Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
---
Meu coração não espera mais senão
ultrajes e dores. Desejei, mas em vão, alguém que se compadecesse de meus
males; procurei consolações e as não encontrei.
Salmo 63.
Pelos vidros da janela via-se, lá fora, no Azul desbotando a sua
seda de velário imaculado, a claridade esmorecida e dolente do crepúsculo
invernal estagnar-se pouco a pouco em transpassante algidez polar. Uma aérea
melancolia pairava na vasta sala tapetada, esquecido interior de Opulência e
Arte onde, outrora, um apaixonado romântico, que perdera a sua Dama numa
desgraça, viera para sempre ocultar-se, e onde, agora, um nevrosado do
Espírito, de uma cândida limpidez d'alma, se refugiava também, dentro desse ascetério
seguro, como um monge em um claustro, para isolar o seu sonho de artista e a
sua paixão etereal fugindo às escravizantes exterioridades da Vida e à lama
envenenadora do convívio mundanal.
Uma paz absoluta, como a que flutua e coalha perenemente sob as
abóbadas de um cárcere, povoava de austero silêncio esse recanto sossegado,
cheio de celeste doçura, de bênção e espiritualidade, como a nave de um templo
latino em celebrações do ritual, toda aromada pelo incenso que arde e se
espirala dos turíbulos de prata, elevando ao Céu, em rolos alvos como jasmins,
uma açucenal procissão de Almas, adejando serenamente, com a sua pureza de luz
estelar, em demanda das Paragens Azuis desejadas.
Aí, num murmúrio cristalino de rezas que seus lábios esfiavam com unção
e piedade, o nostálgico exilado das turbas, olhos pousados além, no alto Espaço
distante, onde se abria, como uma mortalha de virgem, toda uma melancólica
floração de lilases, ajudava a bem morrer esse dia, deixando pender tristemente
a melancólica cabeça sonhadora sobre o baixo espaldar veludoso de um divã de
Damasco.
Uma tenuíssima poeira de treva fundia-se em torno, sobre os móveis
e bibelôs Renascença onde se destacavam um alto contador de acaju esculpido
sobre o qual pousava o pequeno e precioso grupo do Cão, a Corça e Diana, de
Jean Goujon, e numerosos pratos, em faiança, de Bernard de Palissy, que
pareciam estranhos sóis e luas mortas constelando, de alto a baixo, as paredes
forradas de Gobelins. Vasta pulverização de nanquim caía, em denso véu
funerário, dos ângulos do alto teto, em cujo centro cavava-se monumentalmente
uma funda abóbada ou zimbório, e que espargindo-se pelos recantos longínquos,
os ocultava pouco a pouco à visão, enoitando-se numa vaga opressão de pesadelo
e numa desoladora solidão de Campo Santo, onde, dir-se-ia, começava a vagar,
invisível, e sem frêmito, como entre crepes flutuantes, a ronda fantástica das
Almas Penadas que descem, em cortejo sofredor, à hora calada e morta da
Meia-Noite, a peregrinar sobre o vasto marnel da Vida Terrena, penitenciando-se
para a Grande Purificação.
Mas pelo fundo zimbório estrelado de broquéis e símbolos, cintado
à base de um largo aro de vidros multicores que vertiam para o interior uma
vaga luz de espetro solar, e pela arcada das elevadas janelas góticas, vestidas
de alvo com finíssimas étamines
boreais, entrava ainda um clarão opalino e suave que esmaiava docemente para os
recuados confins da rica e ampla sala, iluminando, a meio tom, as grandes telas
suspensas aos muros engobelinados, em largas molduras de ouro, como gigantescos
rasgões de luminosa verdade pictural, abrindo para a frágil Vida humana e para
a Natureza imortal.
Errava então no ambiente um perfume campesino e suave à boa-noite
e a cravo, um vago ciciar de novenas ao longe, no Recolhimento de São João, à
encosta verdejante de umas colinas baixas, manchando o horizonte com a sua
silhueta ondulada e a lembrarem um acampamento de caravana quando os
dromedários pacíficos, agachados submissamente, gozam o repouso desenervante das
longas caminhadas. Na vizinhança uma voz feminina e débil, carregada de
nostalgia e de mágoas, decerto a de alguma Noiva traída ou abandonada, cantava
uma romanza gemedora de Tosti, onde
suspiros e súplicas ansiosamente passavam, desatendidos e desamparados, numa
convulsão de lágrimas. Ouvia-se um soluçar amoroso de baladilhas de Heine,
ritmicamente evolado de cítaras gementes tangidas por artísticas mãos musicais,
o ofegar angustioso de uma ama de sonhador, acorrentada à Matéria e torturada
pela saudade do Azul, onde a sua ilusão construiu morada, entre as camândulas
de ouro dos Astros, como num refúgio paradisíaco de venturas sonhadas...
Mas a luz vespertina coalhava e se detinha na sala, em alvura de
luar repontando sobre a toalha álgida de um lago, diluída e doce como tintas da
alvorada. E nessa meia luz crepuscular de opala, tirando da alma uma prece
imaterial e desenrolando em nosso espírito a Via Láctea da Esperança, das
Quimeras e Sonhos, cruzavam Recordações e Saudades, evocando cenas felizes de estâncias
passadas, em que houvera entrevistas românticas, mãos e braços enlaçados,
lábios pousados sobre lábios, corações palpitando um pelo outro, cabeças
ardentemente roçando-se, olhos em gozos ideais... E foi à brancura sugestiva
desse derradeiro clarão delongado de ocaso que a grande tela de DELAROCHE se
destacou, como nunca, em pinceladas de gênio e num conjunto magistral,
desnudando à Observação e ao Sentir contemporâneos, um dos episódios
característicos, emocionantes, da vida convulsa e perdida do Império Romano — a
Martirização dos Cristãos — com um extraordinário poder de psicologia e de
espiritualidade.
Sob essa iluminação vesperal, perdurando calmamente, quase
miraculosamente, por instantes incontáveis, e parecendo tecida de uma
tenuíssima urdidura de neblina e prata, em cujas malhas luminosas corressem
vibrações de mandolins e pétalas desfolhadas, ele lentamente rezava e gozava,
no seu misticismo insondável, uma longa ave-maria, tomado da bendita
pacificação e cultualidade que descem, depois de tumultos e desesperos amargos,
sobre o coração desiludido e ferido dos Afetivos e dos Grandes Mentais. A esse
fulgor jasminal, apenas se lhe escoou dos lábios murmurosos a última frase
abstrata da Oração, pôs-se a fixar vivamente, a pupila em êxtase, a fronte
ungida de um clarão constelar, o formoso painel transcendente, abrindo, a um
belo ocaso sereno, para a existência de um Povo há dois mil anos passada e
contando-nos eloquentemente, psicologicamente, em traços e tintas vivedores, um
dos aspectos mais rudes e tredos da sua história.
E nessa contemplação de analista e de crítico, erguido a toda a
altura do Raciocínio e do Pensamento, abismado na profundeza de uma meditação
psíquica, inteiramente arredado da rude materialidade das coisas e só vivendo
de subjetividade e de espiritualidade, ia detalhando, com júbilo transcendente
e um grande misticismo de Arte, a vida desventurosa, cheia de espinhos e dores,
cheia de bárbaros suplícios, mas ao mesmo tempo envolta em pureza, resignação e
graça ideal, de Lecênia, mártir cristã, nobre donzela romana de dezoito anos,
filha do senador Helvédio Priseu, ex-valido de Domiciano e afeiçoado aos
Cristãos, que se convertera a Jesus e à sua Grande Doutrina apenas ouvira, um
dia, a palavra persuasiva e inefável, prometedora da Eterna Consolação e de um
outro Mundo melhor, de PEDRO, simples pescador de Galileia, e do genial e
sublime PAULO, de Tarso, o que lhe valera a morte afrontosa no Circo, logo após
a do pai e o consequente lançamento do seu cadáver virginal às águas barrentas
do Tibre que o arrastaram ao Mar... A tela imortal revivia ali, como através de
um fosco clarão de Legenda, toda a tristíssima verdade desse conhecido episódio
da extraordinária Tragédia da Cristandade...
Era na Itália, nas altas costas da Lucânia, banhadas pelas águas
azuis do Laus Sinus, às vezes terrivelmente revoltas aos ventos rijos de oeste,
como um largo e sinistro mar. Negras rochas escarpadas erguiam-se ali, numa
aglomeração de cristas rudes e ásperas, rendilhando-se no ar em curvas e agulhas
vivíssimas, onde pousavam ou esvoaçavam, agora, continuamente, bandos de corvos
marinhos, e onde, outrora, em os nebulosos e remotíssimos tempos da submissão
de toda a Península a Roma, sobre os campos juncados de cadáveres das batalhas
samnitas, os supersticiosos generais romanos, triunfantes do inimigo, ouviam,
cheios de terror anímico, passar, rolando no ar, altas horas da noite, o coro
lúgubre e fantástico das Larvas e Lêmures, chorando os pobres prisioneiros
tornados então escravos... Fendas e furnas cavavam-se na enorme mole granítica,
em que as ondas vinham despedaçar-se, em incessantes explosões de espuma,
detonando atroadoramente, em sinfonias brutais. No alto, entre nuvens negras,
como num fundo de Câmara Mortuária, havia a claridade álgida de um luar
pressago. Cirros e nimbos, em plissés esparsos ou largos apanhados de sudário,
orlavam-se todos de uma luz nevoenta e lívida. De baixo, do horizonte, ascendia
lentamente uma barra de treva espessa, superpondo-se, em acirrados planos
angulosos, à muralha, ainda mais negra, da penedia brava. O Mar, na sua
infinita planura líquida, faiscava, sob a Lua, numa Via Láctea de opala, e
tinha, nas zonas de escuro denso, longas dobras de ardentia.
Destacava, a um quadrante, sob um cendal de escumilha, o casco
recurvo de uma galé desmastreada, vogando ao acaso contra as saliências
penhascosas de um perfil denteado de cabo em relevo, sobre os longes nevosos,
como o dorso monstruoso de um crocodilo basáltico, a cujo carcomido sopé
espadanava, em cachão, o gesso fluido das espumas. Próximo, arrastava nas vagas
a tule argêntea do albornoz de Diana, Rainha da Noite, passeando poeticamente
nos seus domínios do Azul com as suas alvas, eternas vestes virginais de noiva,
a cuja esparsa rutilação lirial um bando olímpico de Sereias cantava,
inefavelmente, as marulhosas Baladas do Mar, que arrebatam os Marinheiros sob
as velas enfunadas...
O simpático idealista hipnotizava-se, inebriava-se na funda
contemplação do grande quadro genial, de um efeito de claro-escuro inexcedível,
inaudito, extraordinário, onde pinceladas originais e inéditas tinham
conseguido criar um trágico e expressivo cenário de Suplício e Calvário, cheio
de reflexos brancos de astros e de encinzados tempestuosos de marinha austral,
enlaçando-se e confundindo-se furiosamente, em torvelinhos de borrasca. E todo
se entristecia, em crises de misticismo piedoso, ante aquela noite sinistra de
execução criminal, abrindo-se, numa arrepiante lividez de necrópole, a um
plenilúnio de horas mortas, fantásticas, iluminando Vinganças e Crueldades
fatais. O que, porém, mais o prendia àquela vida colorida e quase mental da
Tela, cantando uma estância emocionante e convulsa da incomparável Tragédia
Cristã, eram as transparentes ondas marulhosas e calmas do Laus Sinus satânico,
estendendo-se, com um quase inconcebível poder de naturalidade e verdade, sobre
toda a amplitude do primeiro plano, e em cujo arfar espumoso e doce, onde havia
um fulgurante chamalotado de prata, o cadáver de Lecênia ia boiando, boiando,
os cabelos negros esparsos como estranhas meadas de algas, o alvo capício
jasminal de virgem colado às puras formas venusínicas e um resplendor de sol em
torno à fronte, de altíssima formosura romana, lívida, fria e de alabastro, sob
a rigidez da Morte...
E, numa viva acuidade crítica, sob o crepúsculo sugestivo daquele
poente invernal, chegava, psiquicamente, à culminância criadora do Grande
Quadro, ao núcleo radiante para que tinham convergido todos os poderosos
esforços estéticos do inspirado Artista, que deixara o pó do Mundo após legar
imortalmente a sua Obra suprema à admiração da Posteridade e da Arte.
Mas o corpo lirial de Lecênia ia boiando, boiando na mansidão das
vagas, cercado de um cortejo de Ondinas cantando as Litanias do Mar,
acompanhando até a Final Extinção aqueles tristes despojos terrenos, de onde a
Alma há muito se desprendera e voara, num leve adejo luminoso de pureza astral,
para o seio extasiante e eternal de Deus, força augusta e inelutável em que se
circunscreveram, no mundo, todo o seu sonho e ação e em que se apoiaram,
sempre, como poderosas colunas de bronze, a sua Crença, e o seu Amor,
irradiações imateriais e divinas do Ideal e da Quimera que a iluminaram com a
incomparável promessa e o supremo galardão da Outra Vida, da Graça Perene e do
Paraíso Celeste, indestrutivelmente a librar-se, num recesso delicioso do Azul,
entre uma profusão deslumbradora de brilhos solares.
Tinha as mãos amarradas, dispostas em cruz sobre o peito, num tal
arrocho que dir-se-iam cortadas, cindidas aos braços a que pertenciam; mas a
sua grande perfeição e alvura, apesar das cordas que as enlaçavam, prendiam
irresistivelmente o olhar às suas linhas transcendentes de escultura mística. O
talhe esbelto e fino imobilizava-se numa geral rigidez cadavérica e lembrava,
assim branco e loução, sob a Lua, flutuando no carvão fluido e onduloso das
águas, um desses nevados florões de açucenas, lírios e jasmins a que os
efeminados floristas romanos costumavam dar, caprichosamente, com as suas mãos
industriosas e artísticas, aspectos e formas humanas de Meninas ou Moças, e com
que se enfeitavam os cisnes do mar das galés de guerra nas fantásticas festas
fluviais do Tibre — florões que, sob os tumultuosos e terríveis embates,
abalroamentos e rostradas da famosa naumaquia gigante que coroara a derradeira
noite do triunfo de CÉSAR, se despegavam dos costados recurvos dos
trirremes vencidos, sinistramente iluminados pela luz sangrenta das fogueiras e
fachos, e rolavam silenciosamente às águas negras do Rio Latino onde iam boiando
tristemente para o Oceano, ao plenilúnio albente, como pobres Virgens
sacrificadas à lascívia e à glória do Herói Incomparável, vencedor de Pompeu,
dominador da Espanha e das Gálias, do Egito e da Assíria, ditador e senhor
absoluto de Roma e do Mundo...
O seu perfil níveo e doce, de um contorno quase imaterial de
Visão, parecia uma estranha naveta de bruma, talhada em formas humanas. E o
sorriso paradisíaco e etéreo que ungia a curva em flecha dos seus lábios
violáceos e gelara numa angelitude e pureza celestes aos dilacerantes,
inominados suplícios pagãos, era como um silente mas expressivo, piedoso e vago
agradecimento à Maldade Humana que, partindo para sempre os laços que a
prendiam à Terra, lhe abria, num deslumbramento e num enlevo, os pórticos de ouro
luminosos da Bem-aventurança.
Nas suas faces, que pareciam esculturadas sobre uma lápide de
Campo Santo, congelara-se numa infinda e imperturbável serenidade, a última
expressão de castidade lirial em que se envolvera e voara para o Céu a sua
casta, derradeira e sentidíssima prece. As pálpebras brancas de uma maciez de
pétalas e que tinham tão deliciosamente aureolado, em Vida, com os longos
cílios de azeviche, o arrebatante encanto fulguroso dos seus negros olhos
lígures, onde ardiam astralmente, num eterno misticismo, a Esperança e o Sonho
— estavam agora cerrados para sempre...
Mas um halo nebuloso e nevado de claridade etérea enluarava-lhe
paradisiacamente a fronte sonhadora onde, até ao Derradeiro Instante, os
pensamentos mais sinceros, e fervorosos, e puros, eram só para o divino e
arrebatador Jesus de Galiléa e para
as delícias da Ultra Vida Ideal. Os
longos e densos cabelos de seda negra do Lácio imersos, em parte, sob o belo
dorso e, em parte, flutuando à flor d’água como estranhas meadas de algas
navegantes, formavam um manto veludoso de largas dobras luminosas que as
Ondinas afagavam e beijavam com os seus pequeninos, murmurosos lábios de
espuma. O capício, albente, como uma veste de Primeira Comunhão, de Juramento
de Monja ou de Santo Noivado, a envolvia luminosamente numa escócia de
espelhim, boiando em pregas fofas e trêmulas na marinha ondulação que a ampla
esteira láctea da Lua argentava de gélida bruma suave...
Na ebúrnea e
virginal serenidade da sua face morta não havia nem o mais tênue sulco de um
ríctus: o suplício, aceite e sofrido com inteira e profunda resignação,
santificação e estoicismo, que são a força inquebrantável dos que andam pelos
brancos caminhos da Verdade e da Crença, conservara-lhe a serenidade
louçã da adolescência e uma sublime espiritualidade. A execução monstruosa e
tremenda apanhara-a enlaçada misticamente aos largos braços amparadores do
grande Símbolo Cristão. Após girar dolorosa, mas remidoramente, pelo imenso
lodaçal da Vida Terrena sem jamais se macular, pairando sempre muito acima das
Paixões e dos Vícios, como uma Columbina ideal, eis que vinha o furor assassino
dos Perdidos e Loucos render-lhe a suprema apoteose, fazendo-a ascender, pela
Perseguição e pelo Martírio, às Paragens Azuis adoradas. Assim, a sua linda
carnação que sofrera serenamente, estoicamente, sem o mais leve queixume ou o
mais leve ai, todas as flagelações e torturas, deixava ali, sobre as águas
brilhantes do Laus Sinus satânico, um exemplo edificante e bendito, acenando
como um ramo de Esperança às tristes Almas sem Oriente ou sem Guia, através do
terrível labirinto do Mundo: — “Vinde, vinde, Irmãs! Aqui está o verdadeiro
caminho da Salvação e da Graça!...”
E o simpático e inspirado Sonhador enlevava-se, num êxtase de gozo
transcendente, à medida que seus olhos hipnotizados e desvendadores, de uma
acuidade psíquica admirável e intensa, se imergiam, mais e mais, no seio
narrador e mental dos Contornos e das Cores, do Conjunto e das Minúcias da
Grande Tela feliz, vivendo e fulgindo genialmente, triunfalmente, para toda uma
eternidade artística. Envolvia-o, cada vez mais, uma nebulosa de ilusão e
fantasia, embalando-o, acariciando-o, ungindo-o, na vasta e rica sala
Renascença, aos derradeiros clarões fugidios da luz crepuscular, toda laivada
de mortos lilases e lírios...
Depois, a noite cerrara de todo. E sepultaram-se os Aspectos num
acarvoado sinistro, apenas manchado tenuemente pelos altos retângulos da
vidraçaria, retendo ainda, algidamente, o último rastilho prateado da luz que
fugia...
Foi assim que, nesse longo entardecer de Inverno em que a Terra se
embuçava no seu alvo burel de neblina, e pairavam no ar Presságios e
Melancolias, se abriu para ele, a um clarão de Estrela guiadora e bendita, a
Via Sacra purificadora do seu Idealismo...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...