Mamãe
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Chepelinho de palha de grandes
abas e de grandes fitas atirado para a nuca e preso ao queixo, embaixo, por um elástico de seda que lhe flagiciava as carnezinhas
tenras; calcinha pelo joelho, cinto de mulher e bengalinha à mão, vai o Antoniquinho,
com os seus três anos de idade, pela rua Gonçalves Dias, arrebatado pela pressa
elegante da sua mamãe.
Seguro pela mão esquerda, com a
bengalinha na direita, debalde procura o pequenito deter-se diante das
vitrinas, para ver os manequins, os macacos de veludo, os ursos de pelúcia, os
cavalinhos de pau, as coisas galantes ou vistosas que lhe encantam os olhos. A
boquita quase do tamanho do pipo de borracha de que prescindira no ano
anterior, não se cansa de papaguear. As suas perguntas, que são as mais
ingênuas e atrapalhantes, ficam, porém, sem resposta. D. Odette vai, apressada,
sem saber mesmo o motivo, e não pode prestar atenção, ao mesmo tempo, à
gentileza dos conhecidos, que a saúdam atenciosos, e à insaciável curiosidade
do Antonico.
De repente, com a atenção
despertada por um rico vestido de passeio, a moça estaca, sem abandonar a mão
do pequeno, diante de um mostruário de modista. Desinteressado das modas,
Antonico prefere olhar uma vitrina da casa de flores e aves, que fica ao lado,
e em que se vê, perto de um casal de grandes galinhas pretas, alguns ovos de
raça. Sem outra coisa a perguntar no momento, o pirralho ergue os olhos muito
negros e muito vivos, indagando, em voz cantada e doce, como a de um anjo:
— Mamãe, galinha preta põe ovo
branco?
D. Odete não lhe responde;
toma-lhe da mãozinha tenra, miúda como um jasmim, e parte, de novo, apressada.
Adiante, porém, com a rapidez da marcha, Antonico atrapalha-se com a sua
bengala de dois palmos de cumprimento, enfia-a entre as perninhas nuas,
tropeça, rodopia, e vai ao chão, esfregando os joelhinhos no asfalto. Vem-lhe
uma vontade de chorar, mais do susto do que da queda. O beicito treme,
abotoando num cravo. D. Odete prevê, porém, o berreiro, suspende-o do solo pela
mão, e infunde-lhe coragem, ânimo, dignidade, sacudindo-lhe com o lenço o
joelhinho escoriado:
— Não chore, meu filho, não
chore!
E sem dar pelo que dizia:
— Seja "homem", como
sua mãe!
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