A pedra dos namorados
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Fugindo ao clima intolerável da
cidade, os dois amigos inseparáveis resolveram passar, este anuo, o verão em
Paquetá. As dificuldades, como era natural, foram enormes. Ao fim de algum
tempo encontraram, porém, duas casas na mesma praia, as quais se comunicavam
pelo quintal, e foram alugadas, não só entre as demonstrações de alegria de D. Adalgisa,
esposa do Dr. Archimedes, como entre as de D. Eleonora, mulher do tenente
Pedreira.
— Magnífico! — aplaudiu a
primeira, batendo as mãozinhas finas, brancas, de dedos afilados.
— Esplêndido! — confirmou a
segunda, com as mesmas demonstrações de contentamento.
Mudados para a ilha encantadora,
saíram os dois casais, uma tarde, a passeio, juntando conchas pela praia, até
que foram ter ao local em que se levanta, entre a terra e o mar, um penedo de
três ou quatro metros de altura, em cujo cimo se amontoava uma infinidade de
pedras pequeninas, equilibrando-se com dificuldade.
— Olha, ali! Que é aquilo? —
exclamou D. Eleonora, radiante com aquela vida de liberdade, apontando, com a
sombrinha fechada, no rumo da pedra.
— Ah! É a "pedra dos
namorados"! — explicou o Dr. Archimedes. — Essa pedra tem uma história
curiosa.
E contou:
— É corrente aqui, na ilha, que
este rochedo anuncia os casamentos. Os namorados que passam por aqui,
atiram-lhe ao cimo uma pedra pequena, uma concha, ou coisa semelhante. Se ficar
lá em cima, a pessoa terá de casar-se; se não, se a pedra rejeitar o objeto
atirado, fazendo-o rolar para o chão, é sinal de que a pessoa não se casará.
— Que graça! — rouxinoleou,
rindo, Dona Adalgisa.
E, voltando-se para os
companheiros:
— Vamos experimentar?
— Mas... nós já estamos casados!
— obtemperou a amiga.
— Não faz mal. Vamos!
Apanhados quatro seixos, aproximaram-se
do penedo, e atiraram, cada um por sua vez. O primeiro ficou. O segundo,
igualmente. O terceiro, da mesma forma. O quarto, também.
— Todos ficaram! — exclamou, com
a sua jovialidade infantil, a linda D. Eleonora.
E acentuou, espichando-se, nas pontas
dos pés:
— Olhem: a minha pedrinha ficou
junto da do Dr. Archimedes, e a da Adalgisa bem juntinho da do Pedreira!
O tenente olhou, sério, o
bacharel. O bacharel fitou, grave, o tenente. Sorriram, os dois.
E continuaram, os quatro, o seu
passeio, apanhando, felizes, na areia úmida, as pequeninas conchas da praia...
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