No caminho da fonte
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Luísa
deixara o bando alegre e chalrante das amigas e, de canjirão na mão, tomara
para a fonte pelo estreito e branco caminho que sai do lado direito da
habitação e atravessa o verde e pitoresco declive do terreno, como um longo
sulco sinuoso interrompido aqui e além pela obesidade tranquila de algumas
rochas cinzentas ou pelo vigoroso tamanho da grama.
Então o
José, o filho da Albina, um rapaz robusto e louro como um alemão, uma dessas
almas simples e rudes mas amantíssimas e generosas, foi atacá-la, às
escondidas, debaixo de uma velha figueira ramalhosa que sombreava, em certa
altura, o caminho; e, arrebatando-lhe o canjirão, numa brejeirice franca e
suave de namorado, pespegou-lhe um beijo tão forte que chegou a manchar de roxo
o rosto rosado e fresco da rapariga, deixando-a atrapalhada, trêmula, numa
estonteação voluptuosa.
Era à
tardinha. O sol esbraseava o poente e arrastava ainda a orla do seu imenso
manto de ouro luminoso pelas grimpas atalaiantes da serra.
Rapazes
alegres e gritadores, em camisa e chapéus de palha à cabeça, as grandes abas
derreadas, corriam e cambalhotavam sobre a planura relvosa dos pastos, os
alcandorados terreiros das casas ou ao longo das estradas, na expansão
irrequieta e álacre dos seus corações infantis, despreocupados dos constantes
cuidados e duros encargos da vida.
E a toada longínqua e sonora dos
pegureiros recolhendo o seu gado, ecoava melancolicamente no alto Azul
silencioso e sereno das ave-marias.
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