Arte de governar
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
Quando o príncipe Epi subiu ao
trono de rajá de Bengabul, toda a gente exultou, porque um cidadão da América,
chamado Vilsão, tinha em grande conta os seus méritos de cantor de modinhas.
Ele ia fazer grandes coisas, inclusive a felicidade do povo.
Vivia este na mais atroz
desgraça. Não tinha casas em que morasse e os gêneros de primeira necessidade
andavam pela hora da morte. Segundo propalava, ele iria dar remédio a isso tudo
e a fartura havia de reinar nos lares pobres.
Epi era pequenino e vaidoso. Mais
pequeninos e vaidosos do que ele, porém, os que o cercavam. Gostavam de festas
e macumba e, logo que o viram no trono, trataram de arrumar muita festança.
Depois de sua ascensão, não havia
dia em que, por este ou aquele motivo, não houvesse um bródio suculento.
E os seus auxiliares diziam:
— Isto é que é governo! Epi sabe
governar!
Não contente com festas caseiras,
tratou de arranjar outras com príncipes estrangeiros.
Chamou para visitar o país o
príncipe das ilhas Aleutianas, que imediatamente veio visitá-lo.
O príncipe era um rapagão
reforçado e sabia remar em canoa como ninguém. Epi fez uma despesa louca para
recebê-lo e em pessoa cuidou de todos os aprestos.
Durante a sua estadia no país que
foi de um mês, por delicadeza, todos se calaram; mas, mesmo assim, o rajá meteu
na cadeia cinco mil pobres-diabos.
Isto tudo, ele fazia para o rei
ver.
Os trinta dias, em que o soberano
esteve no país, foram de grossa pagodeira. Passeios, cantorias etc. encheram o
vazio da significação da visita e o povo até parecia contente.
Com esta simulação de felicidade,
Epi ganhou foros de bem saber a arte de governar.
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