(História de Carnaval)
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Por ser sábado véspera de
Carnaval, a roupa a lavar, fora retirada mais cedo das cordas estendidas pelo pátio
da estalagem em fora...
D. Francelina, moradora à casinha
7, muito ocupada em arrumar as camisas e punhos dos seus fregueses, de costas
para a porta da rua, não vira que seu filho Zeca entrara-lhe pela casa adentro
sobraçando um embrulho guizalhante e um outro, com rasgões no papel, por onde
saíam recurvados chifres e uma formidável língua vermelha, adivinhando-se por
aí uma horrível máscara de diabo.
D. Francelina continuava a
arrumar a roupa quarada na cesta e a cantarolar uma modinha nova. Zeca começou
a desembrulhar os apetrechos carnavalescos. Sobre a humilde mesa de pinho,
agora estende-se uma rubra vestimenta de ganga rala e uma máscara apavorante de
olhos esbugalhados, língua retorcida e chifres amedrontadores, tão
amedrontadora era ela assim que se o próprio diabo a visse correria.
D. Francelina, ao seu doguzio, volta-se e dá com a travessura.
— Zeca que é isso?
Uma suspeita dolorosa lhe vem:
— Onde você arrumou isso? —
pergunta severa.
— Não... Mamãe...
— Você roubou, Zeca... Oh! meu
filho! Pobre, sim, mas ladrão não! Onde você arrumou isso, Zeca?
— Foi seu Chico, mamãe —
respondeu a criança em voz de choro.
— Que Chico?
— Seu Chico... Aquele que gosta
de dona Noêmia do no 14, mamãe!
— Mas por que ele te deu isso?
— Eu quem pedi...
— Ele te deu todo o diabinho?
— Deu-me só a mascara, a roupa
comprei-a eu.
— Com que dinheiro?
— Desde junho do ano passado que
eu ajunto, mamãe.
Zeca está agora mais sossegado e
a mãe passada a suspeita de furto aprecia a aventura com a máxima indiferença.
— Mas para quê? Para essas
porcarias de Carnaval; antes você tivesse comprado umas camisas. Dinheiro só se
deve gastar em coisas necessárias, não nessas bobagens. Você precisava?
— Sim... Eu não lhe contei. O ano
passado eu passei na casa de um doutor lá das bandas do largo de segunda-feira.
Eu ia só, sabe, mamãe. Levava a marmita a dona Filomena... A senhora não se
lembra quando estive empregado na pensão?
— Lembro-me.
— Pois bem; foi nesse tempo. Eu
levava a marmita, os meninos do doutor estavam na porta e quando passei se
puseram a gritar: “Seu mouco, macaco”. Eu tive uma raiva, mamãe, que a senhora
não imagina.
— O que você fez?
— Nada... Que havia de fazer?
Continuei meu caminho e jurei me vingar.
— !?!
— Por isso juntei dinheiro,
arranjei a máscara...
— E o que você vai fazer agora?
— Passar por lá, pela casa do
doutor.
— Para quê?
— Para meter medo nos meninos.
— Tolo — fez dona Francelina
continuando muito resignadamente a arrumar a roupa de várias famílias
conceituadas.
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