Modas...
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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A imprensa carioca tem mostrado,
nestes últimos tempos, um desusado interesse pelo Japão. "A Noite"
mantém em Tóquio um correspondente epistolar, o Sr. Carlos Abreu, e não há quem
não tenha lido, e quem não admire, no Rio, as crônicas deliciosas que o nosso
cônsul em Kobe, o Sr. Osório Dutra, está mandando para "O Imparcial".
Despertada assim a fome de pitoresco do público, não há, hoje, quem não deseje
conhecer a terra do Mikado, com as suas "gueixas", os seus
crisântemos, as suas cegonhas azuis e as suas cerejeiras cor de rosa, enfim, o
Japão verídico ou de legenda, com os seus pequenos leques de seda e os seus
grandes templos de porcelana.
Entre os curiosos desse gênero
está, como era natural, o antigo engenheiro da Central do Brasil, Dr. Guilherme
Viana, cuja velhice decorre, hoje, no meio da melhor prosperidade econômica, ao
lado da esposa, a virtuosa Dona Saturnina, da filha viúva, D. Odete Meireles, e
da sua encantadora sobrinha Maria Otávia, botão de rosa de dezoito pétalas, que
é, pode-se dizer, uma segunda filha do casal. Interessado, dessa forma, pelo
Império do Sol Nascente, o velho engenheiro perguntou-me, outro dia, se eu
possuía nas minhas estantes alguma obra sobre o Japão. Eu lhe falei em cinco ou
seis, entre as quais as dos nossos patrícios Drs. Oliveira Lima, Luiz Guimarães
e padre Feitosa, e o meu amigo escolheu:
— Mande-me o livro do padre; deve
ser mais fiel, mais de acordo com a verdade. E mande-me outro qualquer, de
autor estrangeiro.
No dia seguinte remetia-lhe eu a
"Viagem ao Japão", de monsenhor Feitosa, e uma obra de Mabel Bacon,
americana, traduzida, há anos, para o francês, com o título de "Jeunes
filles et femmes au Japon". E ontem fui visitar o meu velho amigo, a quem
encontrei com os dois volumes em cima da mesa, rodeado das três senhoras que
lhe compõem a totalidade da família.
— Excelente livro, o do padre; —
observou-me, de supetão, o meu velho camarada. — Achei apenas um pouco
exagerado, naquela parte em que ele diz ter visto os soldados de um
destacamento tirarem a farda, e descansarem, nus, à vista de toda gente, ao
lado das baionetas.
— E o outro livro, o da
americana? — indaguei.
— Também tem exageros, excessos
abomináveis, como, por exemplo, esse em que a autora conta que, no interior do
país, as camponesas trabalham ao sol, cultivando a terra, tendo sobre o corpo
unicamente um chapéu de abas largas, e, à cintura, um leque, amarrado por um
cordão.
— Como é essa vestimenta? —
indagou
D. Odete, intervindo.
— Um chapéu de palha, e um leque
à cintura, — repetiu o pai.
— E nada mais! — acentuou.
A essa informação, D. Saturnina
juntou as gordas mãos sobre o estômago, espantada:
— Meu Deus! Parece até
"toilette" do Municipal!
Mas não terminou. Escandalizada
com aquela heresia, a viúva interrompeu-a, protestando, logo, não em nome da
decência, mas em nome do bom gosto:
— Oh, mamãe, assim, também, não!
E acrescentou, com horror:
— Onde a senhora já viu a gente
ir ao Municipal de chapéu?!...
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