Cincinato, o romano
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Todos os compêndios de história
romana não se fartam de gabar as virtudes e a austeridade de vida desse famoso
ditador.
Contam mesmo que, em uma das duas
vezes em que foi escolhido pelo povo para ditador, os eleitores o encontraram
arando ele próprio o seu campo.
Washington, que o imitava muito,
chegou a criar uma ordem com o nome do ditador romano, para galardoar os altos
serviços que os oficiais e praças do Exército da Independência dos Estados
Unidos prestassem à causa que defendiam.
Cincinato foi ditador pelo v
século antes de Jesus, portanto há cerca de 25 séculos que essa sua fama dura.
Um sábio alemão, porém, acaba de
destruí-la por completo.
O Sr. Karl von Bielgler,
professor da Universidade de Bonn, baseado em documentos descobertos na Dácia
(Romênia), como sejam inscrições e mesmo fragmentos de manuscritos, fixou
definitivamente a fisionomia de Cincinato.
Começa o professor von Bielgler
por estabelecer, com as mais sólidas provas, que o ditador nunca pegou na
rabiça de um arado. Essa tradição vem, diz ele, de falar sempre o poderoso
patrício romano, quer no Senado, quer em outros comícios, em causas de
agricultura.
Aconselhava sempre a todos que se
dedicassem a ela, levava para o Senado a miniatura de uma charrua, que punha a
seus pés, quando se sentava na curul. Além, como se sabe, os senadores romanos
tinham o dever de ter seus clientes. Eram destes patronos e distribuíam todas
as manhãs dez sertécios — a espórtula — o que equivale, mais ou menos, na nossa
moeda, a 1$600.
Juvenal, que foi um grande
satírico, viveu durante muito tempo da espórtula e descreve como se a recebia,
com amargor extraordinário.
Cincinato, sendo senador, tinha
que atender a esse curioso costume e aborrecia-se muito por isso, quando
recebia os seus clientes gritava:
— Plantem couves! Dediquem-se à
agricultura!
Por essas e outras é que ele
passou como sendo um amador da agricultura, mas de fato pouco pisava nas suas
terras, deixando-as entregues aos escravos e libertos.
O Dr. Karl von Bielgler diz que a
tal lenda de terem os eleitores, quando o foram chamar para ditador, encontrado
a arar em pessoa o seu campo, bem pode ter sido um ardil dele para impressionar
a plebe romana.
O que é certo é que ele gostava
muito de fazer o Senado votar subvenções aos federados e tudo faz crer que já,
naquela data, ele tinha ideias de banco e especulações bancárias, pois há disso
bastas provas nos documentos descobertos.
É em resumo o que nos conta o
professor de Bonn, na acreditada revista alemã Universum, no artigo que tem o título simples de “Cincinnatus”.
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