Cerimônias nupciais
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Em um congresso de jurisconsultos,
reunido, há alguns anos, em Berna, o delegado da Suécia, se bem me lembro,
sugeriu a uniformização do Direito Civil, dando-se às leis peculiares aos
costumes de certos povos uma feição de instituto internacional. Essa medida
constituiria um passo para a fraternidade humana, acabando-se, de vez, com as
complicações decorrentes da desigualdade dos códigos. A cerimônia do casamento,
principalmente, se tornaria mais simples e respeitável, como observava, e muito
justamente, um destes dias, o Sr. Comendador Paulino Sampaio, em uma palestra
erudita com algumas senhoras inteligentes.
— É, realmente, absurda —
observava o honrado capitalista, essa desigualdade de critério. Não seria mais
razoável que o casamento, aqui, fosse igual ao casamento na China ou na Arábia?
Para que, pois, essas diferenças fundamentais, nesse processo de reunir o
destino das criaturas que se querem?
E, para demonstrar o que é a
desordem nessa matéria, lembrou, documentando o seu pensamento:
— Na África, por exemplo, são adotados
os processos mais esquisitos, e, até, mais repugnantes. Em certas regiões
daquele continente, a cerimônia consiste, mesmo, no seguinte: a noiva enche de
água uma vasilha, e leva-a ao noivo, para que lave as mãos. Feito isso, a noiva
toma a cuia entre os dedos e bebe o resto da água servida. Feito isso, estão
casados.
As senhoras entreolharam-se,
espantadas, e o Comendador continuou:
— Em outras regiões, a coisa é
ainda pior: em vez de dar as mãos a lavar, o noivo dá os pés, tomando a noiva,
depois, solenemente, os restos da água. É horrível! Não é?
As senhoras entreolharam-se de
novo, escandalizadas, e o velho capitalista insistiu:
— Esses costumes dão ensejo até,
às vezes, a crimes inomináveis. Ainda em 1918, após uma lavagem dos pés do noivo,
uma rapariga bebeu a água, na forma da tradição. E, momentos depois, caiu
fulminada!
— Onde foi isso, Comendador? —
indagou Madame Costa Pinho, penalizada.
O capitalista sorriu, e explicou,
gentil:
— Na África Portuguesa, minha
senhora!
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