Mocidade...
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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O teatro Fênix enchera-se,
naquela tarde de junho, para o espetáculo científico, anunciado pelo Dr.
Wilhelm Korner, antigo reitor da Universidade de Lena. As frisas, os camarotes,
as cadeiras, as galerias, regurgitavam de espectadores, quando, após a
apresentação do sábio pelo eminente professor Austregésilo, começaram as provas
práticas de magnetismo animal.
— Senhores, — começou, arrastando
as sílabas, o ilustre homem de ciência, — a minha primeira demonstração, para
que me não tomem por um aventureiro, um intrujão, um impostor, será coletiva.
Entre vós, há velhos e moços, pessoas que sentem em si os arrebatamentos da
juventude, a alegria, a saúde e o entusiasmo dos verdes anos, e anciãos que
pendem para o túmulo, e que mal se arrastam por si mesmos. Para demonstrar-vos
que essas energias são meros produtos da sugestão, eu vou fazer com que todos
sejam postos em uma condição média, isto é, que os moços se sintam mais velhos,
e que os velhos se sintam, de súbito, rejuvenescidos. A experiência durará dez
minutos e começará com o simples estender da minha mão, para terminar com um
sopro da minha boca, em momento oportuno.
E unindo o gesto à palavra,
estendeu a mão sobre a plateia, ordenando o milagre.
O resultado, de acordo com o que
ele havia prometido, não se fez esperar. Cavalheiros de idade avançada, que
para ali haviam ido nos braços vigorosos dos netos, experimentavam as juntas,
exercitavam os músculos, passavam as mãos pelas rugas, estranhando o ânimo novo
que lhes distendia os nervos, reavivando-lhes o sangue, a memória, o coração.
Nenhum deles se mostrava, no entanto, mais alegre, mais feliz, do que um ancião
de cabeça inteiramente alva, que para ali havia ido a arrastar-se, e que tomara
lugar em uma das primeiras filas. Agitava-se ele, porém, risonho,
contentíssimo, na cadeira, quando soou a hora tremenda.
— Senhores, — trovejou o sábio, —
vai terminar o encantamento. Cada um vai ser o que era antes. Vou soprar.
Nesse momento, manifestou-se um
reboliço na plateia. Curiosos, olhando para o lado do palco, os espectadores
perguntavam o que teria acontecido, quando viram, de pé, na primeira fila, um
ancião, nervoso, pálido, agitado, empunhando um revólver. Era o octogenário
respeitável, que, trêmulo, com a voz rouca, intimava o magnetizador, com o dedo
no gatilho:
— Se soprar... mato-o!
E desabou na cadeira, chorando...
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