Gratidão de um filho, ingratidão de Outro (Hebel)
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Quem reparar um pouco, há de ver muitas vezes que o
homem na velhice é tratado por seus filhos exatamente do mesmo modo, como ele
havia tratado seus pais, quando eram velhos e já sem forças. E isto
compreende-se bem. Os filhos aprendem com os pais; não veem nem ouvem mais
ninguém, e por isso seguem o seu exemplo. Assim se verifica naturalmente o que
tantas vezes se diz, e está escrito: “a bênção e a maldição dos pais vem cair
sobre os filhos.”
Ouçamos agora duas histórias que se contam a propósito
disto: a primeira é digna de imitação; a segunda merece ser muito meditada.
Uma vez um certo príncipe foi dar um passeio a cavalo,
encontrou-se com um camponês diligente e alegre, que andava a trabalhar em um
campo, e pôs-se a conversar com ele.
Dali a alguns dias soube o príncipe que o campo não
era propriedade daquele homem, o qual não passava de um jornaleiro que pela
módica quantia de três tostões por dia cuidava do seu amanho. O príncipe, que
para os pesados encargos do governo precisava de
enormíssimas somas, não podia compreender como três tostões diários eram meios
bastantes para o nosso homem viver, e de mais a mais de rosto tão alegre. Este
porém respondeu-lhe: “Nada me faltaria, se eu pudesse dispor de todo esse
dinheiro: a terça parte chega-me bem; com um terço pago as minhas dívidas e a
terça parte restante pertence às minhas economias.” O bom do príncipe ficou
ainda mais admirado. Mas o camponês continuou: “O que tenho, reparto-o com meus
pais, que são velhos e já não podem trabalhar, e com meus filhos, que andam por
ora a aprender; àqueles pago-lhes o amor com que me trataram na minha infância,
e destes espero que não me abandonarão também na minha cansada velhice.” Não é
verdade que tudo isto foi muito bem dito, é ainda melhor pensado, e ainda muito
melhor executado? O príncipe recompensou aquele homem de bem, olhou com desvelo
pelos filhos, e a bênção que os pais lhe lançaram ao morrer, foi-lhe retribuída
pelos filhos agradecidos com amor e amparo.
Havia porém outro homem que tratava tão mal seu pai, a
quem a idade e as doenças tinham na verdade tornado impertinente, que o
velhinho mostrou desejos de entrar em um hospital de pobres, que havia na mesma
aldeia. Ali esperava ele, apesar do pouco afeto, pelo menos ver-se livre das
repreensões que em casa lhe amarguravam os últimos dias da vida. O filho
ingrato saltou de contente apenas soube dos desejos do pobre velho, e ainda
antes de o sol se esconder por detrás das montanhas vizinhas, já eles estavam
satisfeitos. Mas no hospital não encontrou ele tudo quanto desejava, e passado
algum tempo pediu ao filho, como último favor, que lhe mandasse dois lençóis,
para não ter de dormir toda a noite na palha estreme.
Procurou este os piores que tinha, e chamando seu filho, criança de dez anos,
ordenou-lhe que os levasse ao hospital.
Ficou porém admirado ao ver que o pequeno escondia a
um canto um dos lençóis e só levava ao avô o outro; e apenas ele veio,
perguntou-lhe porque tinha feito aquilo. O filho respondeu friamente que tinha
guardado um dos lençóis para o dar ao pai, quando mais tarde o mandasse para o
hospital.
Que lição tiramos daqui?
Honra
teu pai e tua mãe, para que sejas feliz.
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