Abertura do Congresso
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Festa nacional. Descoberta do Brasil e abertura do Parlamento. Noite.
Salão do restaurante do Club Épatant. Cortinas sovadas nas janelas, quadros de
pacotilha pelas paredes. Os garçons vão e vêm. Ouve-se o chiar dos quitutes na
cozinha próxima. Das salas de jogo, chega até ali o ruído especial das fichas
de madrepérola. Com graves cavalheiros, pelas mesas, há cocottes em grande toilette.
Pequenos “toques” na moda. Fala-se um calão de todas as línguas, inclusive o
português. O Congresso tem na casa uma porção de representantes. Todas as mesas
ocupadas.
(Uma mesa à esquerda)
O DEPUTADO BREDERODES
Fanny , não sabes quanto me
custou o reconhecimento.
FANNY
Um conto de réis?
BREDERODES
A unidade de moeda de vocês é um
conto...
BREDERODES
Que é que você diz?
BREDERODES
Digo que vocês só começam a contar
o dinheiro de um conto de réis para cima. Quer mais vinho?
BREDERODES
Merci. Mas quanto custou o reconhecimento de você?
BREDERODES
Não posso dizer... É segredo de
Estado.
(Uma mesa à direita).
O DEPUTADO X
Amo-te muito, minha querida
Concha.
CONCHA
Usted bebeu mucho hoy.
O DEPUTADO X
É de alegria; fui reconhecido.
CONCHA
Então usted paga aquela conta da modista. À la vôtre! (Erguem as taças)
(Uma mesa ao fundo).
O DEPUTADO Z.
Se não tivesse sido reconhecido,
diria que andava de cábula.
EMMA
Perchè?
O DEPUTADO Z.
Fiz doze paradas no 15 e não
acertei nem uma vez.
EMMA
Não faz mal. Voi não está deputado?
O DEPUTADO Z.
Estou.
O DEPUTADO Z.
Então tutto va bene.
(Uma mesa junto à janela).
O CANDIDATO INFELIZ
Logo vi que aqueles idiotas de
Minas haviam de hostilizar a minha candidatura... Carneiros de Panúrgio!
O DEPUTADO H.
Você não falou ao Pinheiro?
MME. WALENSKA
Eu disse a Almada que devia ela
fala Pinheiro, mas ela não quis fala Pinheiro e foi isso.
O CANDIDATO INFELIZ
Você, Sofia, não entende de
política. O Pinheiro não podia me favorecer para hostilizar o Costa... Ambos
nós somos seus amigos.
O DEPUTADO H.
Lá isso é verdade.
MME. WALENSKA
Mas que diaba de amiga é essa
Pinheira... Não entenda isso.
O CANDIDATO INFELIZ
É assim, minha filha; é assim a
política... Precisava bem ser reconhecido... Ando atrapalhado... Queria ir à Europa...
Não queres mais vinho, H.?
O DEPUTADO H.
Aceito.
(H. bebe um pouco e continua):
O DEPUTADO H.
Acho que não deves desanimar... O
Pinheiro faz-te governador do estado.
MME. WALENSKA
Oh! Não! Eu não quera que Almada
sai daqui...
CANDIDATO INFELIZ
Não quero também... Lá não posso
viver com ela... Lugar pequeno!...
(A ceia acaba e H. sai com a sua companheira de momento, Mme. Wronsky,
que até ali estivera muda. Ao sair, ela observa):
MME. WALENSKA
Popre homem, aquela tua amiga. Não fizeram ela deputada... Tão pom!... Coitada!
(A legislatura continua mais ou menos assim até o dia de são Silvestre).
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