas foram andando, e não escaparam ao Romualdo, que vira
Carlota e veio cumprimentá-la, afetuoso, posto que também acanhado;
perguntou-lhe pelo marido, e se ia naquela noite, ao baile, disse também que o
dia estava fresco, que tinha visto umas senhoras conhecidas de Carlota, e que a
rua parecia mais animada naquele dia do que na véspera. Carlota foi respondendo
com palavras frouxas, entre dentes.
— Exagerei? perguntou ela à viúva no bonde.
— Qual exageraste! O sujeito é insuportável,
acudiu a viúva; mas, Carlota, não te acho razão na zanga. Pareces criança! Um
sujeito assim não faz zangar ninguém. A gente ouve o que ele diz, não lhe
responde nada, ou fala do sol e da lua, e está acabado; é até um divertimento.
Já tive muitos do mesmo gênero...
— Sim, mas não tens um marido que...
— Não tenho, mas tive; o Alberto era do mesmo
gênero; eu é que não brigava, nem lhe revelava nada; ria-me. Faze a mesma
coisa; vai rindo... Realmente, o sujeito tem um olhar espantado, e quando sorri
fica mesmo com uma cara de poucos amigos; parece que sério é menos carrancudo.
— E é...
— Bem vi que era. Ora zangar-se a gente por
tão pouca coisa! Demais, ele não vai embora esta semana? Que te custa
suportá-lo?
D. Maria Soares tinha aplacado inteiramente a
amiga; enfim, o tempo e a rua perfizeram a melhor parte da obra. Para o fim da
viagem, riam ambas, não só da figura do Romualdo, mas também das palavras que
ele dissera a Carlota, as tais palavras atrevidas, que não ponho aqui por não
haver notícia exata delas; estas, porém, confiou-as à viúva, não as tendo dito
ao marido. A viúva opinou que elas eram menos atrevidas que burlescas. E ditas
por ele deviam ser ainda piores. Era mordaz esta viúva, e amiga de rir e
brincar como se tivesse vinte anos.
A verdade é que Carlota voltou para casa
tranquila, e disposta ao banquete. Vieira, que esperava a continuação da luta,
não pôde encobrir o contentamento de a ver mudada. Confessou que ela tinha
razão em mortificar-se, e que ele, se não estivessem as coisas em andamento,
abriria mão da candidatura; já o não podia fazer sem escândalo.
Chegou o dia do jantar, que foi esplêndido,
assistindo a ele vários personagens políticos e outros. De senhoras, apenas
duas, Carlota e D. Maria Soares. Um dos brindes de Romualdo foi feito a ela; —
um longo discurso, arrastado, cantado, assoprado, cheio de anjos, de um ou dois
sacrários, de caras esposas, acabando
tudo por um cumprimento ao nosso venturoso amigo. Vieira interiormente mandou-o
ao diabo; mas, levantou o copo e agradeceu sorrindo.
Dias depois, seguia Romualdo para o Norte. A
noite da véspera foi passada em casa do Vieira, que se desfez em demonstrações
de aparente consideração. De manhã, levantou-se este cedo para ir a bordo,
acompanhá-lo; recebeu muitos cumprimentos para a mulher, à despedida, e
prometeu que daí a pouco iria ter com ele. O aperto de mão foi significativo;
um tremia de esperanças, outro de saudades, ambos pareciam pôr naquele arranco
final todo o coração, e punham tão-somente o interesse, — ou de amor ou de
política, — mas o velho interesse, tão amigo da gente e tão caluniado.
Pouco tempo depois, seguiu o Vieira para o
Norte, a cuidar da eleição. As despedidas foram naturalmente chorosas, e por
pouco, esteve Carlota disposta a seguir também com ele; mas a viagem não duraria
muito tempo, e depois, ele teria de percorrer o distrito, cuidar de coisas que
tornavam difícil a condução da família.
Ficando só, Carlota cuidou de matar o tempo,
para torná-lo mais curto. Não foi a teatros nem bailes; mas visitas e passeios
eram com ela. D. Maria Soares continuava a ser a melhor das companheiras, rindo
muito, reparando em tudo, e mordendo sem piedade. Naturalmente, o Romualdo foi
esquecido; Carlota chegou mesmo a arrepender-se de ter ido confiar à amiga uma
coisa, que agora lhe parecia mínima. Demais, a ideia de ver o marido deputado,
e provavelmente ministro, começava a dominá-la, e a quem o deveria, senão ao
Romualdo? Tanto bastava para não torná-lo odioso nem ridículo. A segunda carta
do marido confirmou-a nesse sentimento de indulgência; dizia que a candidatura
tinha esbarrado num grande obstáculo, que o Romualdo destruíra, graças a um
imenso esforço, em que até perdeu um amigo de vinte anos.
Tudo caminhou assim, enquanto Carlota, aqui
na corte, ia matando o tempo, segundo ficou dito. Já disse também que D. Maria
Soares ajudava-a nessa empresa. Resta dizer, que não sempre, mas às vezes,
tinham ambas um parceiro, que era o Dr. Andrade, companheiro de escritório do
Vieira, e encarregado de todos os seus negócios, durante a ausência. Este era
um advogado recente, vinte e cinco anos, não deselegante, nem feio. Tinha
talento, era ativo, instruído, e não pouco sagaz, em negócios do foro; para o
resto das coisas, conservava a ingenuidade primitiva.
Corria que ele gostava de Carlota, e mal se
compreende um tal boato, pois a ninguém confiou nada, nem mesmo a ela, por
palavras ou obras. Pouco ia lá; e quando ia procedia de modo que não desse azo
a nenhuma suspeita. É certo, porém, que ele gostava dela, e muito, e se nunca
lho declarou, menos o faria agora. Evitava até ir lá; mas Carlota convidou-o
algumas vezes a jantar, com outras pessoas; D. Maria Soares, que o viu ali,
também o convidou, e foi assim que ele achou-se mais vezes do que pretendia em
contato com a senhora do outro.
D. Maria Soares desconfiou previamente do
amor do Andrade. Era um dos seus princípios desconfiar dos corações de vinte e
cinco a trinta e quatro anos. Antes de ver nada, suspeitou que o Andrade amava
a amiga, e só tratou de ver se a amiga lhe correspondia. Não viu nada; mas
concluiu alguma coisa. Então considerou que esse coração abandonado, tiritando
de frio na rua, podia ela recebê-lo, agasalhá-lo, dar-lhe o principal lugar,
numa palavra, casar com ele. Pensou nisto um dia; no dia seguinte, acordou
apaixonada. Já? Já, e explica-se. D. Maria Soares gostava da vida brilhante,
ruidosa, dispendiosa, e o Andrade, além das outras qualidades, não viera a este
mundo sem uma avó, nem esta avó se deixara viver até aos setenta e quatro anos,
na fazenda sem uns oitocentos contos. Constava estar na dependura; e foi a
própria Carlota que lho disse a ela.
— Parece que até já está pateta.
— Oitocentos contos? repetiu D. Maria Soares.
— Oitocentos; é uma boa fortuna.
D. Maria Soares olhou para um dos quadros que
Carlota tinha na saleta: uma paisagem da Suíça. Bela terra é a Suíça! disse
ela. Carlota admitiu que o fosse, mas confessou que preferia viver em Paris, na
grande cidade de Paris... D. Maria Soares suspirou, e olhou para o espelho. O
espelho respondeu-lhe sem cumprimento: “Pode tentar a empresa, ainda está muito
bonita”.
Assim se explica o primeiro convite de D.
Maria Soares ao Andrade, para ir jantar à casa dela, com a amiga, e outras
pessoas. Andrade foi, jantou, conversou, tocou piano, — pois também sabia tocar
piano, — e recebeu da viúva os mais ardentes encômios. Realmente, nunca tinha
visto tocar assim; não conhecia amador que pudesse competir com ele. Andrade
gostou de ouvir isto, principalmente porque era dito ao pé de Carlota. Para
provar que a viúva não elogiava a um ingrato, voltou ao piano, e deu sonatas,
barcarolas, rêveries, Mozart, Schubert, nomes novos e antigos. D. Maria Soares
estava encantada.
Carlota percebeu que ela começava a
cortejá-lo, e sentiu não ter intimidade com ele, que lhe permitisse dizer-lho
por brinco; era um modo de os casar mais depressa, e Carlota estimaria ver a
amiga em segundas núpcias, com oitocentos contos à porta. Em compensação
disse-o à amiga, que pela regra eterna das coisas negou-o a pés juntos.
— Pode negar, mas eu bem vejo que você anda
ferida, insistiu Carlota.
— Então é ferida que não dói, porque eu não
sinto nada, replicou a viúva.
Em casa, porém, advertiu que Carlota lhe
falara com tal ingenuidade e interesse, que era melhor dizer tudo, e utilizá-la
na conquista do advogado. Na primeira ocasião, negou sorrindo e vexada; depois,
abriu o coração, previamente aparelhado para recebê-lo, cheio de amor por todos
os cantos. Carlota viu tudo, andou por ele, e saiu convencida de que, apesar da
diferença de idade, nem ele podia ter melhor esposa, nem ela melhor marido. A
questão era uni-los, e Carlota dispôs-se à obra.
Eram então passados dois meses depois da
saída do Vieira, e chegou uma carta dele com a notícia de estar de cama. A
letra pareceu tão trêmula, e a carta era tão curta, que lançou o espírito de
Carlota na maior perturbação. No primeiro instante, a sua ideia foi embarcar e
ir ter com o marido; mas o advogado e a viúva procuravam aquietá-la,
dizendo-lhe que não era caso disso, e que provavelmente já estaria bom; em todo
caso, era melhor esperar outra carta.
Veio outra carta, mas do Romualdo, dizendo
que o estado do Vieira era grave, não desesperado; os médicos aconselhavam que tornasse
para o Rio de Janeiro; eles viriam na primeira ocasião.
Carlota ficou desesperada. Começou por não
crer na carta. “Meu marido morreu, soluçava ela; estão me enganando”.
Entretanto, veio terceira carta do Romualdo, mais esperançada. O doente já podia
embarcar, e viria no vapor que dali sairia dois dias depois; ele o acompanharia
com todas as cautelas, e a mulher podia não ter cuidado nenhum. A carta era
simples, verdadeira, dedicada e pôs um calmante no espírito da moça.
Com efeito, Romualdo embarcou, acompanhando o
doente, que passou bem o primeiro dia de mar. No segundo piorou, e o estado
agravou-se de modo que, ao chegar à Bahia, pensou o Romualdo que era melhor
desembarcar; mas o Vieira recusou formalmente uma e muitas vezes, dizendo que
se tivesse de morrer, preferia vir morrer ao pé da família. Não houve remédio
senão ceder, e por mal dele, expirou vinte e quatro horas depois.
Poucas horas antes de morrer, o advogado
sentiu que era chegado o termo fatal, e fez algumas recomendações ao Romualdo,
relativamente a negócios de família e do foro; umas deviam ser transmitidas à
mulher; outras ao Andrade, companheiro de escritório, outras a parentes. Só uma
importa ao nosso caso.
— Diga à minha mulher que a última prova de
amor que lhe peço é que não se case...
— Sim... sim...
— Mas, se ela, a todo o transe entender que
se deve casar, peça-lhe que a escolha do marido recaia no Andrade, meu amigo e
companheiro, e...
Romualdo não entendeu essa preocupação da
última hora, nem provavelmente o leitor, nem eu, — e o melhor, em tal caso, é
contar e ouvir a coisa sem pedir explicação. Foi o que ele fez; ouviu, disse
que sim, e poucas horas depois, expirava o Vieira. No dia seguinte, entrava o
vapor no porto, trazendo a Carlota um cadáver, em vez do marido que daqui
partira. Imaginem a dor da pobre moça, que aliás receava isso mesmo, desde a
última carta de Romualdo. Chorara em todo esse tempo, e rezou muito, e prometeu
missas, se o pobre Vieira lhe chegasse vivo e são: mas nem rezas, nem
promessas, nem lágrimas.
Romualdo veio à terra, e correu à casa de D.
Maria Soares, pedindo a sua intervenção para preparar a recente viúva a receber
a fatal notícia; e ambos passaram à casa de Carlota, que adivinhou tudo, apenas
os viu. O golpe foi o que devia ser, não é preciso narrá-lo. Nem o golpe, nem o
enterro, nem os primeiros dias. Saiba-se que Carlota retirou-se da cidade por
algumas semanas, e só voltou à antiga casa, quando a dor lhe consentiu vê-la,
mas não pôde vê-la sem lágrimas. Ainda assim não quis outra; preferia padecer,
mas queria as mesmas paredes e lugares que tinham visto o marido e a sua
felicidade.
Passados três meses, Romualdo tratou de
desempenhar-se da incumbência que o Vieira lhe dera, à última hora, e nada mais
difícil para ele, não porque amasse a viúva do amigo, — realmente, tinha sido
uma coisa passageira, — mas pela natureza mesmo da incumbência. Entretanto, era
forçoso fazê-lo. Escreveu-lhe uma carta, dizendo que tinha de dizer-lhe, em
particular, coisas graves que ouvira ao marido, poucas horas antes de morrer.
Carlota respondeu-lhe com este bilhete:
Pode vir quanto antes, e se quiser hoje
mesmo, ou amanhã, depois do meio-dia; mas prefiro que seja hoje. Desejo saber o
que é, e ainda uma vez agradecer-lhe a dedicação que mostrou ao meu infeliz
marido.
Romualdo foi nesse mesmo dia, entre três e
quatro horas. Achou ali D. Maria Soares, que não se demorou muito, e os deixou
sós. Eram duas viúvas, e ambas de preto, e Romualdo pôde compará-las, e achou
que a diferença era imensa; D. Maria Soares dava a sensação de uma pessoa que
escolhera a viuvez por ofício e comodidade. Carlota estava ainda acabrunhada,
pálida e séria. Diferença de data ou de temperamento? Romualdo não pôde
averiguá-lo, não chegou sequer a formular a questão. Medíocre de espírito, este
homem tinha uma dose grande de sensibilidade, e a figura de Carlota
impressionou-o de modo, que não lhe deu lugar a mais do que à comparação das
pessoas. Houve mesmo da parte de D. Maria Soares duas ou três frases que
pareceram ao Romualdo um tanto esquisitas. Uma delas foi esta:
— Veja se persuade a nossa amiga a
conformar-se com a sorte; lágrimas não ressuscitam ninguém.
Carlota sorriu sem vontade, para responder
alguma coisa, e Romualdo rufou com os dedos sobre o joelho, olhando para o
chão. D. Maria Soares levantou-se afinal, e saiu. Carlota, que a acompanhou até
à porta, voltou ansiosa ao Romualdo, e pediu que lhe dissesse tudo, tudo, as
palavras dele, e a doença, e como foi que começou, e os cuidados que lhe deu, e
que ela soube aqui e lhe agradecia muito. Tinha visto uma carta de pessoa da
província, dizendo que a dedicação dele não podia ser maior. Carlota falava às
pressas, cheia de comoção, sem ordem nas ideias.
— Não falemos do que fiz, disse o Romualdo;
cumpri um dever natural.
— Bem, mas eu agradeço-lhe por ele e por mim,
replicou ela estendendo-lhe a mão.
Romualdo apertou-lhe a mão, que estava
trêmula, e nunca lhe pareceu tão deliciosa. Ao mesmo tempo, olhou para ela e
viu que a cor pálida ia-lhe bem, e com o vestido preto, tinha um tom ascético e
particularmente interessante. Os olhos cansados de chorar não traziam o mesmo
fulgor de outro tempo, mas eram muito melhores assim, como uma espécie de
meia-luz de alcova, abafada pelas cortinas e venezianas fechadas.
Nisto pensou na comissão que o levava ali, e
estremeceu. Começava a palpitar, outra vez, por ela, e agora que a achava
livre, ia levantar duas barreiras entre ambos: — que se não casasse, e que, a
fazê-lo, casasse com outro, uma pessoa determinada. Era exigir demais. Romualdo
pensou em não dizer nada, ou dizer outra coisa qualquer. Que coisa? Qualquer
coisa. Podia atribuir ao marido uma recomendação de ordem geral, que se
lembrasse dele, que lhe sufragasse a alma por certa maneira. Tudo era crível, e
não prenderia assim o futuro com uma palavra. Carlota, sentada defronte,
esperava que ele falasse; chegou a repetir o pedido. Romualdo sentiu um repelão
da consciência. No momento de formular a recomendação falsa, recuou, teve
vergonha, e dispôs-se à verdade. Ninguém sabia o que se passara entre ele e o
finado, senão a consciência dele, mas a consciência bastava, e ele obedeceu.
Paciência! era esquecer o passado, e adeus.
— Seu marido, — começou —, no mesmo dia em
que morreu, disse-me que tinha um grande favor que pedir-me, e fez-me prometer
que cumpriria tudo. Respondi-lhe que sim. Então, disse-me ele que era um grande
benefício que a senhora lhe fazia, se se conservasse viúva, e que lhe pedisse
isto, como um desejo da hora da morte. Entretanto, dado que não pudesse fazê-lo...
Carlota interrompeu-o com o gesto: não queria
ouvir nada, era penoso. Mas o Romualdo insistiu, tinha de cumprir...
Foram interrompidos por um criado; o Dr.
Andrade acabava de chegar, trazendo à viúva uma comunicação urgente.
Andrade entrou, e pediu a Carlota para lhe
falar em particular.
— Não é preciso, retorquiu a moça, este
senhor é nosso amigo, pode ouvir tudo.
Andrade obedeceu e disse ao que vinha; este
incidente é sem valor para o nosso caso. Depois, conversaram os três durante
alguns minutos. Romualdo olhava para o Andrade com inveja, e tornou a perguntar
a si mesmo se lhe convinha dizer alguma coisa. A ideia de dizer outra coisa
qualquer começou a turvar-lhe novamente o espírito. Ao ver o jovem advogado tão
gracioso, tão atraente, Romualdo concluiu, — e não concluiu mal, — que o pedido
do morto era um incitamento; e se Carlota nunca pensara em casar, era ocasião
de fazê-lo. O pedido chegou a parecer-lhe tão absurdo, que a ideia de alguma
desconfiança do marido veio naturalmente, e atribuiu-lhe assim a intenção de
punir moralmente a mulher: — conclusão, por outro lado, não menos absurda, à
vista do amor que ele testemunhara no casal.
Carlota, na conversação, manifestou o desejo
de retirar-se para a fazenda de uma tia, logo que acabasse o inventário; mas,
se demorasse muito tempo iria em breve.
— Farei o que puder para ir depressa, disse o
Andrade.
Daí a pouco saiu este, e Carlota, que o
acompanhara até a porta, voltou ao Romualdo, para dizer-lhe:
— Não quero saber o que foi que meu marido
lhe confiou. Ele pede-me o que por mim mesmo faria: — ficarei viúva...
Romualdo podia não ir adiante, e desejou isso
mesmo. Estava certo da sinceridade da viúva, e da resolução anunciada; mas o
diabo do Andrade com os seus modos finos e olhos cálidos fazia-lhe travessuras
no cérebro. Entretanto, a solenidade da promessa tornou a aparecer-lhe como um
pacto que se havia de cumprir, custasse o que custasse. Ocorreu-lhe um
meio-termo: obedecer à viúva, e calar-se, e, um dia, se ela deveras se
mostrasse disposta a contrair segundas núpcias, completar-lhe a declaração. Mas
não tardou em ver que isto era uma infidelidade disfarçada; em primeiro lugar,
ele poderia morrer antes, ou estar fora, em serviço ou doente; em segundo
lugar, poderia ser que lhe falasse, quando ela estivesse apaixonada por outro.
Resolveu dizer tudo.
— Como ia dizendo, continuava ele, seu marido...
— Não diga mais nada, interrompeu Carlota;
para quê?
— Será inútil, mas devo cumprir o que prometi
ao meu pobre amigo. A senhora pode dispensá-lo, eu é que não. Pede-lhe que se
conserve viúva; mas que, no caso de não lhe ser possível, pedir-lhe-ia bem que
a sua escolha recaísse no... Dr. Andrade...
Carlota não pôde ocultar o espanto, e não
teve só um, mas dois, um atrás do outro. Quando Romualdo concluía o pedido,
antes de dizer o nome do Andrade, Carlota imaginou que ia citar o dele mesmo;
e, rápido, tanto lhe pareceu um desejo do marido como uma astúcia do portador,
que a cortejara antes. Esta segunda suspeita entornou-lhe na alma um grande
desgosto e desprezo. Tudo isso passou como um relâmpago, e quando chegou ao
fim, ao nome do Andrade, mudou de espanto, e não foi menor. Esteve calada
alguns segundos, olhando à toa; depois, repetiu o que já dissera.
— Não pretendo casar.
— Tanto melhor, disse ele, para os desejos
últimos de seu marido. Não lhe nego que o pedido me pareceu exceder do direito
de um moribundo; mas não me cabe discuti-lo: é questão entre a senhora e a sua
consciência. Romualdo levantou-se.
— Já? disse ela.
— Já.
— Jante comigo.
— Peço-lhe que não; virei outro dia, disse
ele estendendo-lhe a mão.
Carlota estendeu-lhe a mão. Pode ser que se
ela estivesse com o espírito quieto, percebesse nos modos do Romualdo alguma
coisa que não era a audácia de outrora. Na verdade, ele estava agora acanhado,
comovido, e a mão tremia-lhe um tanto. Carlota apertou-lha cheia de
agradecimento; ele saiu.
Ficando só, Carlota refletiu em tudo o que se
passara. A lembrança do marido pareceu-lhe também extraordinária; e, não tendo
ela jamais pensado no Andrade, não pôde furtar-se a pensar nele e na simples
indicação do moribundo. Tanto pensou em tudo isso, que lhe ocorreu finalmente a
posição do Romualdo. Esse homem tinha-a cortejado, parecia querê-la, recebeu do
marido, prestes a expirar, a confidência última, o pedido da viuvez e a
designação de um sucessor, que não era ele, mas outro; e, não obstante, cumpriu
tudo fielmente. O procedimento pareceu-lhe heroico. E daí pode ser que já não a
amasse: e foi, talvez, um capricho de momento; estava acabado; nada mais
natural.
No dia seguinte, ocorreu a Carlota a ideia de
que Romualdo, sabendo da amizade do marido com o Andrade, podia ir comunicar a
este o pedido do moribundo, se já o não tinha feito. Mais que depressa,
lembrou-se de mandar chamá-lo, e pedir-lhe que viesse vê-la; chegou mesmo a
escrever-lhe um bilhete, mas mudou de ideia, e, em vez de pedir-lho de viva
voz, determinou fazê-lo por escrito. Eis o que escreveu:
Estou certa de que as últimas palavras de meu
marido foram apenas repetidas a mim e a ninguém mais; entretanto, como há outra
pessoa, que poderia ter interesse em saber...
Chegando a este ponto da carta, releu-a, e
rasgou-a. Parecia-lhe que a frase tinha um tom misterioso, inconveniente na
situação. Começou outra, e não lhe agradou também; ia escrever terceira, quando
vieram anunciar-lhe a presença do Romualdo; correu à sala.
— Escrevia-lhe agora mesmo, disse ela logo
depois.
— Para quê?
— Referiu aquelas palavras de meu marido a
alguém?
— A ninguém. Não podia fazê-lo.
— Sei que não o faria; entretanto, nós, as
mulheres, somos naturalmente medrosas, e o receio de que alguém mais, quem quer
que seja, saiba do que se passou, peço-lhe que por nenhuma coisa refira a outra
pessoa...
— Certamente que não.
— Era isto o que lhe dizia a carta.
Romualdo vinha despedir-se; seguia daí três
dias para o Norte. Pedia-lhe desculpa de não ter aceitado o convite de jantar,
mas na volta...
— Volta? interrompeu ela.
— Conto voltar.
— Quando?
— Daqui a dois meses ou dois anos.
— Cortemos ao meio; seja daqui a quatro
meses.
— Depende.
— Mas, então, sem jantar comigo uma vez?
Hoje, por exemplo...
— Hoje estou comprometido.
— E amanhã?
— Amanhã vou a Juiz de Fora.
Carlota fez um gesto de resignação; depois
perguntou-lhe se na volta do Norte.
— Na volta.
— Daqui a quatro meses?
— Não posso afirmar nada.
Romualdo saiu; Carlota ficou pensativa algum
tempo.
“Singular homem! pensou ela. Achei-lhe a mão
fria e, entretanto...”
Depressa passou a Carlota a impressão que lhe
deixara o Romualdo. Este seguiu, e ela retirou-se à fazenda da tia, enquanto o
Dr. Andrade continuou o inventário. Quatro meses depois, voltou Carlota a esta
corte, mais curada das saudades, e em todo caso cheia de resignação. A amiga
encarregou-se de acabar a cura, e não lhe foi difícil.
Carlota não esquecera o marido; ele estava
presente ao coração, mas o coração também cansa de chorar. Andrade que a
frequentava, não pensara em substituir o finado marido; ao contrário, parece
que principalmente gostava da outra. Pode ser também que fosse mais cortesão
com ela, por ela ser menos recente viúva. O que toda a gente cria é que dali,
qualquer que fosse a escolhida, tinha de nascer um casamento com ele. Não
tardou que as pretensões de Andrade se inclinassem puramente à outra.
“Tanto melhor” pensou Carlota, logo que o
percebeu.
A ideia de Carlota é que, sendo assim, não
ficava ela obrigada a desposá-lo; mas esta ideia não a formulou inteiramente;
era confessar que estaria inclinada a casar.
Passaram-se ainda algumas semanas, oito ou
dez, até que um dia anunciaram os jornais a chegada de Romualdo. Ela mandou-lhe
um cartão de cumprimento, e ele deu-se pressa em pagar-lhe a visita. Acharam-se
mudados; ela pareceu-lhe menos pálida, um pouco mais tranquila, para não dizer
alegre; ele menos áspero no aspecto, e até mais gracioso. Carlota convidou-o a
jantar com ela daí a dias. A amiga estava presente.
Romualdo foi circunspecto com ambas, e, posto
que trivial, conseguia pôr nas palavras uma nota de interesse. O que, porém,
realçava a pessoa dele era, — em relação a uma, a transmissão do recado do
marido, e a respeito da outra a paixão que sentira pela primeira, e a
possibilidade de vir a desposá-la. A verdade é que ele passou uma noite
excelente, e saiu de lá encantado. A segunda convidou-o também para jantar daí
a dias, e os três reuniram-se outra vez.
— Ele ainda gosta de ti? perguntava uma.
— Não, acabou.
— Não acabou.
— Por que não? Há tanto tempo.
— Que importa o tempo?
E teimava que o tempo era coisa importante,
mas também não valia nada, principalmente em certos casos. Romualdo parecia
pertencer à família dos apaixonados sérios. Enquanto dizia isso, olhava para
ela a ver se lhe descobria alguma coisa; mas era difícil ou impossível. Carlota
levantava os ombros.
Andrade supôs também alguma coisa, por
insinuação da outra viúva, e tratou de ver se descobria a verdade; não
descobriu coisa nenhuma. O amor de Andrade ia crescendo. Não tardou que o ciúme
viesse fazer-lhe cortejo. Pareceu-lhe que a amada via o Romualdo com olhos
singulares; e a verdade é que estava muita vez com ele.
Para quem se lembra das primeiras impressões
das duas viúvas, há de ser difícil ver na observação do nosso Andrade; mas eu
sou historiador fiel, e a verdade antes de tudo. A verdade é que ambas as
viúvas começavam a cercá-lo de especiais atenções.
Romualdo não o percebeu logo, porque era
modesto, apesar de audaz, às vezes; e da parte de Carlota não chegou mesmo a
perceber nada; a outra, porém, houve-se de maneira que não tardou em
descobrir-se. Era certo que o cortejava.
Daqui nasceram os primeiros elementos de um
drama. Romualdo não acudiu ao chamado da bela dama, e esse procedimento não fez
mais do que irritá-la e dar-lhe o gosto de teimar e vencer. Andrade, ao ver-se
posto de lado, ou quase, determinou lutar também e destruir o rival nascente,
que podia ser em breve triunfante. Já isso bastava; mas eis que Carlota,
curiosa da alma do Romualdo, sentiu que este objeto de estudo podia escapar-se-lhe,
desde que a outra o quisesse para si. Já então eram passados treze meses da
morte do marido, o luto estava aliviado, e a beleza dela, com ou sem luto,
fechado ou aliviado, estava no cume.
A luta que então começou teve diferentes
fases, e durou cerca de cinco meses mais. Carlota, no meio dela, sentiu que
alguma coisa batia no coração de Romualdo. As duas viúvas em breve descobriram
as baterias; Romualdo solicitado por ambas, não se demorou na escolha; mas o
desejo do morto? No fim de cinco meses as duas viúvas estavam brigadas, para
sempre; e no fim de mais três (custa-me dizê-lo, mas é verdade), no fim de mais
três meses, Romualdo e Carlota iam meditar juntos e unidos sobre a desvantagem
de morrer primeiro.
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