O Padre Antônio Vieira
Texto escrito por J. Rodrigues de Xavier Pinto, em 1856. Pesquisa, a transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2017)
A rainha da Suécia, como todos os príncipes seculares que tinham ouvido Vieira neste sermão, foram pródigos em elogiá-lo, mas estes aplausos espontâneos longe de o tornarem orgulhoso mais lhe ofendiam a modéstia. É que ele representava a humildade em toda à sua plenitude, e as vaidades mundanas iam quebrar-se de encontro à sua roupeta de jesuíta!...
A 12 de
setembro de 1680 recebeu Vieira uma carta do seu geral, João Paulo Olívio, em
que este lhe participava que a rainha da Suécia o elegera seu confessor.
Vieira
recusou, pretextando que não se julgava digno de preencher tão honroso lugar; e
que todo o seu empenho era reduzir à lei de Cristo os gentios do Brasil, para
onde embarcara de novo a 22 de novembro de 1662. Foi no Maranhão que ele fundou
essa missão — seu sonho dourado, que devia em pouco tempo arrebatar das trevas
um grande número de Índios. Para ampliar mais ó seu pensamento, embarcou outra
vez para Lisboa, a 16 de julho de 1653, onde após de muitos obstáculos,
conseguiu del-rei D. João IV, a liberdade dos índios, que Vieira julgava
necessária e conducente à sua conversão. Não admira pois que a missão que
fundara o obrigasse a visitar onze vezes as residências dela, navegar vinte e
dois rios tão extensos como o mediterrâneo, e discorrer a pé quatorze mil
léguas por lugares incultos e solitários, sob um calor excessivo, e outras
vezes debaixo de horrorosas tempestades. Atestam-no as dezesseis igrejas que
levantou, e com que despendeu cinquenta mil cruzados em ornamentes; atestam-no
a multidão de gentios Inheigaras, Tupinamdás e Poquiguarás que converteu nos
sertões do Ceara, Maranhão, Pará e Amazonas; atestam-no enfim os Nheengaibas
que agradecidos por tê-los reduzidos à fé católica, o receberam em triunfo a 16
de agosto de 1659!... O geral da companhia, Tirso Gonsalves o elegeu, a 17 de
janeiro de 1688 visitador da província do Brasil, e absoluto superior das
missões, lugares que aceitou constrangido, porque ele nascera para obedecer e
não mandar.
Tantas virtudes
especiais, tantos serviços eminentes deviam ser recompensados. Assim sucedeu;
Vieira foi estimado pelos pontífices Inocêncio X e Clemente X, como o gigante
do Evangelho, como o Salomão da Constância e como o apóstolo da verdade. Luiz
XIV, de França. D. João IV, e D, Pedro II, de Portugal, o duque de Florença
enfim, quiseram remunerar o seu talento e virtudes enchendo-o de dignidades,
Vieira tudo recusou, e disse que a sua roupeta de jesuíta importava tanto como
o chapéu cardinalício, ou o báculo de príncipe da igreja. Levou a tal ponto o
seu amor por essa roupeta, que é fato provado ter usado de uma capa a longo
espaço deli anos; que deixou violentado. Era a pobreza religiosa em todo o seu
brilho...
Não se
rejeitou as dignidades que lhe ofereceram os príncipes mencionados, como também
recusou a dádiva de 25 mil cruzados que el-rei D. João IV lhe mandou dar em
Paris para comprar livros; e a Ilha Terceira em prêmio de apatrocinar num grave
negócio, lhe ofereceu uma quantia avultada que recusou também.
Como era de
supor, as suas virtudes e o seu talento deveriam contribuir para que a inveja e
ódio fossem despertados. Afrontou ele com calma e retribuiu aquela com
benefícios.
Acusado em
vários tribunais; soube defender-se; conservando sempre uma tranquilidade de
espírito nunca desmentida durante quarenta e tantos anos de contínuas
privações.
Foi a Bahia
que ele escolheu para passar os poucos anos que lhe restavam de existência.
Retirado a
uma quinta nos arrabaldes da mesma cidade, ocupou-se em aprontar as suas obras
para a impressão, por ordem do seu geral que lhe pediu também que completasse o
livro intitulado — Clavis prophetarum...
Pouco terei a acrescentar à biografia do padre Antônio Vieira; com tudo não
concluirei sem dizer alguma coisa mais sobre os seus últimos instantes, jamais
o abandonou, c quando as dores eram mais violentas — dizia — Dominm est: quod bonum est in oculis suis
faciat. Enfim o padre Antônio Vieira depois de receber os santos
Sacramentos, expirou a uma hora da noite de 18 de julho de 1697; tendo de idade
89 anos 5 meses e 9 dias e de religião 74—2 meses e 13 dias!... Foram 74 anos
no serviço de Deus e no aumento da sua doutrina. Também o nome do padre Antônio
Vieira será sempre pronunciado com respeito e admiração; e as suas obras contribuíram
para que jamais o esqueçamos...
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