A consulta
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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O prefeito de polícia estava
naquele dia muito atarefado em providenciar a captura do Elefante Branco e, por
isso, não pudera dar começo à audiência pública que tinha marcado.
Sua Excelência ainda
conferenciava com o diretor das investigações, que lhe mostrava as impressões
digitais do imenso paquiderme, impressões obtidas em um casebre abandonado do
bairro da Saúde.
Pondo uma imensa lente sobre os
desenhos que o diretor lhe apresentava, o prefeito perguntou:
— Doutor, elefante tem dedos?
O sábio diretor titubeou e por
fim concordaram, o prefeito e o seu subordinado, que esse animal não possui
dedos.
— Resolveram encaminhar as
pesquisas para outros pontos e a audiência teve começo.
A primeira pessoa a entrar foi
uma senhora. Dizemos senhora porque em estilo administrativo e comercial todas
as mulheres são senhoras. A diferença de tratamento entre elas fica reservado
para outras ordens de estilo, entre as quais os daqueles que frequentam os
clubes “chics” e os bares noturnos.
Tratava-se de Mme. Déchue, que
foi logo dizendo ao prefeito:
— Vossa Excelência há de saber
que ando pior do que o judeu errante.
— Quem é a senhora? — perguntou a
poderosa autoridade colocando melhor o pince-nez.
— Eu sou Madame Déchue.
— Ahn!
— Não tenho onde morar.
— A senhora sabe que Lustosa,
Garibaldi, Manzini e outros dão essa função à polícia?
— De andar tocando os viventes
daqui para ali?
— A senhora é espirituosa.
— Não me creio assim, embora leia
com atenção os seus despachos publicados nos jornais.
— Afinal... Nós não estamos aqui
a trocar espírito... Que quer a senhora?
— Quero saber onde devo morar.
— Onde não houver famílias. Isto
está em Rimato, Salvador Rosa e outros.
— Mas, doutor, em toda a parte há
famílias. Já morei no Méier e a polícia fez-me mudar de lá porque era lugar de
famílias. Mudei-me para a tal rua, porque não era de famílias... Agora...
— Pode ficar certa de que com
isso nada tenho. A polícia só faz mudar; o resto é lá com vocês.
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