O Anjo das Donzelas
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
Cuidado, caro leitor, vamos entrar na alcova de uma donzela.
A esta notícia o leitor estremece e hesita. É
naturalmente um homem de bons costumes, acata as famílias e preza as leis do
decoro público e privado. É também provável que já tenha deparado com alguns
escritos, destes que levam aos papéis públicos certas teorias e tendências que
melhor fora nunca tivessem saído da cabeça de quem as concebeu e proclamou.
Hesita e interroga a consciência se deve ou não continuar a ler as minhas
páginas, e talvez resolva não prosseguir. Volta a folha e passa a coisa melhor.
Descanse, leitor, não verá neste episódio
fantástico nada do que se não pode ver à luz pública. Eu também acato a família
e respeito o decoro. Sou incapaz de cometer uma ação má, que tanto importa
delinear uma cena ou aplicar uma teoria contra a qual proteste a moralidade.
Tranquilize-se, dê-me o seu braço, e
atravessemos, pé ante pé, a soleira da alcova da donzela Cecília.
Há certos nomes que só assentam em certas
criaturas, e que quando ouvimos pronunciá-los como pertencentes a pessoas que
não conhecemos, logo atribuímos a estas os dons físicos e morais que julgamos
inseparáveis daqueles. Este é um desses nomes. Veja o leitor se a moça que ali
se acha no leito, com o corpo meio inclinado, um braço nu escapando-se do alvo
lençol e tendo na extremidade uma mão fina e comprida, os cabelos negros,
esparsos, fazendo contraste com a brancura da fronha, os olhos meio cerrados
lendo as últimas páginas de um livro, veja se aquela criatura pode ter outro
nome, e se aquele nome pode estar em outra criatura.
Lê, como disse, um livro, um romance, e
apesar da hora adiantada, onze e meia, ela parece estar disposta a não dormir
sem saber quem casou e quem morreu.
Ao pé do leito, sobre a palhinha que forra o
soalho, estende-se um pequeno tapete, cuja estampa representa duas rolas, de
asas abertas, afagando-se com os biquinhos. Sobre esse tapete estão duas
chinelinhas, de forma turca, forradas de seda cor-de-rosa, que o leitor jurará
serem de um despojo de Cendrilon. São as chinelas de Cecília. Avalia-se já que
o pé de Cecília deve ser um pé fantástico, imperceptível, impossível; e
examinando bem pode-se até descobrir, entre duas pontas do lençol mal
estendido, a ponta de um pé capaz de entusiasmar o meu amigo Ernesto C... o
maior admirador dos pés pequenos, depois de mim... e do leitor.
Cecília lê um romance. É o centésimo que lê
depois que saiu do colégio, e não saiu há muito tempo. Tem quinze anos. Quinze
anos! é a idade das primeiras palpitações, a idade dos sonhos, a idade das
ilusões amorosas, a idade de Julieta; é a flor, é a vida, e a esperança, o céu
azul, o campo verde, o lago tranquilo, a aurora que rompe, a calhandra que
canta, Romeu que desce a escada de seda, o último beijo que as brisas da manhã
ouvem e levam, como um eco, ao céu.
Que lê ela? Daqui depende o presente e o
futuro. Pode ser uma página da lição, pode ser uma gota de veneno. Quem sabe?
Não há ali à porta um índex onde se indiquem os livros defesos e os lícitos.
Tudo entra, bom ou mau, edificante ou corruptor, Paulo e Virgínia ou Fanny. Que lê ela neste momento? Não sei.
Todavia deve ser interessante o enredo, vivas as paixões, porque a fisionomia
traduz de minuto a minuto as impressões aflitivas ou alegres que a leitura lhe
vai produzindo.
Cecília corre as páginas com verdadeira
ânsia, os olhos voam de uma ponta da linha à outra; não lê; devora; faltam só
duas folhas, falta uma, falta uma lauda, faltam dez linhas, cinco, uma...
acabou.
Chegando ao fim do livro, fechou-o e pô-lo em
cima da pequena mesa que está ao pé da cama. Depois, mudando de posição, fitou
os olhos no teto e refletiu.
Passou em revista na memória todos os
sucessos contidos no livro, reproduziu episódio por episódio, cena por cena,
lance por lance. Deu forma, vida, alma, aos heróis do romance, viveu com eles,
conversou com eles, sentiu com eles. E enquanto ela pensava assim, o gênio que
nos fecha as pálpebras à noite hesitou, à porta do quarto, se devia entrar ou
esperar.
Mas, entre as muitas reflexões que fazia,
entre os muitos sentimentos que a dominavam, alguns havia que não eram de
agora, que já eram velhos hóspedes no espírito e no coração de Cecília.
Assim que, quando a moça acabou de reproduzir
e saciar os olhos da alma na ação e nos episódios que acabara de ler,
voltou-lhe o espírito naturalmente para as ideias antigas e o coração palpitou
sob a ação dos antigos sentimentos.
Que sentimentos, que ideias seriam essas? Eis
a singularidade do caso. De há muito tempo que as tragédias do amor a que
Cecília assistia nos livros causavam-lhe uma angustiosa impressão. Cecília só conhecia
o amor pelos livros. Nunca amara. Do colégio saíra para casa e de casa não
saíra para mais parte alguma. O pressentimento natural e as cores sedutoras com
que via pintado o amor nos livros diziam-lhe que devia ser uma coisa divina,
mas ao mesmo tempo diziam-lhe também os livros que dos mais auspiciosos amores
pode-se chegar aos mais lamentáveis desastres. Não sei que terror se apoderou
da moça; apoderou-se dela um terror invencível. O amor, que para as outras
mulheres apresenta-se com aspecto risonho e sedutor, afigurou-se a Cecília que
era um perigo e uma condenação. A cada novela que lia mais lhe cresciam os
sustos, e a pobre menina chegou a determinar em seu espírito que nunca exporia
o coração a tais catástrofes.
Provinha este sentimento de duas coisas: do
espírito supersticioso de Cecília, e da natureza das novelas que lhe davam para
ler. Se nessas obras ela visse, ao lado das más consequências a que os excessos
podem levar, a imagem pura e suave da felicidade que o amor dá, não se teria de
certo apreendido daquele modo. Mas não foi assim. Cecília aprendeu nesses
livros que o amor era uma paixão invencível e funesta; que não havia para ela
nem a força de vontade nem a perseverança do dever. Esta ideia calou no
espírito da moça e gerou um sentimento de apreensão e de terror contra o qual
ela não podia nada, antes se tornara mais impotente à medida que lia uma nova
obra da mesma natureza.
Este estrago moral completava-se com a
leitura da última novela. Quando Cecília levantou os olhos para o teto tinha o
coração cheio de medo e os olhos traduziam o sentimento do coração. O que
sobretudo a atemorizava mais era a incerteza que ela tinha de poder escapar à
ação de uma simpatia funesta. Muitas das páginas que lera diziam que o destino
intervinha nos movimentos do coração humano, e sem poder discernir o que teria
de real ou de poético este juízo, a pobre mocinha tomou ao pé da letra o que
lera e confirmou-se nos receios que nutria de muito tempo.
Tal era a situação do espírito e do coração
de Cecília quando o relógio de uma igreja que ficava a dois passos da casa
bateu meia-noite. O som lúgubre do sino, o silêncio da noite, a solidão em que
estava, deram uma cor mais sombria às suas apreensões.
Procurou dormir para fugir às ideias sombrias
que se lhe atropelavam no espírito e dar descanso ao peso e ao ardor que sentia
no cérebro; mas não pôde; caiu em uma dessas insônias que fazem padecer mais em
uma noite do que a febre de um dia inteiro.
De repente sentiu que se abria a porta. Olhou
e viu entrar uma figura desconhecida, fantástica. Era mulher? era homem? não se
distinguia. Tinha esse aspecto masculino e feminino a um tempo com que os
pintores reproduzem as feições dos serafins. Vestia túnica de tecido alvo,
coroava a fronte com rosas brancas e despedia dos olhos uma irradiação
fantástica e impossível de descrever. Andava sem que a esteira do chão rangesse
sob os passos. Cecília fitou os olhos na visão e não pôde mais desviá-los. A
visão chegou-se ao leito da donzela.
— Quem és tu? perguntou Cecília sorrindo, com
a alma tranquila e os olhos vivos e alegres diante da figura desconhecida.
— Sou o anjo das donzelas, respondeu a visão
com uma voz que nem era voz nem música, mas um som que se aproximava de ambas
as coisas, articulando palavras como se executasse uma sinfonia do outro mundo.
— Que me queres?
— Venho em teu auxílio.
— Para quê?
O anjo pôs as mãos no peito de Cecília e
respondeu:
— Para salvar-te.
— Ah!
— Sou o anjo das donzelas, continuou a visão,
isto é, o anjo que protege as mulheres que atravessam a vida sem amar, sem
depor no altar dos amores uma só gota do óleo celeste com que se venera o Deus
menino.
— Sim?
— É verdade. Queres que eu te proteja? Que te
imprima na fronte o sinal fatídico ante o qual recuarão todas as tentativas,
curvar-se-ão todos os respeitos?
— Quero.
— Queres que com um bafejo meu te fique
eternamente gravado o emblema da eterna virgindade?
— Quero.
— Queres que eu te garanta em vida as palmas
verdes e viçosas que cabem às que podem atravessar o lodo da vida sem salpicar
o vestido branco de pureza que receberam do berço?
— Quero.
— Prometes que nunca, nunca, nunca te
arrependerás deste pacto, e que, quaisquer que sejam as contingências da vida,
abençoarás a tua solidão?
— Quero.
— Pois bem! Estás livre, donzela, estás
inteiramente livre das paixões. Podes entrar agora, como Daniel, entre os leões
ferozes; nada te fará mal. Vê bem; é a felicidade, é o descanso. Gozarás ainda
na mais remota velhice de uma isenção que será a tua paz na terra e a tua paz
no céu!
E dizendo isto a fantástica criatura
desfolhou algumas rosas sobre o seio de Cecília. Depois tirou do dedo um anel e
introduziu no dedo da moça, que não opunha a nenhum destes atos, nem
resistência nem admiração, antes sorria com um sorriso de angelical suavidade
como se naquele momento entrevisse as glórias perenes que o anjo lhe prometia.
— Este anel, disse o anjo, é o anel de nossa
aliança; doravante és minha esposa ante a eternidade. Deste amor não te
resultarão nem tormentos nem catástrofes. Conserva este anel a despeito de
tudo. No dia em que o perderes, estás perdida.
E dizendo estas palavras a visão desapareceu.
A alcova ficou cheia de uma luz mágica e de
um perfume que parecia mesmo hálito de anjos.
No dia seguinte Cecília acordou com o anel no
dedo e a consciência do que se passara na véspera. Nesse dia levantou-se da
cama mais alegre que nunca. Tinha o coração leve e o espírito desassombrado.
Tocara enfim o alvo que procurara: a indiferença para os amores, a certeza de
não estar exposta às catástrofes do coração... Esta mudança tornou-se cada dia
mais pronunciada, e de modo tal que as amigas não deixaram de reparar.
— Que tens tu? dizia uma. És outra
inteiramente. Aqui anda namoro!
— Qual namoro!
— Ora, decerto! acrescentava outra.
— Namoro? perguntava Cecília. Isso é bom para
as... infelizes. Não para mim.
Não amo...
— Amas!
— Nem amarei.
— Vaidosa!...
— Feliz é que deves dizer. Não amo, é
verdade. Mas que felicidade não me resulta disto?... Posso afrontar tudo; estou
armada de broquel e cota de armas...
— Sim?
E as amigas desataram a rir, apontando para
Cecília e jurando que ela se havia de arrepender de dizer palavras tais.
Mas passavam os dias e nada fazia notar que
Cecília tivesse pago o pecado que cometera na opinião das amigas. Cada dia
trazia um pretendente novo. O pretendente fazia corte, gastava tudo quanto
sabia para cativar a menina, mas afinal desistia da empresa com a convicção de
que nada podia fazer.
— Mas não se lhe conhece preferido?
perguntavam uns aos outros.
— Nenhum.
— Que milagre é este?
— Qual milagre! Não lhe chegou a vez... Ainda
não enflorou aquele coração. Quando chegar a época da florescência há de fazer
o que as mais fazem, e escolher entre tantos pretendentes um marido.
E com isto se consolavam os taboqueados.
O que é certo é que corriam os dias, os
meses, os anos, sem que nada mudasse a situação de Cecília. Era a mesma mulher
fria e indiferente. Quando completou vinte anos tinha adquirido fama; era
corrente em todas as famílias, em todos os salões, que Cecília nascera sem
coração, e a favor desta fama faziam-se apostas, levantavam-se coragens; a moça
tornou-se a Cartago das salas. Os romanos de bigode retorcido e cabelo frisado
juravam sucessivamente vencer a indiferença púnica. Trabalho vão! Do agasalho
cordial ao amor ninguém chegava nunca, nem por suspeita. Cecília era tão
indiferente que nem dava lugar à ilusão.
Entre os pretendentes um apareceu que começou
por cativar os pais de Cecília. Era um doutor formado em matemáticas, metódico
como um compêndio, positivo como um axioma, frio como um cálculo. Os pais viram
logo no novo pretendente o modelo, o padrão, a fênix dos maridos. E começaram
por fazer em presença da filha os elogios do rapaz. Cecília acompanhou-os
nesses elogios, e deu alguma esperança aos pais. O próprio pretendente soube do
conceito em que o tinha a moça e criou esperanças.
E, conforme a educação do espírito, tratou de
regularizar a corte que fazia a Cecília, como se se tratasse de descobrir uma
verdade matemática. Mas, se a expressão dos outros pretendentes não
impressionou a moça, muito menos a impressionava a frieza metódica daquele.
Dentro de pouco tempo a moça negou-lhe até aquilo que concedia aos outros: a
benevolência e a cordialidade.
O pretendente desistiu da causa e voltou aos
cálculos e aos livros.
Como este, todos os outros pretendentes iam
passando, como soldados em revista, sem que o coração inflexível da moça
pendesse para nenhum deles.
Então, quando todos viram que os esforços
eram baldados, começou-se a suspeitar que o coração da moça estivesse empenhado
a um primo que exatamente na noite da visão de Cecília embarcara para seguir
até Santos e daí tomar caminho para a província de Goiás. Esta suspeita
desvaneceu-se com os anos; nem o primo voltou, nem a moça mostrou-se sentida
com a ausência dele. Esta conjectura com que os pretendentes queriam salvar a
honra própria perdeu o valor, e os iludidos tiveram de contentar-se com este
dilema: ou não tinham sabido lutar, ou a moça era uma natureza de gelo.
Todos aceitaram a segunda hipótese.
Mas que se passava nessa natureza de gelo?
Cecília via a felicidade das amigas, era confidente de todas, aconselhava-as ao
sentido de uma prudente reserva, mas nem procurava nem aceitava os ciúmes que
lhe andavam à mão. Todavia mais de uma vez, à noite, no fundo da alcova, a moça
sentia-se só. O coração solitário parece que se não acostumara de todo ao
isolamento a que o votara a dona.
A imaginação, para fugir às pinturas
indiscretas de um sentimento a que a moça fugia, corria às soltas no campo das
criações fantásticas e desenhava com vivas cores essa felicidade que a visão
lhe prometera. Cecília comparava o que perdera e o que ia ganhar, e dava a
palma do gozo futuro em compensação do presente. Mas nesses rasgos de
imaginação o coração palpitava-lhe com força, e mais de uma vez a moça dava
acordo de si procurando com uma das mãos arrancar o anel da aliança com a
visão.
Nesses momentos recuava, entrava em si e
chamava no interior a visão daquela noite dos quinze anos. Mas o desejo era
baldado; a visão não aparecia, e Cecília ia procurar no leito solitário a calma
que não podia encontrar nas vigílias laboriosas.
Muitas vezes a aurora veio encontrá-la à
janela, enlevada nas suas imaginações, sentindo um vago desejo de conversar com
a natureza, embriagar-se no silêncio da noite.
Em alguns passeios que fez aos subúrbios da
cidade deixava-se impressionar por tudo o que a vista lhe oferecia de novo,
água ou montanha, areia ou ervaçal, parecendo que a vista se lhe comprazia
nisso e esquecendo-se muitas vezes de si e dos outros.
Ela sentia um vácuo moral, uma solidão
interior, e procurava na atividade e na variedade da natureza alguns elementos
de vida para si. Mas a que atribuía ela essa ânsia de viver, esse desejo de ir
buscar fora aquilo que lhe faltava? Ao princípio não reparou no que fazia;
fazia involuntariamente, sem determinação nem conhecimento da situação.
Mas, como se prolongasse a situação, ela foi
pouco a pouco descobrindo o estado do coração e do espírito. Tremeu ao
princípio, mas em breve se tranquilizou; a ideia da aliança com a visão
pesava-lhe no espírito, e as promessas feitas por ela de uma bem-aventurança
sem igual desenhavam na fantasia de Cecília um quadro vivo e esplêndido. Isto
consolava a moça, e, sempre escrava dos juramentos, ela fazia honra sua em
ficar pura do coração para subir à morada das donzelas libertadas do amor.
Demais, ainda que o quisesse, parecia-lhe
impossível sacudir a cadeia a que involuntariamente se prendera.
E os anos corriam.
Aos vinte e cinco inspirou uma paixão
violenta a um jovem poeta. Foi uma dessas paixões como só os poetas sabem
sentir. Este do meu conto depôs aos pés da bela insensível a vida, o futuro, a
vontade. Regou com lágrimas os pés de Cecília e pediu-lhe como uma esmola uma
centelha que fosse do amor que parecia ter recebido do céu. Tudo foi inútil,
tudo foi vão. Cecília nada lhe deu, nem amor nem benevolência. Amor não tinha;
benevolência podia ter, mas o poeta perdera o direito a ela desde que declarou
a extensão do seu sacrifício. Isto deu a Cecília a consciência da sua
superioridade, e com essa consciência certa dose de vaidade que lhe vendava os
olhos e o coração.
Se lhe aparecera o anjo para tirar-lhe do
coração o germe do amor, não lhe apareceu nenhum que lhe tirasse o pouco de
vaidade.
O poeta deixou Cecília e foi para casa. Daí
seguiu para uma praia, subiu a uma pequena eminência e atirou-se ao mar. Daí a
três dias encontrou-se-lhe o cadáver, e os jornais deram do fato uma notícia
lacrimosa. Entretanto encontrou-se entre os papéis do poeta a seguinte carta:
A Cecília D...
Morro por ti. É ainda uma felicidade que eu
procuro em falta da outra que eu procurei, implorei e não alcancei.
Não me quiseste amar; não sei se o teu
coração estaria cativo, mas dizem que não. Dizem que és insensível e
indiferente.
Não quis crê-lo e fui por mim próprio
averiguá-lo. Coitado de mim! o que vi bastou para dar-me a certeza de que não
estava reservado para mim semelhante fortuna.
Não te pergunto que curiosidade te levou a
voltares a cabeça e transformares-te, como a mulher de Ló, em estátua
insensível e fria. Se alguma coisa há nisto que eu não compreendo, não quero
sabê-lo agora que deixo o fardo da vida, e vou, por caminho escuro, procurar o
termo feliz da minha viagem.
Deus te abençoe e te faça feliz. Não te
desejo mal. Se te fujo e se fugi ao mundo é por fraqueza, não é por ódio;
ver-te, sem ser amado, é morrer todos os dias. Morro uma só vez e rapidamente.
Adeus...
Esta carta causou a Cecília muita impressão.
Chorou até. Mas era piedade e não amor. A maior consolação que ela mesma deu a
si foi o pacto secreto e misterioso. É culpa minha? perguntava ela. E
respondendo negativamente a si mesma achava nisso a legitimidade da sua
indiferença.
Todavia, esta ocorrência trouxe-lhe ao espírito
uma reflexão.
O anjo prometera-lhe, em troca da isenção
para o amor, uma tranquilidade durante a vida que só poderia ser excedida pela
paz eterna da bem-aventurança.
Ora, que encontrava ela? O vácuo moral, as
impressões desagradáveis, uma sombra de remorso, eis os lucros que tivera.
Os que foram fracos como o poeta recorreram
aos meios extremos ou deixaram-se dominar pela dor. Os menos fracos ou menos
sinceros no amor alimentaram contra Cecília um despeito que deu em resultado
levantar-se uma opinião ofensiva à moça.
Mais de um procurava na sombra o motivo da
indiferença de Cecília. Era a segunda vez que se atiravam a essas
investigações. Mas o resultado delas era sempre nulo, visto que a realidade era
que Cecília não amava ninguém.
E os anos corriam...
Cecília chegou aos trinta e três anos. Já não
era a idade de Julieta, mas era uma idade ainda poética; poética neste sentido
— que a mulher, em chegando a ela, tendo já perdido as ilusões dos primeiros
tempos, adquire outras mais sólidas, fundadas na observação.
Para a mulher dessa idade o amor já não é uma
aspiração do desconhecido, uma tendência mal exprimida; é uma paixão vigorosa,
um sentimento mais eloquente; ela já não procura a esmo um coração que responda
ao seu; escolhe entre os que encontra um que possa compreendê-la, capaz de amar
como ela, próprio para fazer essa doce viagem às regiões divinas do amor
verdadeiro, exclusivo, sincero, absoluto.
Nessa idade era ainda bela. E pretendida. Mas
a beleza continuou a ser um tesouro que a indiferença avarenta guardava para os
vermes da terra.
Um dia, longe dos primeiros, muito longe, a
primeira ruga desenhou-se no rosto de Cecília e alvejou um primeiro cabelo.
Mais tarde, segunda ruga, segundo cabelo, e outras e outros, até que a velhice
de Cecília declarou-se completa.
Mas há velhice e velhice. Há velhice feia e
velhice bonita. Cecília era da segunda espécie, porque através dos sinais
evidentes que o tempo deixara nela, sentia-se que fora uma criatura formosa, e,
embora de outra natureza, Cecília inspirava ainda a ternura, o entusiasmo, o
respeito.
Os fios de prata que lhe serviam de cabelos
emolduravam-lhe o rosto rugado, mas ainda suave. A mão, que tão linda era
outrora, não tinha a magreza repugnante, mas era ainda bela e digna de uma
princesa... velha.
Mas o coração? Esse atravessara do mesmo modo
os tempos e os sucessos sem nada deixar de si. A isenção foi sempre completa.
Lutava embora contra não sei que repugnância do vácuo, não sei que horror da
solidão, mas nessa luta a vontade ou a fatalidade vencia sempre, triunfava de
tudo, e Cecília pôde chegar à adiantada idade em que a achamos sem nada perder.
O anel, o fatídico anel, foi o talismã que
nunca a abandonou. A favor desse talismã, que era a assinatura do contrato
celebrado com o anjo das donzelas, ela pôde ver de perto o sol sem se queimar.
Tinham-lhe morrido os pais. Cecília vivia em
casa de uma irmã viúva. Vivia dos bens que recebera em herança.
Que fazia agora? Os pretendentes desertaram,
os outros envelheceram também, mas iam ainda por lá alguns deles. Não para
requestá-la decerto, mas para passar as horas ou em conversa grave e pausada
sobre coisas sérias, ou à mesa de algum jogo inocente e próprio de velhos.
Não poucas vezes era assunto de conversação
geral a habilidade com que Cecília conseguira atravessar os anos da primeira e
da segunda mocidade sem empenhar o coração em nenhum laço de amor. Cecília
respondia a todos que tivera um segredo poderoso do qual não podia fazer
comunicação alguma.
E nestas ocasiões olhava amorosamente para o
anel que trazia no dedo ornado de uma bela e grande esmeralda.
Mas ninguém reparava nisto.
Cecília gastava horas e horas da noite em
evocar a visão dos quinze anos. Quisera achar conforto e confirmação às suas
crenças, quisera ver e ouvir ainda a figura mágica e a voz celeste do anjo das
donzelas.
Parecia-lhe, sobretudo, que o longo
sacrifício que consumara merecia, antes da realização, uma repetição das
promessas anteriores.
Entre os que frequentavam a casa de Cecília
alguns velhos havia dos que, na mocidade, tinham feito roda a Cecília e tomado
mais ou menos seriamente as expressões de cordialidade da moça.
Assim que, agora que se encontravam nas
últimas estações da vida, mais de uma vez a conversa tinha por objeto a isenção
de Cecília e as infelicidades dos adoradores.
Cada um referia os seus episódios mais
curiosos, as dores que sentira, as decepções que sofrera, as esperanças que
Cecília esfolhara com impassibilidade cruel.
Cecília ria ouvindo essas confissões, e
acompanhava os seus adoradores de outrora no terreno das facécias que as
revelações mais ou menos inspiravam.
— Ah! dizia um, eu é que sofri como poucos.
— Sim? perguntava Cecília.
— É verdade.
— Conte lá.
— Olhe, lembra-se daquela partida em casa do
Avelar?
— Foi há tanto tempo!
— Pois eu me lembro perfeitamente.
— Que houve?
— Houve isto.
Todos se prepararam para ouvir a narração
prometida.
— Houve isto, continuou o ex-adorador.
Estávamos no baile. Eu, nesse tempo, era um verdadeiro pintalegrete. Envergava
a melhor casaca, esticava a melhor calça, derramava os melhores cheiros. Mais
de uma dama suspirava em segredo por mim, e às vezes nem mesmo em segredo...
— Ah!
— É verdade. Mas qual é a lei geral da
humanidade? É não aceitar aquilo que se lhe dá, para ir buscar aquilo que não
poderá obter. Foi o que fiz.
Le
bonheur, c’est la boule
Que cet
enfant poursuit tout le temps qu’elle roule.
Et que,
dès qu’ele arrête, il repousse du pied.
— Bravo!
— Vamos à história!
— Estávamos no baile. Já duas senhoras
tinham-se retirado para o camarim a fim de evitar algum desmaio. Por quê? Que
fazia eu? Eu derramava aos pés de D. Cecília uma torrente de madrigais,
dizia-lhe do melhor modo possível que a beleza dela tinha-me inspirado um amor
profundo e decisivo. Ela não prestava aos meus discursos senão uma atenção
indiferente. Isto desesperava. Insistia, repetia, pedia-lhe quase o coração.
Ela nada. Enfim ofereci-lhe o braço. Percorremos algumas salas. D. Cecília
estava divina de graça, de beleza, e etc... de indiferença. Se fosse a indiferença
somente bem estava, mas houve mais...
— Houve mais?
— Houve. Houve desengano. Eu disse-lhe que a
amava perdidamente; ela respondeu-me positivamente que não me podia amar. Quase
caí. Não lhe disse mais nada e voltamos para a sala.
— Não me lembro disso, observou Cecília.
— Lembro-me eu que fui a vítima. O algoz...
— À ordem! à ordem! reclamaram os ouvintes.
O narrador continuou:
— Deixei D. Cecília na sala e saí. Fui para o
jardim. Desesperado, cuidei que o ar e a solidão me aplacassem o ânimo. Vi
através da rama de uns arbustos um ponto de luz. Era um charuto ao que me
parecia, e com o charuto um homem. A noite estava escuríssima. Caminhei para o
lugar em que me parecia estar o homem e o charuto. Pedi fogo e vi que o charuto
me entrava nas mãos. Acendi um charuto e agradeci. A minha voz foi conhecida
pelo meu interlocutor e eu próprio reconheci na voz que me falava um rapaz que
eu conhecera aos salões.
— Abrevie a história!
— Apoiado!
— É simples. Contei ao meu interlocutor os
motivos da minha presença, e estava calmo, esperando algumas palavras de
consolação, quando me senti agarrado. Procurei defender-me e lutamos durante
alguns minutos, ao som de uma polca que se executava no interior da casa. Todos
compreendem o caso. O meu adversário era pretendente ao coração de D. Cecília;
estava, como eu, desconsolado. Lutamos, como disse. Nunca mais nos falamos.
— Nunca mais?
— Nunca mais.
— Não me lembro de nada, nem me constou nada
neste sentido, disse Cecília.
— Eu nunca disse nada a ninguém.
Fora escrever dois volumes, repetir os
episódios trágicos, ou cômicos, ou patéticos, que os ex-adoradores de Cecília
traziam para a conversação.
Em uma dessas práticas íntimas, singelas,
trouxe um criado uma carta para Cecília. Era de Tibúrcio.
Quem era Tibúrcio? Era o primo de Cecília que
partira da corte na noite em que Cecília fizera o contrato misterioso para
independência do coração.
Tibúrcio partira moço e voltou velho. Nunca
dera sinal de si. Não se sabia onde andava nem que fazia.
Tibúrcio escrevia de São Paulo. Dizia que
dentro de oito dias estaria na corte. E daí a oito dias chegou.
A carta dizia:
Minha prima. — Dentro de oito dias lá
estarei. Vai aparecer-lhe um velho. Há que tempo de lá saí! Andei seca e meca.
Ganhei, perdi, tornei a ganhar, e a experiência me serviu, porque o que ganhei
conservo agora e não tenho ideia, nem ânimo de perdê-lo outra vez.
Que é feito de nossa família? Eu de nada sei.
Não procurei ninguém, não escrevi; acho que fizeram bem em me não escreverem.
Com ingrato, ingrato e meio. Mas eu hei de provar que não fui ingrato.
Adeus. Esta lhe há de ser entregue por C... meu
amigo, que parte para essa corte. Adeus. — Tibúrcio.
Tibúrcio acompanhou a carta com intervalo de
alguns dias. Era um velho bonito, folgazão, opulento de carnes e de dinheiro.
Nem Tibúrcio reconhecia Cecília, nem Cecília
reconheceu Tibúrcio. Tão mudados estavam!
Vieram as longas narrativas do que se houvera
passado durante o longo espaço de tempo que se não viram.
É necessário dizer que Tibúrcio, quando
partira da corte, amava Cecília, sem que para amá-la se fundasse em nenhum
sentimento recíproco.
Cecília foi ao princípio indiferente... por
indiferença. Mais tarde é que veio o pacto angélico.
Tibúrcio ouviu, com grande admiração, da boca
de Cecília a notícia de que ela nunca se houvera casado.
E de sua parte declarou que também se
conservara solteiro, adiantando logo a razão disso, que era não poder levar
família para as trabalhosas empresas a que se entregava.
Mas a respeito de Cecília admirou-se muito.
Não a deixara formosa e requestada? Não via ainda que essa beleza tarde
desapareceu?
— Não quis, respondia Cecília.
— Mas por quê?...
— Não sei... não quis.
E, como sempre, Cecília olhava amorosamente
para o anel. Os olhos de Tibúrcio acompanharam os de Cecília e pousaram na
esmeralda que ela trazia no dedo.
— Ah! disse ele.
E a conversa passou a outros assuntos.
Insistiram todos em que Tibúrcio referisse as
suas viagens, as suas aventuras, os seus perigos, as suas fortunas.
— Fora preciso um ano, disse Tibúrcio.
Com efeito, Tibúrcio tinha vivido uma vida
acidentada. Lutas, perigos, sustos, fortunas, alternativas de todo o gênero,
tudo matizava o fundo do quadro da existência de Tibúrcio.
Tibúrcio adquirira parte de sua fortuna em
algumas explorações de minas de ouro e de brilhantes.
Durante os dias que se seguiram ao da chegada
dele em casa de Cecília, a família, os restos da família, e os convivas
habituais, divertiram-se muito ouvindo as narrações de Tibúrcio sobre os
acidentes das explorações mineiras.
Quando se esgotou esse capítulo, Tibúrcio
referiu que uma vez fora agarrado pelos bugres perto do rio Araguaia. Quando
caiu nas mãos daqueles bárbaros perdeu até a última gota de sangue. Viu a morte
diante dos olhos. Já os bugres se preparavam para almoçar aquele bife, quando
uma partida de soldados que andava à caça de um criminoso descobriu o fato e
chegou a tempo de salvar Tibúrcio dos estômagos indígenas.
Outros perigos correra o primo de Cecília,
como o de naufragar em torrentes de rios, encontrar-se com onças, e outros
deste gênero.
O auditório habitual de Tibúrcio divertia-se
muito com estas narrações, e ele por sua parte sabia referir os tais episódios
dando-lhes as cores próprias de comover e interessar.
Tibúrcio resolvera ir morar com as duas
parentas, e ali se instalou imediatamente.
Todas as noites havia uma reunião de amigos
para tomar chá, conversar e jogar.
Uma noite de chuva, em mês de junho, debalde
se esperaram os convivas. A chuva e o frio não consentiram que os respeitáveis
anciões deixassem os conchegos do lar, nem mesmo com a sedução das boas horas
que se passava em casa de Cecília.
Foram, pois, os três parentes obrigados a se
privarem naquela noite da companhia dos amigos.
Tomaram chá cedo e estavam fazendo horas à
mesa até que viesse a hora habitual de se recolherem.
Travou-se a seguinte conversação:
— Ora, prima, disse Tibúrcio, ainda não lhe
contei os tormentos que sofri relativamente ao coração...
— Ah!
— É verdade. Lembrei-me muito de você.
— Deveras?
— É verdade. Não se lembra que eu mais de uma
vez lhe confessei o amor que alimentava?
— Lembro-me, sim.
— Pois saí da corte com as mais dolorosas
impressões. Via que ia para longe e perdia de vista a mulher que eu ainda nem
conhecia de coração. Padeci muito.
— Falar nisso agora não sei que me parece.
— Parece o que é, a verdade. Quis matar-me...
— Que tolice!
— Foi o que eu pensei...
— Morria e eu ficava.
— Mas o que me agrada é ver que se eu não
esqueci, também você não esqueceu.
— Não, de certo.
— Mas, de certo modo?
— Que modo?
— Gentes! disse a prima viúva. Vocês parecem
namorados!
— Mas de que modo? como apaixonada?
— Sim.
— Que loucura!
— Pelo menos tenho uma prova.
— Vamos ver a prova, disse a viúva.
— A prova não está comigo.
— Está comigo? perguntou Cecília.
— É verdade.
— Onde?
— Aí, no dedo.
Cecília olhou para o anel.
— No dedo! disse ela sem compreender a que
podia o primo aludir.
— Esse anel, disse o primo.
— Este anel? Que tem este anel?
— Ora, afinal, disse a prima viúva, vamos
saber o que significa este misterioso anel.
Cecília estava espantada sem compreender.
Tibúrcio continuou:
— Este anel, sim. É meu. Ou por outra, é seu
hoje, mas foi meu, porque o encomendei.
— Mas explique-se.
— Nas vésperas de partir da corte quis
deixar-lhe uma prova de que o meu amor era verdadeiro e seria eterno.
Encomendei este anel, que o ourives prontificou com o maior cuidado e zelo.
Tinha dois meios de dar-lho: ou introduzir-lho no dedo, francamente, com a
declaração de que era uma lembrança minha que deixara, ou depositá-lo no seu
toucador para que, quando eu já estivesse fora, aquela lembrança a
surpreendesse.
— É romanesco, disse a viúva.
Cecília nada disse. Tinha os olhos pregados
em Tibúrcio e procurava arrancar-lhe as palavras da boca.
Tibúrcio prosseguiu:
— Preferi o segundo meio por me parecer, como
diz a prima, romanesco. Mas, ao executá-lo, ocorreu-me um terceiro meio. Era o
de colocar o anel no seu dedo na hora em que dormisse, de modo que a surpresa
fosse ainda maior.
— Ah! e...
Esta exclamação e esta conjunção partiram da
prima viúva. Cecília tão absorta estava que nada podia dizer.
— Descansem, disse Tibúrcio, eu fiz as coisas
honestamente. Peitei a mucama para que alta noite, na ocasião em que a prima
dormisse depois da costumada leitura... Ah! você lia muito romance!
— Adiante!
— Para que alta noite se aproveitasse do sono
em que você estivesse e lhe pusesse o anel. Assim foi. Vejo agora que conservou
o anel. Mas, diga-me, a Teresa nunca lhe disse nada disto?
— Não, disse Cecília distraidamente.
— Pois foi assim. E se quer mais uma prova
tire o anel... Nunca o tirou?
— Nunca.
— Pois tire o anel e veja se não estão
gravadas pela parte interior as iniciais do meu nome.
Cecília hesitou entre a curiosidade de
averiguar a asseveração de Tibúrcio e um resto de crença que tinha nas palavras
da visão.
— Tire o anel.
— Mas...
— Tire! Que receio é esse?
— Esperem, não tiro por uma razão. Eu não
creio no que diz o primo Tibúrcio.
— Por quê?
— Não creio, mas creio em outra coisa.
— Essa agora!
— É verdade.
E Cecília passou a referir aos dois parentes
todas as circunstâncias da visão, o diálogo que tivera com ela, a fé em que lhe
ficaram as promessas do anjo das donzelas.
— Tal foi, acrescentou Cecília, a razão por
que me não casei. Tinha fé nisto. Quanto a tirar o anel, disse-me a visão que
nunca o fizesse.
Tibúrcio deu uma gargalhada.
— Ora, prima, disse ele, pois você quer
contestar uma verdade com uma superstição? Ainda acredita em sonhos!
— Como, sonhos?
— É evidente. Isso da visão não passou de um
sonho. Coincidiu o sonho com o fato do anel. Mas você quando acordou no dia
seguinte achou-se com um anel no dedo, não devia fazer outra coisa mais do que
averiguar a razão do fenômeno, e não dar crédito a uma coisa toda de
imaginação.
Cecília abanou a cabeça.
— Pois não crê? Tire o anel.
Cecília hesitava. Mas Tibúrcio usou da arma
do ridículo, no que foi acompanhado pela prima viúva de modo que Cecília, com
alguma relutância, pálida e trêmula, arrancou o anel do dedo.
O anel tinha na parte interna gravadas estas
iniciais: T. B.
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