Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Sentado em um banco de madeira
tosca, colocado por ele próprio diante da sua chácara do "Bom
Retiro", a dois quilômetros de São Fidelis, olha o coronel Saturnino as
grandes águas do Paraíba, que rola, sereno e inchado, no rumo de São João da
Barra. A cinco metros do honrado fazendeiro, no leito do rio, emergem duas
cabeças queridas: a do filho, o Alfredinho, um pirralho louro, forte, vivaz, de
quatro anos, feitos em setembro, e a da sua segunda esposa, D. Florinda, cujos
cabelos castanhos, soltos e molhados, lhe orlam, como um capuz de freira, o
formoso rosto moreno. O fazendeiro olha, sorrindo, os dois banhistas que lhe
enchem o coração, e dá ordens:
— Não vá para longe, Alfredo.
Fique aí mesmo.
E para a esposa:
— Mergulhe, Lindinha. Está com
medo?
A moça dá um mergulho ligeiro, e
aparece mais distante, com os lindos olhos fechados, para que lhe escorra
melhor sobre o colo forte, como pérolas dissolvidas, a água que lhe encharca os
cabelos.
Diverte-se o coronel, assim, com
os dois anjos que lhe constituem a família, quando, tomando uma bilha velha e
inservível que se achava próxima, se põe de pé, e a atira, longe, um exercício
dos músculos vigorosos, na corrente do rio. Apanhada pela correnteza, a vasilha
de barro começa a descer, rápida, rodopiando, arrebatada pelas águas. De
repente, porém, com a boca para cima, começa a encher-se, afundando-se pouco a
pouco, até que desaparece, sem deixar vestígio, no tumulto um redemoinho
fervente.
Alfredinho olha, atento, a viagem
da vasilha, e, vendo-a desaparecer na voragem, franze o cenho infantil,
perguntando, intrigado, ao velho:
— Papai, por que é que a bilha
foi para o fundo?
— Porque entrou água; está claro!
— explicou o coronel.
— Ela não estava com a boca para
cima?
— Estava, sim.
— E como entrou água?
— Porque estava furada, — tornou
o velho.
O pequeno meditou um instante,
franziu a testazinha inteligente, e, olhando Dona Florinda, que se encaminhava
com o rosto fora d’água, para o meio do rio, gritou, alto, alarmado, com a
vozinha fina:
— Mamãe, venha mais p'ra beira!...
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