10/07/2017

Pensée (Conto), de Delminda Silveira


Pensée

Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)

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Nunca, se me souberes amar, Henrique, nunca eu te hei de esquecer.

Assim o creio, Heloísa, e assim também o sente meu coração. Assim o tenho gravado na mente; sempre em ti pensarei; sempre merecerei o teu afeto, pois sempre hei de te adorar, ainda que nos separe o destino cruel, — sou teu.

Beijos, abraços e lágrimas selaram o juramento da despedida.

Henrique partiu.

Que ternas letras ao princípio! Quantas flores da alma aí trescalavam o divinal aroma...

Saudades, sempre-vivas, não me deixes, miosótis, amores, cravos, perpétuas e martírios... que precioso ramalhete das flores do coração!...

Seis meses se passaram; as cartas dele já não traziam tantos perfumes: que flor aí faltaria?...

Que raras saudades!... e as outras flores, murchariam no jardim de Henrique?

Ela tentara revivê-las, regando-as com lágrimas; porém o jardim de Henrique se tornará improdutivo!

Naquele horto de amores —, outrora tão fértil e onde tão delicadas flores brotaram, só duros espinhos medravam agora.

Esquecia-se... Henrique esquecia-se de cultivar as meigas flores do coração e as deixava fanarem-se... morrer...

Heloísa entristeceu e chorou como a violeta que roreja de lágrimas a terra, e gemeu como a rola abandonada na solidão. Em torno dela a luz escureceu e se fez noite...

Depois, um dia raiou, e no coração em que o sopro cruel do desengano desfolhara as meigas flores das ilusões, doces raio de sol penetrou que fez desabrochar mimosa flor iriada: aquela a que os franceses chamam Pensée...

Ah! A ingratidão é o sopro devastador que arrebata os mais puros sentimentos da alma; — a gratidão é o doce raio de sol que, aquecendo o coração, faz nele brotar o mais terno e sincero afeto.

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