A
Desejada das Gentes
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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— Ah! conselheiro, aí começa a falar em verso.
— Todos os homens devem ter uma lira no
coração, — ou não sejam homens. Que a lira ressoe a toda a hora, nem por
qualquer motivo, não o digo eu, mas de longe em longe, e por algumas
reminiscências particulares... Sabe por que é que lhe pareço poeta, apesar das
Ordenações do Reino e dos cabelos grisalhos? é porque vamos por esta Glória
adiante, costeando aqui a Secretaria de Estrangeiros... Lá está o outeiro
célebre... Adiante há uma casa...
— Vamos andando.
— Vamos... Divina Quintília! Todas essas
caras que aí passam são outras, mas falam-me daquele tempo, como se fossem as
mesmas de outrora; é a lira que ressoa, e a imaginação faz o resto. Divina
Quintília!
— Chamava-se Quintília? Conheci de vista,
quando andava na Escola de Medicina, uma linda moça com esse nome. Diziam que
era a mais bela da cidade.
— Há de ser a mesma, porque tinha essa fama.
Magra e alta?
— Isso. Que fim levou?
— Morreu em 1859. Vinte de abril. Nunca me há
de esquecer esse dia. Vou contar-lhe um caso interessante para mim, e creio que
também para o senhor. Olhe, a casa era aquela... Morava com um tio, chefe de
esquadra reformado; tinha outra casa no Cosme Velho. Quando conheci Quintília...
Que idade pensa que teria, quando a conheci?
— Se foi em 1855...
— Em 1855.
— Devia ter vinte anos.
— Tinha trinta.
— Trinta?
— Trinta anos. Não os parecia, nem era
nenhuma inimiga que lhe dava essa idade. Ela própria a confessava e até com
afetação. Ao contrário, uma de suas amigas afirmava que Quintília não passava
dos vinte e sete; mas como ambas tinham nascido no mesmo dia, dizia isso para
diminuir-se a si própria.
— Mau, nada de ironias; olhe que a ironia não
faz boa cama com a saudade.
— Que é a saudade senão uma ironia do tempo e
da fortuna? Veja lá; começo a ficar sentencioso. Trinta anos; mas em verdade,
não os parecia. Lembra-se bem que era magra e alta; tinha os olhos como eu
então dizia, que pareciam cortados da capa da última noite, mas apesar de
noturnos, sem mistérios nem abismos. A voz era brandíssima, um tanto
apaulistada, a boca larga, e os dentes, quando ela simplesmente falava,
davam-lhe à boca um ar de riso. Ria também, e foram os risos dela, de parceria
com os olhos, que me doeram muito durante certo tempo.
— Mas se os olhos não tinham mistérios...
— Tanto não os tinham que cheguei ao ponto de
supor que eram as portas abertas do castelo, e o riso o clarim que chamava os
cavaleiros. Já a conhecíamos, eu e o meu companheiro de escritório, o João
Nóbrega, ambos principiantes na advocacia, e íntimos como ninguém mais; mas
nunca nos lembrou namorá-la. Ela andava então no galarim; era bela, rica,
elegante, e da primeira roda. Mas um dia, no antigo Teatro Provisório entre
dois atos dos Puritanos, estando eu num corredor, ouvi um grupo de moços que
falavam dela, como de uma fortaleza inexpugnável. Dois confessaram haver
tentado alguma coisa, mas sem fruto; e todos pasmavam do celibato da moça que
lhes parecia sem explicação. E chalaceavam: um dizia que era promessa até ver
se engordava primeiro; outro que estava esperando a segunda mocidade do tio
para casar com ele; outro que provavelmente encomendara algum anjo ao porteiro
do céu; trivialidades que me aborreceram muito, e da parte dos que confessavam
tê-la cortejado ou amado, achei que era uma grosseria sem nome. No que eles
estavam todos de acordo é que ela era extraordinariamente bela; aí foram
entusiastas e sinceros.
— Oh! ainda me lembro!... era muito bonita.
— No dia seguinte, ao chegar ao escritório,
entre duas causas que não vinham, contei ao Nóbrega a conversação da véspera.
Nóbrega riu-se do caso, refletiu, e depois de dar alguns passos, parou diante
de mim, olhando, calado. — Aposto que a namoras? perguntei-lhe. — Não, disse
ele; nem tu? Pois lembrou-me uma coisa: vamos tentar o assalto à fortaleza? Que
perdemos com isso? Nada; ou ela nos põe na rua, e já podemos esperá-lo, ou
aceita um de nós, e tanto melhor para o outro que verá o seu amigo feliz. —
Estás falando sério? — Muito sério. — Nóbrega acrescentou que não era só a
beleza dela que a fazia atraente. Note que ele tinha a presunção de ser
espírito prático, mas era principalmente um sonhador que vivia lendo e
construindo aparelhos sociais e políticos. Segundo ele, os tais rapazes do
teatro evitavam falar dos bens da moça, que eram um dos feitiços dela, e uma
das causas prováveis da desconsolação de uns e dos sarcasmos de todos. E
dizia-me: — Escuta, nem divinizar o dinheiro, nem também bani-lo; não vamos
crer que ele dá tudo, mas reconheçamos que dá alguma coisa e até muita coisa, —
este relógio, por exemplo. Combatamos pela nossa Quintília, minha ou tua, mas
provavelmente minha, porque sou mais bonito que tu.
— Conselheiro, a confissão é grave; foi assim
brincando?...
— Foi assim brincando, cheirando ainda aos
bancos da academia, que nos metemos em negócio de tanta ponderação, que podia
acabar em nada, mas deu muito de si. Era um começo estouvado, quase um
passatempo de crianças, sem a nota da sinceridade; mas o homem põe e a espécie
dispõe. Conhecíamo-la, posto não tivéssemos encontros frequentes; uma vez que
nos dispusemos a uma ação comum, entrou um elemento novo na nossa vida, e
dentro de um mês estávamos brigados.
— Brigados?
— Ou quase. Não tínhamos contado com ela, que
nos enfeitiçou a ambos, violentamente. Em algumas semanas já pouco falávamos de
Quintília, e com indiferença; tratávamos de enganar um ao outro e dissimular o
que sentíamos. Foi assim que as nossas relações se dissolveram, no fim de seis
meses, sem ódio, nem luta, nem demonstração externa, porque ainda nos
falávamos, onde o acaso nos reunia; mas já então tínhamos banca separada.
— Começo a ver uma pontinha do drama...
— Tragédia, diga tragédia; porque daí a pouco
tempo, ou por desengano verbal que ela lhe desse, ou por desespero de vencer,
Nóbrega deixou-me só em campo. Arranjou uma nomeação de juiz municipal lá para
os sertões da Bahia, onde definhou e morreu antes de acabar o quatriênio. E
juro-lhe que não foi o inculcado espírito prático de Nóbrega que o separou de
mim; ele, que tanto falara das vantagens do dinheiro, morreu apaixonado como um
simples Werther.
— Menos a pistola.
Também o veneno mata; e o amor de Quintília
podia dizer-se alguma coisa parecido com isso; foi o que o matou, e o que ainda
hoje me dói... Mas, vejo pelo seu dito que o estou aborrecendo...
— Pelo amor de Deus. Juro-lhe que não; foi
uma graçola que me escapou. Vamos adiante, conselheiro; ficou só em campo.
— Quintília não deixava ninguém estar só em
campo, — não digo por ela, mas pelos outros. Muitos vinham ali tomar um cálix
de esperanças, e iam cear a outra parte. Ela não favorecia a um mais que a
outro; mas era lhana, graciosa e tinha essa espécie de olhos derramados que não
foram feitos para homens ciumentos. Tive ciúmes amargos e, às vezes, terríveis.
Todo argueiro me parecia um cavaleiro, e todo cavaleiro um diabo. Afinal
acostumei-me a ver que eram passageiros de um dia. Outros me metiam mais medo,
eram os que vinham dentro da luva das amigas. Creio que houve duas ou três
negociações dessas, mas sem resultado. Quintília declarou que nada faria sem
consultar o tio, e o tio aconselhou a recusa, — coisa que ela sabia de antemão.
O bom velho não gostava nunca da visita de homens, com receio de que a sobrinha
escolhesse algum e casasse. Estava tão acostumado a trazê-la ao pé de si, como
uma muleta da velha alma aleijada, que temia perdê-la inteiramente.
— Não seria essa a causa da isenção
sistemática da moça?
— Vai ver que não.
— O que noto é que o senhor era mais teimoso
que os outros...
—...Iludido, a princípio, porque no meio de
tantas candidaturas malogradas, Quintília preferia-me a todos os outros homens,
e conversava comigo mais largamente e mais intimamente, a tal ponto que chegou
a correr que nos casávamos.
— Mas conversavam de quê?
— De tudo o que ela não conversava com os
outros; e era de fazer pasmar que uma pessoa tão amiga de bailes e passeios, de
valsar e rir, fosse comigo tão severa e grave, tão diferente do que costumava
ou parecia ser.
— A razão é clara: achava a sua conversação
menos insossa que a dos outros homens.
— Obrigado; era mais profunda a causa da
diferença, e a diferença ia-se acentuando com os tempos. Quando a vida cá
embaixo a aborrecia muito, ia para o Cosme Velho, e ali as nossas conversações
eram mais frequentes e compridas. Não lhe posso dizer, nem o senhor
compreenderia nada, o que foram as horas que ali passei, incorporando na minha
vida toda a vida que jorrava dela. Muitas vezes quis dizer-lhe o que sentia,
mas as palavras tinham medo e ficavam no coração. Escrevi cartas sobre cartas;
todas me pareciam frias, difusas, ou inchadas de estilo. Demais, ela não dava
ensejo a nada, tinha um ar de velha amiga. No princípio de 1857 adoeceu meu pai
em Itaboraí; corri a vê-lo, achei-o moribundo. Este fato reteve-me fora da
Corte uns quatro meses. Voltei pelos fins de maio. Quintília recebeu-me triste
da minha tristeza, e vi claramente que o meu luto passara aos olhos dela...
— Mas que era isso senão amor?
— Assim o cri, e dispus a minha vida para
desposá-la. Nisto, adoeceu o tio gravemente. Quintília não ficava só, se ele
morresse, porque, além dos muitos parentes espalhados que tinha, morava com ela
agora, na casa da Rua do Catete, uma prima, D. Ana, viúva; mas, é certo que a
afeição principal ia-se embora e nessa transição da vida presente à vida
ulterior podia eu alcançar o que desejava. A moléstia do tio foi breve; ajudada
da velhice, levou-o em duas semanas. Digo-lhe aqui que a morte dele lembrou-me
a de meu pai, e a dor que então senti foi quase a mesma. Quintília viu-me
padecer, compreendeu o duplo motivo, e, segundo me disse depois, estimou a
coincidência do golpe, uma vez que tínhamos de o receber sem falta e tão breve.
A palavra pareceu-me um convite matrimonial; dois meses depois cuidei de
pedi-la em casamento. D. Ana ficara morando com ela e estavam no Cosme Velho.
Fui ali, achei-as juntas no terraço, que ficava perto da montanha. Eram quatro
horas da tarde de um domingo. D. Ana, que nos presumia namorados, deixou-nos o
campo livre.
— Enfim!
— No terraço, lugar solitário, e posso dizer
agreste, proferi a primeira palavra. O meu plano era justamente precipitar
tudo, com medo de que, cinco minutos de conversa me tirassem as forças. Ainda
assim, não sabe o que me custou; custaria menos uma batalha, e juro-lhe que não
nasci para guerras. Mas aquela mulher magrinha e delicada impunha-se-me, como
nenhuma outra, antes e depois...
— E então?
— Quintília adivinhara, pelo transtorno do
meu rosto, o que lhe ia pedir, e deixou-me falar para preparar a resposta. A
resposta foi interrogativa e negativa. Casar para quê? Era melhor que
ficássemos amigos como dantes. Respondi-lhe que a amizade era, em mim, desde
muito, a simples sentinela do amor; não podendo mais contê-lo, deixou que ele
saísse. Quintília sorriu da metáfora, o que me doeu, e sem razão; ela, vendo o
efeito, fez-se outra vez séria e tratou de persuadir-me de que era melhor não
casar. — Estou velha, disse ela; vou em trinta e três anos. — Mas se eu a amo
assim mesmo, repliquei, e disse-lhe uma porção de coisas, que não poderia
repetir agora. Quintília refletiu um instante; depois insistiu nas relações de
amizade; disse que, posto que mais moço que ela, tinha a gravidade de um homem
mais velho e inspirava-lhe confiança como nenhum outro. Desesperançado, dei
algumas passadas, depois sentei-me outra vez e narrei-lhe tudo. Ao saber da
minha briga com o amigo e companheiro da academia, e a separação em que
ficamos, sentiu-se, não sei se diga, magoada ou irritada. Censurou-nos a ambos,
não valia a pena que chegássemos a tal ponto. — A senhora diz isso porque não
sente a mesma coisa. — Mas então é um delírio? — Creio que sim; o que lhe
afianço é que ainda agora, se fosse necessário, separar-me-ia dele uma e cem vezes;
e creio poder afirmar-lhe que ele faria a mesma coisa. Aqui olhou ela espantada
para mim, como se olha para uma pessoa cujas faculdades parecem transtornadas;
depois abanou a cabeça, e repetiu que fora um erro; não valia a pena. —
Fiquemos amigos, disse-me, estendendo a mão. — É impossível; pede-me coisa
superior às minhas forças, nunca poderei ver na senhora uma simples amiga; não
desejo impor-lhe nada; dir-lhe-ei até que nem mais insisto, porque não
aceitaria outra resposta agora. Trocamos ainda algumas palavras, e retirei-me...
Veja a minha mão.
— Treme-lhe ainda...
— E não lhe contei tudo. Não lhe digo aqui os
aborrecimentos que tive, nem a dor e o despeito que me ficaram. Estava
arrependido, zangado, devia ter provocado aquele desengano desde as primeiras
semanas; mas a culpa foi da esperança, que é uma planta daninha, que me comeu o
lugar de outras plantas melhores. No fim de cinco dias saí para Itaboraí, onde
me chamaram alguns interesses do inventário de meu pai. Quando voltei, três
semanas depois, achei em casa uma carta de Quintília.
— Oh!
— Abri-a alvoroçadamente: datava de quatro
dias. Era longa; aludia aos últimos sucessos, e dizia coisas meigas e graves.
Quintília afirmava ter esperado por mim todos os dias, não cuidando que eu
levasse o egoísmo até não voltar lá mais, por isso escrevia-me, pedindo que
fizesse dos meus sentimentos pessoais e sem eco uma página de história acabada;
que ficasse só o amigo, e lá fosse ver a sua amiga. E concluía com estas
singulares palavras: "Quer uma garantia? Juro-lhe que não casarei nunca”.
Compreendi que um vínculo de simpatia moral nos ligava um ao outro; com a
diferença que o que era em mim paixão específica, era nela uma simples eleição
de caráter. Éramos dois sócios, que entravam no comércio da vida com diferente
capital: eu, tudo o que possuía; ela, quase um óbolo. Respondi à carta dela
nesse sentido; e declarei que era tal a minha obediência e o meu amor, que
cedia, mas de má vontade, porque, depois do que se passara entre nós, ia
sentir-me humilhado. Risquei a palavra ridículo, já escrita, para poder ir
vê-la sem este vexame; bastava o outro.
— Aposto que seguiu atrás da carta? É o que
eu faria, porque essa moça, ou eu me engano ou estava morta por casar com o
senhor.
— Deixe a sua fisiologia usual; este caso é
particularíssimo.
— Deixe-me adivinhar o resto; o juramento era
um anzol místico; depois, o senhor, que o recebera, podia desobrigá-la dele,
uma vez que aproveitasse com a absolvição. Mas, enfim, correr à casa dele.
— Não corri; fui dois dias depois. No
intervalo, respondeu ela à minha carta com um bilhete carinhoso, que rematava
com esta ideia: "não fale de humilhação, onde não houve público."
Fui, voltei uma e mais vezes e restabeleceram-se as nossas relações. Não se
falou em nada; ao princípio, custou-me muito parecer o que era dantes; depois,
o demônio da esperança veio pousar outra vez no meu coração; e, sem nada
exprimir, cuidei que um dia, um dia tarde, ela viesse a casar comigo. E foi
essa esperança que me retificou aos meus próprios olhos, na situação em que me
achava. Os boatos de nosso casamento correram mundo. Chegaram aos nossos
ouvidos; eu negava formalmente e sério; ela dava de ombros e ria. Foi essa fase
da nossa vida a mais serena para mim, salvo um incidente curto, um diplomata
austríaco ou não sei que, rapagão, elegante, ruivo, olhos grandes e atrativos,
e fidalgo ainda por cima. Quintília mostrou-se-lhe tão graciosa, que ele cuidou
estar aceito, e tratou de ir adiante. Creio que algum gesto meu, inconsciente,
ou então um pouco da percepção fina que o céu lhe dera, levou depressa o
desengano à legação austríaca. Pouco depois ela adoeceu; e foi então que a
nossa intimidade cresceu de vulto. Ela, enquanto se tratava, resolveu não sair,
e isso mesmo lhe disseram os médicos. Lá passava eu muitas horas diariamente.
Ou elas tocavam, ou jogávamos os três, ou então lia-se alguma coisa; a maior
parte das vezes conversávamos somente. Foi então que a estudei muito; escutando
as suas leituras vi que os livros puramente amorosos achava-os
incompreensíveis, e, se as paixões aí eram violentas, largava-os com tédio. Não
falava assim por ignorante; tinha notícia vaga das paixões, e assistira a
algumas alheias.
— De que moléstia padecia?
— Da espinha. Os médicos diziam que a
moléstia não era talvez recente, e ia tocando o ponto melindroso. Chegamos
assim a 1859. Desde março desse ano a moléstia agravou-se muito; teve uma
pequena parada, mas para os fins do mês chegou ao estado desesperador. Nunca vi
depois criatura mais enérgica diante da iminente catástrofe; estava então de
uma magreza transparente, quase fluida; ria, ou antes, sorria apenas, e vendo
que eu escondia as minhas lágrimas, apertava-me as mãos agradecida. Um dia,
estando só com o médico, perguntou-lhe a verdade; ele ia mentir; ela disse-lhe
que era inútil, que estava perdida. — Perdida, não, murmurou o médico. — Jura
que não estou perdida? — Ele hesitou, ela agradeceu-lho. Uma vez certa que
morria, ordenou o que prometera a si mesma.
— Casou com o senhor, aposto?
— Não me relembre essa triste cerimônia; ou
antes, deixe-me relembrá-la, porque me traz algum alento do passado. Não
aceitou recusas nem pedidos meus; casou comigo à beira da morte. Foi no dia 18
de abril de 1859. Passei os últimos dois dias, até 20 de abril ao pé da minha
noiva moribunda, e abracei-a pela primeira
vez feita cadáver.
— Tudo isso é bem esquisito.
— Não sei o que dirá a sua fisiologia. A
minha, que é de profano, crê que aquela moça tinha ao casamento uma aversão
puramente física. Casou meio defunta, às portas do nada. Chame-lhe monstro, se
quer, mas acrescente divino.
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