História do
Compadre Rico e do Compadre Pobre
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Moravam numa aldeia dois compadres. Um era pobre e o
outro rico, mas muito miserável. Naquela terra era uso todos quantos matavam
porco dar um lombo ao abade. O compadre rico, que queria matar porco sem ter de
dar o lombo, lamentou-se ao pobre, dizendo mal de tal uso. Este deu-lhe de
conselho que matasse o porco e o dependurasse no quintal, recolhendo-o de madrugada,
para depois dizer que lho tinham roubado.
Ficou muito contente com aquela ideia e seguiu à risca
o que o compadre pobre lhe tinha dito. Depois deitou-se com tenção de ir de
madrugada ao quintal buscar o porco. Mas o compadre pobre, que era espertalhão,
foi lá de noite e roubou-lho. No dia seguinte, quando o rico deu pela falta do
porco, correu a casa do compadre pobre e muito aflito contou-lhe o acontecido.
Este, fazendo-se desentendido, dizia-lhe:
— Assim, compadre! Bravo! Muito bem, muito bem! Assim
é que há de dizer para se esquivar de dar o lombo ao abade!”
O rico cada vez teimava mais ser certo terem-lhe
roubado o porco; e o pobre cada vez se ria mais, até que aquele saiu
desesperado, porque o não entendiam.
O que roubou o porco ficou muito contente e disse à
mulher: “Olha, mulher, desta maneira também havemos de arranjar vinho. Tu hás
de ir a correr e a chorar para casa do compadre, fingindo que eu te quero
bater; levas um odre debaixo do fato, e quando sentires a minha voz, foges para
a adega do compadre e enquanto eu estou falando com ele, enches o odre de vinho
e foges pela outra porta para casa.” A mulher, fingindo-se muito aflita, correu
para casa do compadre, pedindo que lhe acudisse, porque o marido a queria
matar. Nisto ouviu a voz do marido e correu para a adega do compadre, e
enquanto este diligenciava apaziguar-lhe a ira, enchia ela o odre. Tinha-lhe
esquecido, porém, um cordão para o atar, mas tendo uma ideia gritou para o marido:
— Ah! Goela de odre sem nagalho!
O marido, que entendeu, respondeu-lhe:
— Ah, grande atrevida!... Que se lá vou abaixo, com a
fita do cabelo te hei de afogar!
Ela, apenas isto ouviu, desatou logo o cabelo, atou
com a fita a boca do odre e fugiu com ela para casa. Desta maneira tiveram
porco e vinho sem lhes custar nada, e enganaram o avarento do compadre.
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