Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Preocupado com a mocidade da sua
linda companheira e temendo, ao mesmo tempo, a decadência de tão maravilhosa
formosura, principalmente daquele admirável colo de neve, que era o seu orgulho
e que ela mostrava, contente, até aonde lhe era possível mostrar, o coronel
Epifânio Fonteneles procurou, uma tarde, a proprietária de um famoso Instituto
de Beleza, e expôs claramente o seu caso. A Circe francesa ouviu-lhe a
narrativa, compreendeu-lhe os temores, percebeu-lhe as apreensões, e, com um
sorriso nos lábios artificialmente vermelhos, tranquilizou-o:
— Pode ficar tranquilo, coronel.
O preparado que possuímos para conservar a graça do busto, a mocidade da pele,
enfim, a beleza do colo, é infalível. É uma loção adstringente, de efeito
seguro e poderoso, que tem realizado verdadeiros milagres. Basta dizer que
entram nela, em dose elevadíssima, a pedra-ume, a casca de romã, a folha de
carvalho, a casca de manga, enfim, todas as substâncias taninosas, que fazem
contrair e fortalecer a epiderme, conservando-lhe a juventude.
E retirando um vidro da
prateleira:
— O senhor leva um vidro, e
recomende a madame que o use todos os dias. Toma-se de um pouco de algodão
delicado, molha-se no líquido, e umedece-se com ele a pele do colo,
principalmente o seio, cuja rijeza é preciso conservar. Deixa-se secar o
líquido na pele, põe-se uma ligeira camada de pó de arroz, e está feito o
remédio, e, com ele, a "toilette" do dia.
Balançando a cabeça a cada
informação, o coronel mostrou haver entendido bem, pediu dois vidros da loção,
pagou-os, recebeu-os, e tocou-se para casa, onde os entregou à encantadora D.
Ignezinha, a quem transmitiu, palavra por palavra, todas as explicações.
No dia seguinte, à tarde, usado o
líquido de acordo com as instruções do marido, e enfiado o seu vestido de
decote mais longo e mais frouxo, desceu a linda senhora, sem colete, a fim de
patentear melhor a graça do busto deslumbrante, para a sala de visitas, onde já
se havia feito anunciar, como um dos amigos mais frequentes da casa, o jovem
engenheiro militar Dr. Epaminondas Rufino.
Pausado, meticuloso, disciplinado
em tudo, o coronel demorou-se ainda nos seus aposentos, vestindo-se para
jantar. Meia hora depois, ouviam-se os seus passos na escada, e, logo, em
seguida, a sua entrada no salão, onde madame sorria, discreta, contando uma
história qualquer ao capitão Epaminondas.
— Então, como vai essa bravura?
bradou, jovial, o velho coronel, estendendo a grande mão gloriosa, para apertar
a do amigo.
O engenheiro ia responder no
mesmo tom, mas, de repente, contraiu o rosto, empalideceu, e continuou mudo.
— Que é isto? Está se sentindo
mal? — tornou o coronel apreensivo.
O capitão fez um novo esforço,
com os músculos de todo o rosto, procurando descerrar os lábios apertados,
contraídos num espasmo da mucosa e, com uma dificuldade horrível, quase com a
boca cerrada, respondeu, apenas, num sibilo, com a língua presa, dura,
paralisada pelo tanino:
— Nun... tãnho... nada!
E ganhou a rua.
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