As rosas da caridade
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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É bem conhecida a lenda do milagre das rosas de Santa Isabel, mas tão linda, tão comovedora é, que não posso furtar-me ao desejo de intercalar entre os meus singelos Contos de um instante, a interessante narrativa desse episódio em que, num momento, a Providência Divina transformou em perfumadas rosas os socorros piedosos da caridade bendita.
Isabel, a formosa e compassiva rainha da Hungria, era o anjo consolador dos pobres vassalos desde os arredores do seu Castelo a muitas léguas distante.
Um belo dia, caminhava a piedosa soberana, acompanhada unicamente de sua fiel donzela, por um dos mais escuros carreiros do campo, levando no regaço do manto, pão, ovos e outros comestíveis mais, destinados aos seus pobres, quando, em uma volta do caminho, encontra-se face a face com o severo esposo que voltava da caça pelos montes.
Surpreendido este de vê-la assim curvada caminhando, como se a custo levasse pesada carga, estende a mão ao regaço que ela atemorizada conchegava ao seio, dizendo: — que levais aí, Senhora?
— São rosas... responde-lhe timidamente a Santa.
— Vejamos essas rosas tornou ele, com irônico sorriso, pois que era passada a estação das flores e nem pelos campos, nem nos seus magníficos jardins se via desabrochar rosa alguma, — e desprendendo com violência o regaço que a caridosa mão colhia, só de rosas brancas e purpurinas viu cobrir-se o solo sobre o qual Isabel caiu de joelhos no meio da mais primorosa alcatifa!
Atônito, quis então o desumano Senhor reanimar a Esposa com suas carícias, porém deteve-se deslumbrado pela aparição da imagem luminosa de um crucifixo que, pairando por sobre a cabeça de Isabel, a envolvia no suavíssimo clarão de uma bênção divina...
O arrependimento, os remorsos pungiram o coração antes insensível, do soberbo Landgrave que, prostrando-se com recolhimento verdadeiro, levantou uma daquelas maravilhosas flores, guardando-a por memória do glorioso sucesso com que Deus quisera rasgar-lhe a venda que aos olhos da alma ocultava as misérias humanas, bem como os inefáveis encantos da Caridade divina. Agora, humilde, pedia à Esposa que continuasse sua piedosa jornada, sem o menor receio, e de volta ao castelo, meditava no poder do Amor de Deus.
Por eterna memória deste milagre da Caridade, ao lado de um antigo carvalho cuja sombra tivera lugar tão providencial encontro, ele mandou levantar uma suntuosa coluna encimada por uma formosa Cruz, grata lembrança daquela que, resplandecente mais que a coroa da realeza, viria fulgir sobre a imaculada fronte da bem-aventurada Isabel.
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