Malita Sexus
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Não obstante as teorias
espalhadas pelos moralistas modernos, a virtude máxima da mulher será, sempre,
o pudor. Afirmem embora que este não é um aliado permanente da inocência,
argumentando, para isso, com as crianças e os selvagens; eu continuarei a
considerá-lo a flor mais mimosa da castidade e a atribuir à sua ausência a
maior parte dos venenos que dissolvem a sociedade e a família. Aos meus olhos,
o pudor está para a honestidade como o fumo está para o fogo. Compreender
honestidade sem pudor seria admitir fogo sem fumo.
Essa convicção não é, entretanto,
privilegio meu; e não foi sem alegria que li há dias, em uma revista europeia,
a solidariedade de um eminente magistrado francês, patenteada em uma lição
oportuna, e rigorosa, a algumas dúzias de senhoras parisienses.
Em um dos tribunais de Paris
debatia-se, em uma das últimas sessões do ano último, um processo escandaloso,
cujas peças documentais, que deviam ser lidas e mostradas, atentavam, de modo
clamoroso, contra a pudicícia das damas que enchiam, naquele momento, a sala do
tribunal. Constrangido ante aquele público
feminino, o velho magistrado que presidia a sessão fez tilintar o tímpano,
pedindo atenção. Feito silêncio, o juiz avisou:
— É dever meu, como magistrado e
chefe de família, comunicar às damas presentes neste recinto que vão ser
exibidos, aqui, alguns documentos do processo capazes de ferir as
susceptibilidades femininas. Nessas condições, eu peço, pois, às senhoras
pundonorosas que se afastem da sala, de modo que os interessados possam discutir
essas provas sem constrangimento.
A esse aviso, as sessenta ou
setenta senhoras presentes no tribunal entreolharam-se, consultando-se
tacitamente. De tantas, porém, duas, apenas, se levantaram, retirando-se,
deixando-se ficar as demais nos seus respectivos lugares.
Ao fim de dois minutos, o juiz
indagou, alto:
— Nenhuma das senhoras que se
deixaram ficar sentadas se mostrarão escandalizadas com as peças repugnantes
que vão ser exibidas?
Silêncio geral.
Ante essa resposta muda, o
magistrado enrubesceu, revoltado com aquele espetáculo de despudor, e,
virando-se para o comandante da força, ordenou:
— Chefe da guarda, mande pôr fora
da sala o resto das senhoras!
E a guarda cumpriu a ordem.
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