A estrela da bonança
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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O mar estava negro, e negro estava o Céu.
Temerosas vagas erguiam-se à altura dos rochedos, onde se despedaçavam com pavoroso fragor, espumantes de ameaçadora fúria.
Impelidos pelo tufão, corriam no espaço escuros nimbos semelhando enormes abutres pairando por sobre abismos insondáveis.
A natureza toda parecia envolta no lutuoso véu da morte.
Deus! entre horrores do Céu e do Oceano, um navio rodopiava à mercê da tormenta!
No tombadilho, a equipagem silenciosa agrupava-se presa de terror, que o piloto, desanimado, já não mandava a manobra, perdida o rumo, a bússola desarranjada.
Era a hora da Ave Maria; — em meio do horror da tempestade, o capitão descobre a fronte morena, prostra-se de joelhos e convida a orar.
Toda a tripulação descobre-se e ajoelha sobre o tombadilho.
Virgem Senhora da Bonança, Estrela, radiosa do Céu e do Mar, pelas sete dores que te pungiram o materno coração quando peregrinavas na terra; pela Cruz bendita de teu Filho Santo, estende por sobre este Céu de horrores o teu manto azul e mostra-nos no horizonte a formosa estrela da tarde imagem tua.
Estampa no firmamento da noite o Sete estrelo, — símbolo das tuas dores indizíveis, e o cruzeiro brilhante, formoso emblema da salvação. Nós, pecadores agradecidos, levaremos ao sopé do teu altar augusto as rotas velas da nossa desventurada barca homenagem de fé e gratidão ao teu piedoso amor...
O trovão reboou no espaço...
O raio fendeu a negrura do Céu.
Romperam-se os nimbos e a chuva caiu torrencial.
Lá, no longínquo horizonte, rasgou-se a cobertura da tempestade, descobrindo uma nesga de azul puríssimo, e a formosa estrela da tarde lentamente surgiu por entre os véus despedaçados da procela...
Era que a Virgem da Bonança estendia o seu manto azul constelado, em que resplandecia o Sete-estrelo e o cruzeiro formoso!
E o mar, pouco a pouco sossegado, retratava humilde a radiosa estrela bendita.
Depois, quando a manhã serena já dourava as ondas mansinhas, na praia, os marinheiros enastravam de flores as rotas velas da embarcação, conduzindo-as, após, reverentes, entre cânticos de louvores, ao sopé do altar em que a formosa imagem da Virgem Senhora da Bonança parecia acolher com sorriso de maternal amor o preito singelo de tanta fé e gratidão.
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