Agar
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Sobre o pálido azul do Oriente desdobrava a aurora o seu manto de púrpura e ouro; brilhante véu de luz escondera as estrelas do firmamento.
Além, além pela solidão do deserto, caminhava Agar, — a escrava sem lar, sem amor.
Dormia-lhe Ismael nos braços e de seus ombros delicados pendia-lhe uma cabaça com água e um alforje com pão.
Seus olhos tristes dirigiam-se ao Céu resplandecente, enquanto dos lábios vermelhos como a silvestre flor que vem de desabrochar, voam-lhe suavíssimas preces envoltas nos suspiros da Natureza.
Oh! Deus! exclama, não pereça Ismael, meu filho caro, por meu seio, de cansado, negar-lhe o doce alimento. Antes que o sol desapareça nesta soledade, dá que meus olhos avistem os verdores de um Oásis em que possam repousar meus fastigados membros, e onde minha boca sequiosa encontre o veio de alguma cristalina fonte.
E ela estendia a vista pela imensidade cujas areias brilhavam aos raios do sol ardente, como poeira de diamantes.
Ismael acorda.
Mãe, água! debilmente balbucia com voz suave e meiga como o balido da ovelha terna.
Agar olha derredor...
Só o areal, que fulgia como uma poeira de diamantes!
Deixando o filhinho sobre o chão abrasador, ela afastou-se febril, em lágrimas, murmurando:
Ao menos não o verei morrer!
Agar, Agar! uma voz suavíssima, do alto, disse.
E um anjo formoso, em alvíssima nuvem brilhante tocava-lhe o ombro, como se a despertasse.
Agar fitava-o, pasma.
— Toma água dessa fonte, bebe, e dá de beber a teu filho. Deus é convosco; caminha; Ismael será o chefe de uma poderosa nação.
E a visão desapareceu.
Como um espelho de cristal, uma fonte d'água puríssima e fresca se estendia, ali, no areal do deserto inclemente.
Agar tomou seu filho, e, naquela maravilhosa fonte, com ele, desalterou o peito enfebrecido.
Ismael veio a ser o pai de um grande povo.
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