Educação antiga
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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As pessoas que desceram à cidade
sexta-feira pela manhã, ouviram falar, com certeza, em uma vaia de que teria
sido vítima, em plena Avenida, uma senhorita inconvenientemente vestida.
Indignadas com a competência daquela atrevida, outras senhoras explodiram em
exclamações admirativas, a que os homens, para agradar à maioria, deram
seguimento, rompendo em assuada.
A mim, me custa a crer que isso
tenha acontecido, por uma circunstância muito natural por não ser possível,
mais, na cidade, uma "toilette" capaz de motivar surpresa. As que se
exibem na Avenida impunemente, todos os dias, são de tal ordem, que, para
causar escândalo, pasmo, admiração, seria preciso, não, apenas, tirar o vestido
de cima da pele, mas tirar a pele de cima do corpo.
Comentava eu esse incidente,
ontem, à noite, em uma roda de damas e cavalheiros, quando uma das senhoras
menos jovens, Dona Ernestina Vale, procurou uma explicação para esse
descalabro:
— O motivo dessa falta de pudor
de certas moças de hoje, — começou, perspicaz — deve ser atribuído, senhor
conselheiro, aos próprios pais, ou, antes, às mães.
E expôs o seu pensamento:
— O senhor vê, hoje, como as mães
vestem as crianças. Não há dia em que não encontremos na rua meninas de quatro,
seis, oito e, até dez anos, com vestidinhos muito acima dos joelhos, com os
bracinhos nus, o colozinho à mostra, numa exibição completa das suas
carnezinhas tenras. Aos doze anos, já mocinhas, a "toilette" dessas
criaturinhas apresenta pequena diferença. E como não tiveram, em criança, a
noção do pudor físico, entram assim na mocidade, sem tentar esconder as partes
do corpo que nunca lhes disseram que deviam ser escondidas.
— A senhora acha, então, que elas
fazem isso sem maldade? — obtemperou o Dr. Austregésilo, tomando nota na
carteira.
— Perfeitamente, doutor! Elas
fazem isso com a maior inocência do mundo. Os índios não se apresentam
inteiramente nus aos olhos dos civilizados? E não o fazem ingenuamente,
inocentemente, por terem sido criados assim? Criemos as meninas com decoro,
vestindo-as com discrição, e teremos moças discretas, pudicas, decorosas,
ciosas do seu corpo e dos seus encantos.
E, dizendo-me isso, acrescentou,
severa, calçando as luvas, deixando-me ver, pelo vestido decotado e sem mangas,
dois sinaizinhos negros, quase imperceptíveis, que se lhe aninhavam um pouco
abaixo das axilas:
— Assim é que eu fui criada!
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