Faustino I
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Lendo à toa um dicionário
biográfico, temos às vezes surpresas bem agradáveis e revelações inéditas.
Há dias folheando o velho Dicionário dos contemporâneos, de
Vapereau,260 encontrei a biografia de um curioso imperador do Haiti, Faustino I,
mais conhecido por Suluque.
Não sei o que de atual descobri
na sua vida que não me posso furtar ao desejo de comunicá-la aos leitores, em
largos traços. Se a história se repete, as biografias dos seus grandes homens
também. Vejam só.
Suluque era general de divisão em
1846, quando uma moléstia súbita prostrou sem vida o presidente da república
haitiana, Riché. Dividiu-se a opinião entre dois candidatos, os generais
Souffrau e Paul, e o Senado, a fim de sair-se do embaraço, escolheu um terceiro
general, Suluque, escolha que ninguém esperava.
Cheio de medo, o futuro Faustino
I tomou as rédeas do governo.
Tímido em excesso, seguro de sua
ignorância, foi no começo dócil aos bons conselhos; mas bem depressa as suas
superstições africanas e falta de cultura se mostraram patentemente nos seus
atos.
Tornou-se, por isso, objeto de
risada para as pessoas esclarecidas do país e um jornal, Folha do Comércio, tendo ido, por intermédio de um dos seus
colaboradores, mais longe na crítica, foi sequestrado e o autor do artigo,
Courtois, apesar de senador, condenado à morte.
Daí em diante, Suluque não viu
por toda a parte senão conspiração e, em certo dia, fez tocar alarme e proceder
à matança indistinta de todos aqueles que ele julgava seus inimigos.
Seguido de sua guarda, dias
depois, foi para o interior da ilha e continuou o Saint-Barthélemy.
Voltou triunfalmente à capital e
uma “súplica humilde” do povo às câmaras fez com que estas o aclamassem
imperador.
Suluque tomou o nome de Faustino
I, instituiu uma família imperial, criou uma nobreza e atribuiu-se uma lista
civil de 800 mil francos, cerca de um sétimo da renda total do país.
No ano seguinte, fuzilou sem dó
nem piedade os mais proeminentes membros do partido que o elevava à dignidade
imperial.
Teve azedas questões com os
grandes dignitários de sua corte, entre os quais Bobo, príncipe e ex-forçado.
Durante toda essa sangrenta
palhaçada, Faustino não cuidou de um só melhoramento público, deixou arruinarem-se
os que havia, foi derrotado pela república vizinha de São Domingos e empregou
os soldados do seu exército na exploração de suas plantações de café e
cana-de-açúcar. Tratava de matar e fingir de imperador.
Não podendo o Haiti rir-se dele,
porque Faustino cortava cabeças sem dó nem piedade, a Europa riu-se a valer
desse soberano durante anos. Destronado em 1859, morreu em 1867.
É bem bom ler-se a esmo um
dicionário biográfico...
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