10/22/2017

Dezoito anos (Conto), de Ana de Castro Osório


Dezoito anos
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
---
A tia Clara, essa adorável velhinha que fez há dias cento e quatro anos, teve também os seus dezoito — e por sinal encantadores de frescura e graça.
Mal podemos crer isto, nós que a vemos hoje tão serena, tão identificada com a nossa vida, tão igual a nós pela lucidez do espírito, sempre de uma inteligência e de um interesse perfeitamente juvenil.
Eu adoro essa querida velhinha que não se envolveu nas recordações e remordimentos egoístas como numa antipática couraça eriçada de espinhos.
Não! Ela recorda todo o passado, mas suavemente, sem comparações desfavoráveis para nós, como os velhos impertinentes costumam!... Relembra, levemente melancólica, os tempos longínquos da mocidade, tão distante aos nossos olhos, tão vivos ainda na sua memória.
A sua alma é um piedoso Campo Santo habitado pela saudade de todos os seus amigos, de toda a sua família mais próxima, que a um e um a foram deixando na velha casa senhorial, já em parte abandonada de grande que é!... mas o seu coração santíssimo vai florindo sempre jovem, amando com igual afeto todos os que de novo chegam à família...
Ah! Eu não me esqueço, minha boa amiga, da saudade reconhecida que me ficou na alma quando, a última vez que a visitei, a vi afastar-se lentamente na meia obscuridade do longo corredor. Seguia-a um ligeiro esvoaçar de recordações, toadas simples vindas de muito longe— os franceses, guerras, mortes, nascimentos, toda a sua vida singela passada na hereditária quinta perdida entre serras, onde os ecos do mundo devem ter chegado sempre esbatidos em meias tintas pálidas.
Tenho ainda no meu ouvido o som inolvidável da sua vozinha quebrada dizendo serena e sorridente: “assisti às últimas endoenças no convento de Maceira Dão!...” E tudo morto nesse passado cheio de poesia, visto assim de longe, evocado pelo seu espírito bondoso!...
Mas a desvairada fuga aos franceses é que eu, mais do que tudo, gosto de lhe ouvir contar.
***
— Era uma tarde de fins de setembro, luminosa, quente ainda. O céu, todo em fogo no poente, flamejava num incêndio colossal— toda a alma da Pátria agonizante levantando para Deus a última esperança, no último clarão de tiros ao longe.
Os franceses, os franceses!...” Esse grito estridente como uivos de animais apavorados corria de boca em boca, era um sinal de fuga, de miséria, de espanto geral.
O povo ignorante e bom voltava para o céu os punhos cerrados numa desesperada ameaça. Abandonado por todos na sua pátria invadida, agarrava-se à terra como à sua única defesa, o seu único amor, a única razão de existir.
As mães uivavam de dor pelos caminhos, torciam os braços convulsos vendo do alto dos montes os filhos que partiam para a guerra. Outras estarreciam-se num silêncio medroso...
Toda a alma portuguesa fremia num anseio de liberdade.
Os reis fugiam desprezivelmente covardes; os ricos ainda por vezes abriam os seus palácios em festa ao passeio triunfal dos invasores; só no povo era sem tréguas o ódio. Ele saberia resistir ou morrer! Miserável povo que sacudiu num ímpeto de revolta olímpica o jugo dos invasores e acurvou a cabeça humilde às exigências dos aliados! Desgraçada gente que não teve a hombridade de receber na ponta das suas baionetas ensanguentadas pelos inimigos os reis que o tinham abandonado nas horas más! Ingênuo povo que todos vão acordar em sobressalto quando o perigo bate à porta e de que todos se riem depois, quando não é já precisa a força do seu braço nem a fúria da sua coragem!...
Também a Fornos de Maceira Dão, a esse cantinho da Beira que parecia dever estar esquecido, guardado pelos matagais e serranias bravas, chegou o desvariado clamor, o tremendo grito:
Os franceses, os franceses!...” a pôr em fuga toda a família da Clarinha — era assim chamada há oitenta e seis anos a minha boa tia Clara.
Ela era a mais nova das irmãs; fina, graciosa, de uma palidez de reclusa, uma grande curiosidade perfulgindo nos seus olhos castanhos.
Ao saber a notícia o coração pulsou-lhe comovido numa inconfessada alegria... Qual de nós aos dezoito anos não compreenderá essa alegria? Não ter saído nunca do seu vetusto solar — salas e salas, quartos incontáveis, corredores tão compridos que é impossível conhecer quem vem ao fundo!... Os santos da capela doirados e ridentes seriam os seus mais queridos companheiros, aqueles que melhor compreenderiam a sua alma inquieta, sedenta de novo!... Se ela não havia de estar alegre, no fundo, bem no fundo do seu coração, por essa fuga decidida que a ia tirar por algum tempo da monótona vida de todos os dias?!...
Era triste a existência da Clarinha, passada na miserável aldeia de casebres colmados, que rodeiam a quinta dos fidalgos como outrora as choupanas dos servos se encostavam medrosas às fortificações dos castelos feudais. As irmãs, casadas; os irmãos, passando a vida dos fidalgos daquele tempo, caçavam, namoravam as primas de vinte léguas em redor, estafavam cavalos e corriam as feiras.
De quando em quando, pelas festas do ano, cortavam o fastidioso correr da vida cavalgadas que chegavam ao pátio, primos e primas que se apeavam contentes abraçando a Clarinha, que alvoraçada os vinha esperar à porta. Então, dançava-se, passeava-se e, mais do que tudo, comiam-se jantares fenomenais e ceias luculianas.
Mal os hóspedes saíam, a vida regulava-se tediosamente como de costume e apesar da família ser muita, passavam uns pelos outros como sombras na enormidade da casa. Quantas vezes, pelas agonizantes tardes de outono, não atravessou ela a quinta e subindo o outeiro em frente se foi sentar nos degraus do Santo Cristo, fantasiando o mundo, sonhando com alguma coisa nova que a fizesse sofrer e viver?!...
Já então, como agora, como será daqui a muitos anos, a imagem do Cristo era ingenuamente feita de uma fealdade que espanta, escondendo-se no seu nicho branco, erguendo na tristeza da paisagem os braços misericordiosos de Deus moribundo perdoando sempre à humanidade que chora.
Como agora também, a Clarinha ouvia pela quebrada das serras os carros chiando carregados com as dornas para os lagares... Os bois olhavam-na pensativos, sacudindo as cabeças filosoficamente, fazendo retinir as campainhas das coleiras de couro que lhes cingem os cachaços robustos... Primitiva e sempre igual a vida passada naquele recanto de natureza agreste.
Que admira pois que a Clarinha ficasse intimamente alegre quando o medo aos franceses a atirou para longe— como um passarito engaiolado a quem de súbito abrissem as portas do cárcere e visse diante de si o luminoso espaço onde à vontade poderia bater as azas!?...
Os franceses, os franceses!...” Era alguma coisa de vivo, e espirituoso e brilhante, que ela não conhecia, mas que a não assustava.
Nessa tarde luminosa de fins de setembro os cavalos esperavam no pátio desde muito e só a Clarinha, impaciente, estava montada. Toda a família partia: quarenta pessoas, entre velhos, mulheres, crianças e criados — que eram, patriarcalmente, uma continuação menor da família. Os homens válidos, os rapazes, esses lá andavam pela guerra, e bastante invejados pela Clarinha!... Os velhos despediam-se chorosos. Arrancavam-se dali como quem tirasse de um peito ainda vivo um coração sangrento. Fugia-lhes a vida em gemidos. Os cedros da quinta tinham para eles a magoada significação dos ciprestes da igreja, onde toda a sua família, desde séculos, ia dormir descansadamente; mais felizes eram esses...
Pela madrugada chegaram a Viseu. Deserta a pequena cidade, de sombrias e tortuosas ruas. Os cavalos batiam rijamente nas calçadas, pondo em sobressalto os pacíficos habitantes. Abriam-se janelas a medo e caras enfiadas de susto espreitavam inquirindo: seriam os franceses?!... — Não, não eram ainda, mas gente que fugia deles!... — Então sempre era certo; vinham, vinham!... — E as janelas fechavam-se rapidamente como se quisessem espancar assim a visão dos franceses, monstros de pesadelo!
Caminhavam sempre. Em São Pedro do Sul, a mais risonha terra da Beira, um jardim que a natureza cultiva amoravelmente entre as rudes serranias beirãs, o mesmo pânico estampado em todos os rostos que entreviam— que raros eram!... Um deserto que se fazia por toda a parte ao grito terrificante: “Os franceses, os franceses!...”
E esse grito de pavor perseguia-os sempre, como dobre a finados para os velhos e medo para as criancitas — que imaginavam o papão formidável e negro levando os meninos nas garras aduncas!... Só as mulheres, com o espírito mais vivo, mais aventuroso, começavam a achar deliciosa aquela correria louca diante do desconhecido. Para a Clarinha era sempre a mesma ideia: — eles seriam alguma coisa de vivo e espirituoso e brilhante, que ela não conhecia, mas que a não assustava!...
A noite caía muito fria, desse frio seco e cortante da serra. As estrelas brilhavam mais do que nunca, com um nervoso piscar de olhos bonitos... Ela olhava-as, sonhando acordada!— Via um cavaleiro vestido de ouro que levava pela estrada da via láctea todo um povo conquistador e belo... E uma águia enorme, com azas feitas de soes, cobria o mundo numa efabulação de luz!...
Ali tiveram que parar algumas horas. O pequenino irmão da Clarinha, o mais novo da família, a criança que ela amava já com entranhas maternais, ficou-lhe sem vida nos braços, morto quase repentinamente pelo frio e incomodidades da jornada. E esse pequenino corpo que em circunstâncias normais ela teria chorado desesperada, cobrindo-o de beijos, saiu-lhe quase indiferentemente dos braços fatigados. Era a própria mãe que lhe dizia que não chorassem; era preciso fugir, fugir, fugir sempre: “Os franceses, os franceses!...” Era a própria mãe, tão extremosa, tão cheia de cuidados por todos, quem dizia aquilo!... Pasmava.
Bem certo é que as grandes dores se fazem pequenas quando não há tempo para as sentir. O medo é um grande consolador.
Ao saírem de São Pedro do Sul, entravam os franceses pelo outro lado. Algum destacamento perdido do grosso do exército, ou talvez esfomeados procurando víveres... Em todo o caso levando o pânico até onde chegava o ruído das suas vozes de comando.
E esse dia passado sem comer, porque apenas tinham levado um pão para cada um, não contando com o deserto em que tudo se encontrava, enervava-os, fazia-lhes alucinações, mal se podiam sustentar sobre os cavalos.
Chegaram à Trapa. Oh, a horrorosa terra!— Casitas negras e baixas, feitas de pedras soltas cobertas de colmo e telha vã, sem janelas nem frestas, uma única porta para dar luz e para a entrada. Mais pareciam tocas de animais selvagens do que habitações de gente, num país civilizado.
O avô da Clarinha, apesar de velho a quase não poder mexer-se, viera deitado num carro de bois até ali; mas então desanimou: — que o deixassem, que o deixassem!... Morria mais descansado. Os franceses não o descobririam naquela terra inculta que se debruça no abismo das montanhas e nem de longe se distingue da negrura delas; que fugissem, que fugissem depressa!... — E no egoísmo dos grandes perigos ninguém se lembrou de contradizer o velho. Ele era um estorvo na viagem; ficarem todos seria talvez a morte. Só a mãe da Clarinha ficou para acompanhar o sogro, que numa incoercível lágrima de saudade deliu todas as mágoas da sua última hora. Porventura ele revia nesse momento único toda a sua vida passada: — a casa onde nascera e contara morrer, as árvores muito amadas... Festas de família, perfis de parentes mortos havia muito, casamentos, caçadas, pressentimentos de desgraça para os filhos e netos, que andavam na guerra... — Tudo isso se devia confundir, amalgamar, no aturvado ânimo do pobre moribundo.
Os outros continuavam a jornada passando por terreolas abandonadas, de uma desolação infinita. Essa região montanhosa, largamente bosquejada, de uma austeridade de contornos que limita a fantasia, tem sempre uma estranha beleza selvática, que intimida os mais alegres. Então, precipitadamente abandonada pelos seus bisonhos habitadores, devastada pelos fugitivos que passavam em caravanas, em famílias, um a um, como lobos perseguidos, tinha um aspecto quase trágico, macabro como um desenho de Doré, mas para eles tudo era bom, tudo divertia e alegrava na excitação da fuga. Aqui, tinham todos por cama uma casa térrea cheia de palha e de manhã acordavam cobertos com um frio e branco lençol de geada... Além, comiam feijões cosidos sem nenhum tempero e pão de cevada negro e pegajoso como o pez... E tudo suportavam alegremente no egoísmo brutal e profundamente humano — de viver e ter saúde.
Tias e primas da Clarinha, velhas senhoras habituadas à doce paz do chazinho conventual, suspiravam, lamentavam-se muito por o não terem tomado havia uns poucos de dias! Afirmavam— que antes queriam ficar sem pão. Deu-se volta aos alforjes e numa algazarra cheia de alegria cada um apareceu triunfante com sua coisa, que na precipitação da última hora ali tinha metido sem saber para quê, sem mais se lembrar de tal. Havia chá, açúcar e água, até xícaras apareceram; mas onde a chaleira?... Todos os olhos se dirigiram para a panela de barro negro onde se tinha cosido o caldo... Era a única coisa que havia e essa mesmo serviu; sem que ninguém se lembrasse de aventar repugnâncias... E por essa noite frigidíssima de fins de setembro, numa casita negra esburacada, perdida entre serras e matas, elas tomaram o seu chazinho quente, que teve um sabor particular — nada bom a dizer a verdade— mas que lhes lembrou toda a vida.
Pela serra da Gralheira fora era um nunca acabar de risos e gritos alegres, quando um caía do cavalo, quando outro escorregava, e principalmente com as histórias do guia, o padre Manuel da Trapa. Era um bom homem rústico, folgazão e falador como poucos, um montanhês às direitas, português velho. Desprezava os franceses; não chegava mesmo a acreditar neles. Por sua vontade tinham ficado todos na residência e os tais franceses que aparecessem!...
Súbito, interrompendo uma história que ele ia contando aos da frente, um grito saiu dilacerante de uma boca contorcida. Todos pararam ansiados, voltando a cabeça para traz. Aquele grito tinha vindo tão do fundo d'alma, revelava uma tal acuidade de sofrer, que a todos fez pulsar o coração pensando em que alguém tivesse rebolado pela montanha abaixo despedaçando as carnes pelos fraguedos! Não era isso, mas um sofrimento maior ainda, que gritava assim desesperado: — uma tia da Clarinha saltara do cavalo e, pálida de morte, estorcia-se no mais pavoroso inferno de dores! Estava grávida no último período e todas aquelas comoções e sustos tinham apressado a crise. Que fazer? Olhavam-se todos aterrorizados, indecisos... Impossível parar naquele descampado, seria matá-la... E os franceses!?...
“Com trezentos diabos, isto não pode ser assim!”— gritava furioso o padre Manuel, sem nenhuma atenção nem sombra de delicadeza pelo sofrimento crudelíssimo da pobre mulher. Com uma voz que ele se esforçava por tornar ainda mais rude do que naturalmente era — para disfarçar o diabo de um nó que se lhe pusera na garganta, explicava ele depois — mandou que lhe dessem a senhora que ele a levaria diante de si. A boa égua podia com tudo e depois — que diabo, já estavam perto da estalagem das Maçarocas, no caminho do Porto, bem conhecida por aquelas redondezas.
E lá continuaram a marcha, agora tristemente acompanhada pelos gemidos da infeliz criatura, que sofria cada vez mais.
Chegaram enfim a Carregal de Monhoce, uma insignificante aldeia quase desconhecida de todo. Em frente era o Bussaco; sentiam-se tiros ao longe; o que iria por lá?...
Os franceses, os franceses!...” E a Clarinha, pondo os olhos na linha arroxeada e muito nítida da montanha fronteira, pensava neles... Nunca os vira mas sonhara sempre com alguma coisa de extraordinário e cintilante, que a não assustava no fim de contas!...
Terminada a guerra, tornaram pacificamente para a grande casa, que ela encontrou ainda mais sombriamente solitária. Muitos faltaram à chamada, no primeiro repasto de expatriados que reviam o seu lar bem amado!...
E a Clarinha lá continuou a sua vida, a mesma, sempre cortada pelos mesmos incidentes de visitas e festas.
O Santo Cristo era, como hoje é também para nós, o seu passeio favorito nas tardes melancólicas de outono — estação de tristezas e desalentos, que morre lentamente em cada folha que se desprende das árvores, lágrimas silenciosas da natureza, que em breve será de luto, quando o inverno vier implacável... Em frente, a verde cortina dos pinheiros mansos esconde o antigo convento de Maceira Dão. Triste, bem triste, é hoje esse convento em ruínas onde a erva cresce em liberdade, atravessado por todos os ventos, por todas as chuvas; é quase um milagre estar ainda em pé! Nesses tempos, que tão remotos nos parecem já, como ele devia ser bonito! E a tia Clara, sentada nos degraus da capelinha, ouviria com um doloroso confranger de coração a austeridade do bronze chamando ao coro os bons frades cistercienses.
Aquele som lacrimoso devia repercutir-se de serra em serra como um soluçar de penitência. Como ia longe, a tarde luminosa de fins de setembro, quando o grito “Os franceses, os franceses!...” afugentou e confundiu tudo!...
Mais tarde houve ainda um rasgão de luz na sua vida monótona: um novo clamor de guerra punha as almas em sobressalto. O grito de liberdade foi um rastilho de fogo que incendiou todas as cabeças. Os frades fugiram; os irmãos, os homens da família, foram todos combater por D. Miguel. Quando ele foi expulso, quando a guerra acabou tão frouxamente que a esperança continuou por largos anos no ânimo dos legitimistas, os irmãos da tia Clara recolheram à velha casa de província onde por muito tempo ainda se reuniram todos os fiéis partidários do rei absoluto que viviam nas Beiras e Trás-os-Montes.
Depois, tudo foi passando...
A morte e a vida vieram de mãos dadas terminar muita esperança, muita alegria, como enxugar muitas lágrimas com novas felicidades!... Na memória dulcíssima da nossa adorável velhinha é que tudo vive intato. Principalmente os longínquos fatos da sua mocidade, e, entre eles, essa aventurosa fuga aos franceses — o que eu mais gosto de lhe ouvir contar.
Recorda a com tantas particularidades, com tal clareza de incidentes, que me enche de admiração. Coisas passadas há menos tempo não as recorda ela tão nitidamente! Lembra o sinal vincado com a unha na passagem mais interessante de um romance e que de folha para folha se vai conhecendo menos até desaparecer de todo.
Um dia perguntei-lhe também: “Tia Clara, que há de verdade no “Retrato de Ricardina”, naquele romance de Camilo passado aqui tão perto?!...”

“Alguma coisa ha!... Bem tristes tempos eram esses!...” E a sua venerável cabeça branca inclinou-se umas poucas de vezes numa recordação que lamentava ainda — lágrimas vistas correr há muitos anos e nunca esquecidas!...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sugestão, críticas e outras coisas...