Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Quando morreu o grande estadista
Vicente, logo todos os espíritos do reino começaram a se preocupar com a pessoa
que devia substituí-lo.
Vicente tinha feito grandes e
meritórias obras de alcance incalculável e era justo que todos se esforçassem
para encontrar um digno substituto para ele.
Damas da corte, ministros, velhacos,
doutores, agiotas, agricultores, todos tinham o seu candidato.
Um queria o Jagodes porque era
alto; outro queria o Zeca porque dançava bem; outro ainda desejava o Chico
porque entendia de música; afinal foi achado o Maneco, que teve por si o grande
título de ser mais ou menos ruivo.
Todo o reino exultou com a
escolha e ele foi encarado como substituto eficaz de Vicente.
Esse reino é vasto e pouco
povoado. É dividido em várias satrapias que se guerreiam entre si. De onde em
onde, uma delas se arma até aos dentes e parte em guerra contra a vizinha. As
damas de uma e outra se vestem de branco, põem uma cruz vermelha ao peito e
dispõem-se a ir curar os feridos. Chama-se isto patriotismo regional e ele é
cultivado e cantado por literatos e poetas de fama. Muitos espíritos, porém,
protestavam contra tal coisa e esperavam que Maneco resolvesse essa enfermidade
do reino.
Maneco prometeu que iria tratar
dos casos vitais da nacionalidade e havia de resolvê-los eficazmente.
Fez um discurso a respeito que foi
impresso em papelão para ter mais volume e intitulou-o: “Problemas vitais”.
Todos gabaram a obra e ele entrou
para todas as sociedades sábias da terra. Neste ponto, ele já se parecia com
Vicente. Restava o resto, isto é, a ação política.
Esperavam todos por ela, quando
certo dia a Gazeta do Reino publicou
o seu primeiro grande ato. Ele tinha nomeado embaixador do Reino junto a uma
nação vizinha, por trinta dias, uma das notabilidades da nação.
Houve quem dissesse: este Maneco
é o Vicente das nomeações; mas a gritaria dos jornais não permitiu que todos
vissem a insignificância do ato.
E o homem continuou a ser
encarado como perfeito substituto do falecido estadista.
Vieram os dias que se passaram, e
nada de Maneco fazer qualquer coisa de novo.
Um dia, porém, os jornais
anunciaram a seguinte grande obra do homem:
Maneco vai viajar acompanhado de
vários rapazes pelos países amigos.
Foi, voltou e continuou a ser um
digno substituto do grande Vicente.
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